Correio de Carajás

Voz brasileira de Super-Homem e Buzz Lightyear revela curiosidades sobre dublagem de filmes e séries

Voz brasileira de Super-Homem e Buzz Lightyear revela curiosidades sobre dublagem de filmes e séries

Guilherme Briggs é um artista que pode passar despercebido em uma multidão, mas, se abrir a boca, muita gente vai reconhecê-lo. Afinal, a voz dele é a mesma de Super-Homem, Buzz Lightyear, Rei Julien e dezenas de personagens que marcaram gerações desde 1991, quando ele começou a trabalhar com dublagem.

O dublador, que esteve em Ribeirão Preto (SP) no sábado (9) para participar da InterComic, uma feira de cultura geek, revelou  seis curiosidades sobre como filmes e séries são dublados:

1.Disputa por papel

Atores famosos normalmente são dublados pela mesma pessoa em todos os filmes e séries em que aparecem. No entanto, para encontrar uma voz brasileira de atores que estão estreando, pelo menos três dubladores são chamados para fazer testes, que são entregues para a distribuidora. O processo é conduzido pelo diretor de dublagem.

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“O diretor escolhe, de acordo com o tipo de voz, qual dublador vai conseguir fazer bem aquele personagem ou aquele ator, [decide se] quem já dublou aquele determinado ator vai retornar ou [se vai] escolher uma pessoa nova”, explica Briggs.

Para os personagens que têm poucas falas, o diretor tem liberdade para escalar sem aplicar testes. Isso também costuma ocorrer quando celebridades que não são profissionais de dublagem são convidadas para o trabalho.

O dublador Guilherme Briggs, que emprestou a voz a Super-Homem, Buzz Lightyear e Rei Julien — Foto: Guilherme Briggs/Arquivo pessoal
O dublador Guilherme Briggs, que emprestou a voz a Super-Homem, Buzz Lightyear e Rei Julien — Foto: Guilherme Briggs/Arquivo pessoal

2.Dubladores não assistem ao filme ou à série antes das gravações

O resultado dos testes de voz às vezes demora para sair e o dublador pode ser contratado com menos de 24h de antecedência. Isso não interfere na preparação para o trabalho, já que ele não pode assistir ao filme ou à série antes das gravações.

Para garantir a confidencialidade da produção, o dublador assiste somente às cenas em que seu personagem aparece, à medida que grava os diálogos. Para se preparar, ele conta com a ajuda do diretor de dublagem, que tem acesso ao roteiro e ao filme completo.

“O diretor conta a história do personagem. Cada cena é explicada e, se tiver dúvida, [o dublador] pode perguntar. Se for uma série que já passou e vai ser redublada, ele assiste em casa. Mas geralmente você só vai saber o que vai gravar no estúdio”, conta Briggs.

Guilherme Briggs empresta a voz para Super-Homem — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal
Guilherme Briggs empresta a voz para Super-Homem — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal

3.Versões diferentes do mesmo filme

Filmes começam a ser dublados meses antes de estrear. Isso ocorre porque o diretor envia versões diferentes conforme trabalha na edição. É trabalho do diretor verificar as falas que foram cortadas e as que foram adicionadas para avaliar se é necessário chamar o dublador de volta ao estúdio.

“Um filme como ‘Transformers’ teve dez versões. Você começa a trabalhar na [versão] preliminar dois ou três, aí chega a quatro e tem que rever. Conforme o diretor edita, ele vai mandando para não perder tempo e já irmos gravando. É uma produção milionária, então é compreensível que o diretor use até os últimos dias antes da estreia para trabalhar. A gente tem que ficar de prontidão”, diz Briggs.

Às vezes, algumas produções também precisam ser refeitas anos depois de ter estreado nos cinemas. Isso é feito para melhorar a qualidade do som ou para retirada de palavrões para exibição em um canal de televisão aberta, por exemplo.

O dublador Guilherme Briggs, que emprestou a voz a Super-Homem, Buzz Lightyear e Rei Julien — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal
O dublador Guilherme Briggs, que emprestou a voz a Super-Homem, Buzz Lightyear e Rei Julien — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal

4.Dubladores precisam saber até latir

Com o avanço da tecnologia, as falas e os efeitos sonoros chegam aos estúdios brasileiros em arquivos diferentes. Com isso, os dubladores precisam se preocupar só com as falas. Mas nem sempre foi assim. Antes, eles precisavam recriar até o barulho de passos, da batida de uma porta ou do latido de um cachorro.

“São vários canais que têm reações, latidos, som de uma cidade, de uma floresta, a música, até pigarros dos personagens, estalar de boca, de língua, e você pode reutilizar isso [na versão brasileira]”, explica Briggs.

Guilherme Briggs empresta a voz para Spock, de "Star Trek" — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal
Guilherme Briggs empresta a voz para Spock, de “Star Trek” — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal

5.Filmes demoram mais que séries

O tempo de gravação de uma dublagem varia de acordo com a dificuldade do personagem e a experiência do dublador, mas os profissionais costumam ter mais tempo para trabalhar quando a produção será exibida em cinemas. Isso não significa, no entanto, que filmes são mais difíceis de dublar do que séries.

“Você pode ter um desenho infantil dificílimo, por conta da rapidez das falas dos personagens, ou pode ter um filme dificílimo de época, por conta de diálogos rebuscados e de atores muito ricos que você precisa de um tempo maior [para dublar], então varia”, diz Briggs, que já trabalhou em projetos que exigiram 25 horas de gravação, como “O Grinch”, de Jim Carrey.

O dublador Guilherme Briggs, que emprestou a voz a Super-Homem, Buzz Lightyear e Rei Julien — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal
O dublador Guilherme Briggs, que emprestou a voz a Super-Homem, Buzz Lightyear e Rei Julien — Foto: Guilherme Briggs/Acervo pessoal

6.Uso de palavrões é permitido

O diretor de dublagem pode adaptar os diálogos para a realidade brasileira, trocando uma piada que só funciona no inglês, por exemplo, por uma gíria brasileira. Mas é preciso ter cuidado: não é permitido, por exemplo, usar uma gíria brasileira atual em um filme que se passa na Europa durante a Idade Média. Essa liberdade também vale para os palavrões.

“Antigamente tinha muita resistência [a palavrões]. É compreensível, [por ser] para televisão aberta, mas, com a TV a cabo e o streaming, podemos falar palavrões como falamos no dia a dia. Todos entendem perfeitamente que é necessário você ter naturalidade: se tem um palavrão no original, vai ser dito também na versão brasileira”, explica Briggs. (Fonte:G1)