A vigorexia é um transtorno dismórfico muscular, um subtipo do transtorno dismórfico corporal, que leva a pessoa a ter uma autoimagem diferente do corpo real. É a obsessão por um corpo musculoso e atlético, o que leva a pessoa a dedicar grande parte do seu tempo e recursos financeiros para atividades físicas e dietas rigorosas, além do uso de esteroides anabolizantes e outras substâncias para aumentar a massa muscular. A autoimagem distorcida conduz à prática excessiva de exercícios físicos, o que torna a vigorexia também um transtorno obsessivo compulsivo. Ela passa horas e horas em academias fazendo musculação e está insatisfeita com o corpo. Independentemente de estar musculosa, se vê fraca, magra e sem músculos.
– Eu sofria de vigorexia, mas agora estou encantado com meu corpo. Não é perfeito, mas é meu templo e a minha ferramenta – contou o ator Miguel Herrán, intérprete do personagem Rio, da série La Casa de Papel, em uma entrevista à revista Men’s Health.
A fisiculturista Andreia Tokutake comenta que o transtorno vem se alastrando entre homens e mulheres que treinam sem a orientação de um especialista.
Leia mais:– Como muitas pessoas querem construir o famoso ‘corpo de Instagram’ a qualquer custo, elas acabam perdendo a mão na dieta e nos treinos, colocando em risco a saúde. Além disso, muitos fazem uso desmedido dos esteroides. Tudo isso, sem o descanso necessário, faz com que o corpo passe a dar sinais de esgotamento – comenta Andreia.
Causas
Por ser uma condição psicológica, essa autoimagem irreal dos músculos não tem somente um motivo, e as causas ainda não são completamente compreendidas. Ela pode ocorrer por conta de um fator ou de uma combinação deles, sejam biológicos, psicológicos e sociais, como explica a psicóloga Rejane Sbrissa e o personal trainer Roberto Lima. Entre esses fatores estão:
- Pressão para se encaixar nos padrões estéticos. Ou seja, ter barriga tanquinho, braços e pernas musculosos;
- A baixa autoestima. E isso pode acontecer em qualquer fase da vida;
- Ter sofrido bullying quando criança, na fase escolar. E isso se perpetua, impactando na forma como a pessoa se vê;
- Genética e/ou familiares com história de transtorno mental;
- Meio ambiente. Por exemplo, a pessoa precisa ser grande e forte para ter que sobressair e sobreviver;
- Pode ser associada a outros transtornos psicológicos, como a depressão, a ansiedade e a dismorfia corporal;
- Abuso de substâncias, como esteroides anabolizantes, que são usados para aumentar a massa muscular, mas podem ter efeitos colaterais graves para a saúde.
Sintomas
- Preocupação excessiva com a aparência física e com o corpo musculoso, mesmo que outras pessoas achem que a pessoa já está em boa forma física. Necessidade de estar constantemente se olhando no espelho;
- Prática de exercícios físicos de forma excessiva e constante, além do que é recomendado para a saúde, mesmo com dores musculares, fadiga e outros sintomas;
- Uso de esteroides anabolizantes e outras substâncias para aumentar a massa muscular, mesmo sabendo que essas substâncias podem ser perigosas;
- Obsessão com a dieta, a contagem de calorias e o consumo de proteínas: recusa em comer alimentos que não estejam de acordo com a dieta e medo de perder massa muscular;
- Distúrbios do sono, insônia ou alterações de humor;
- Ansiedade e baixa autoestima, acompanhadas de sentimentos de frustração, vergonha e culpa quando os objetivos estéticos não são atingidos;
- Abuso de substâncias como álcool, anfetaminas ou outras drogas, que podem ser usadas para aumentar o desempenho físico ou ajudar na perda ou no ganho de peso e massa muscular.
Como alerta o personal trainer Roberto Lima, esses sintomas podem ter um impacto negativo na saúde física e mental. E levar a problemas como lesões musculares, doenças cardíacas; distúrbios alimentares, depressão e ansiedade.
Infelizmente, os portadores buscam ou são levados a se tratar de forma tardia, quando já se encontram com complicações de saúde física e mental. Como é uma doença séria, pode causar sequelas, que podem variar em intensidade e gravidade, dependendo do grau de comprometimento da pessoa com o transtorno. O educador físico Roberto Lima listou as principais:
- Lesões musculares: o excesso de exercícios e a falta de descanso adequado podem levar a esse problema, além de tendinites e outras condições que podem afetar a mobilidade e a qualidade de vida da pessoa;
- Problemas cardíacos, como hipertensão, arritmias e infarto, devido ao excesso de esforço físico e ao uso de substâncias anabolizantes;
- Insuficiência renal e insuficiência hepática, pelo uso excessivo de testosterona e outros hormônios
- Em homens, diminuição do testículo e impotência sexual, também em função do uso dos hormônios;
- Desnutrição: a preocupação excessiva com a dieta e o foco em proteínas pode levar a uma dieta pobre em nutrientes, o que acarreta na desnutrição e outros problemas de saúde;
- Transtornos alimentares, que podem ter consequências graves para a saúde, como desnutrição, desidratação e distúrbios metabólicos;
- Problemas psicológicos. Depressão, ansiedade, irritabilidade, agressividade, distúrbios do sono, e baixa autoestima;
- Dependência de substâncias: o uso anabolizantes e outras drogas para melhorar o desempenho físico ou alcançar objetivos estéticos pode levar a dependência química, com consequências graves para a saúde e a vida da pessoa;
- Isolamento social: a preocupação excessiva com a aparência física e o treinamento constante podem levar a um isolamento social, com consequências para as relações pessoais e profissionais da pessoa.
