A hora do parto deve ser um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher que está prestes a ganhar bebê. Contudo, existe um número muito grande de mulheres que talvez não queiram reviver essas lembranças.
A violência obstétrica é praticada por profissionais da saúde contra a mulher, que pode ser caracterizada através do desrespeito, abuso e maus-tratos, sejam físicos ou psicológicos, durante a gestação, parto ou no pós-parto.
Após vivenciar uma experiência desumana durante o parto do segundo filho, Heidiane Moreno, bateu o martelo sobre o tema de sua dissertação de mestrado. “Tive um parto normal, sem intercorrências. Mas na hora de suturar, o médico fez o procedimento sem anestesia. Depois, já no quarto, comecei a ouvir gritos de um pai que tinha perdido o filho. ‘Vocês mataram meu filho. O que aconteceu com ele?’ E todas nós, quatro mulheres que estávamos ali recém paridas, acordamos ouvindo aqueles gritos. Aquilo me tirou o sono, e fiquei a pensar o que poderia ser feito para ajudar essas famílias que utilizam a maternidade pública no sudeste do Pará”, relembra.
Leia mais:Nesse momento, Heidiane já estava no mestrado, mas não havia definido o tema. Foi então que decidiu trabalhar com violência obstétrica, assunto pouco debatido e pouco conhecido.
“A violência obstétrica pode ocorrer desde frases ditas por profissionais de saúde no pré-parto, parto e pós-parto, como: ‘na hora de fazer você não gritou e agora está achando ruim’; ‘cala a boca que você vai parir’; ‘fica quieta, você não pode gritar’; até violências físicas, como empurrar a barriga, fazer episiotomia – que é um corte feito da vagina ao ânus para a passagem rápida da criança – e quando ela é feita de rotina, sem necessidade”, exemplifica Heidiane.
De acordo com ela, atualmente existe no Brasil uma cartilha de parto humanizado, dentro da Rede Cegonha do Ministério da Saúde, que indica as diretrizes para realizar um parto humanizado. “Existe também o Humaniza SUS, que promove cursos aos profissionais de saúde sobre humanizar o parto e o nascimento no Brasil”.
Sem legislação federal, estadual ou municipal específica sobre violência obstétrica, no país existe apenas a Lei nº 11.108, de 2005, que garante às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do SUS.
“Infelizmente, temos muitas maternidades que não aceitam acompanhantes, e aí a gestante tem de provocar na Justiça esse direito. Aqui em Marabá temos uma Ação Civil Pública, da Defensoria Pública, que garante esse direito às gestantes, com multa no valor de R$ 15 mil para os hospitais e maternidades que não aceitem o acompanhante”, ressalta Heidiane.
Sobre a violência obstétrica, a professora explica que a mulher que se sentir desrespeitada, maltratada ou lesionada, deve registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil.
“O objetivo da minha dissertação é levar conhecimento para a maior parte da população. Abrir caminhos para que outras áreas da saúde, ciências sociais, se interessem pela temática e pesquisem sobre o assunto. É um tema novo, principalmente na nossa região, que é a primeira vez que registra um trabalho acadêmico sobre o assunto. É importante, interessante e necessário que o assunto atinja todas as mulheres”, diz Heidiane.
Audiência Pública
Na próxima quinta-feira, 10, movimentos sociais, associações, coletivos de mulheres e sindicatos irão participar de uma audiência pública na Câmara Municipal de Marabá, presidida pelo vereador Ilker Moraes, para falar sobre violência obstétrica.
“A intenção é levar a temática ao público e discutir como podemos avançar e melhorar, no sentido de as mulheres terem o direito a um parto e um nascimento com dignidade e humanizado em Marabá”, finaliza Heidiane. (Ana Mangas e Chagas Filho)