A pessoa dificilmente percebe o problema. Ela não se vê exagerando nas atividades físicas, nem forte demais, fazendo exercícios em excesso ou tendo outros comportamentos, como o de comer somente proteínas e ficar muitas horas na academia.
– Ela acredita que está sendo saudável e que faz isso para alcançar um ideal de corpo, normalmente inalcançável. E fica difícil escutar alguém, pois ela tem argumentos contrários. Também demora para amigos e familiares perceberem que se trata de um comportamento compulsivo, pois as pessoas musculosas e tonificadas são admiradas, vistas como fortes e saudáveis – argumenta a psicóloga Rejane Sbrissa.
Diagnóstico
Muitos vigoréxicos não se percebem doentes e aqueles que percebem fazem de tudo para esconder. É comum também que a pessoa acredite que nunca está em forma o suficiente e que precisa continuar se exercitando e seguindo dietas rigorosas para alcançar seus objetivos estéticos.
– Porém, se outras pessoas ao redor começam a se preocupar com a saúde da pessoa ou se há sinais físicos ou psicológicos de que algo não está certo, é importante buscar ajuda profissional. Por exemplo, se a pessoa está sempre cansada, irritada, com lesões musculares ou alterações alimentares, isso pode indicar que ela está exagerando na prática de exercícios e na busca por um corpo perfeito – sinaliza o personal trainer Roberto Lima.
Vale lembrar: amigos, familiares e profissionais de saúde podem estar atentos aos sinais da vigorexia e oferecer ajuda e apoio à pessoa, caso percebam que ela está sofrendo com esse transtorno.
Tratamentos
Como é uma doença que tem vários fatores, precisa ser analisada por uma equipe multidisciplinar, entre eles, nutricionista, preparador físico, psicólogo e psiquiatra.
– A psicoterapia cognitiva é a mais indicada para o paciente identificar as distorções de comportamento e restaurar a autoestima, a autoimagem e a autoconfiança – garante a psicóloga Rejane Sbrissa.
Além de controlar os sintomas obsessivos compulsivos, normalmente, se associa a terapia a medicamentos psiquiátricos para depressão e ansiedade, o que faz com que a pessoa que sofre esse tipo de transtorno aceite melhor o tratamento, pois o receio do paciente é que ele seja forçado a largar os anabolizantes e os exercícios e, assim, fique frágil e sem músculos.
Outro ponto importante é a mudança dos hábitos comportamentais e alimentares.
- Deixar de se alimentar somente com proteínas e ter uma dieta saudável, feita por nutricionista, com todos os nutrientes que o corpo precisa;
- Voltar à convivência social e familiar, como ir a festas, passeios e voltar a fazer outras coisas, que não seja somente exercício físico;
- Não usar anabolizantes;
- Ter uma noite de sono com qualidade;
- Questionar os padrões de beleza também faz parte dessa mudança.
– Além disso, não é necessário parar totalmente com a realização dos exercícios, mas sim reduzir a carga, voltando para o que é recomendado pelos especialistas. Após a recuperação, precisa ter um médico para fazer o acompanhamento do processo – sugere a fisiculturista Andreia Tokutake.
Vigorexia x Transtornos alimentares
Tem ligação direta e se assemelha muito à anorexia e à bulimia, por conta da dismorfia corporal, uma vez que a autoimagem é distorcida e leva a comportamentos compulsivos.
– Os objetivos são diferentes. A anorexia busca a magreza e a bulimia busca, além de emagrecer, não engordar. Ambas condições também levam as pessoas a abusarem dos exercícios físicos com objetivo de um corpo ideal. Em todos os casos, os hábitos se tornam cada vez mais extremos como dietas rigorosas e específicas. Não importa o que façam, não se veem com a imagem real. Todos têm em comum a depressão e a ansiedade, só não se sabe como isso acontece. Se a depressão leva à vigorexia, anorexia e bulimia ou o contrário, ou seja, se adquirem após já terem o transtorno – expõe a psicóloga Rejane Sbrissa.
Vigorexia x Overtraining
Embora a vigorexia possa levar a práticas de overtraining, os dois conceitos são diferentes, mas ambos podem ter efeitos negativos na saúde física e mental e requerem cuidados médicos adequados.
– O overtraining é um estado físico que ocorre quando uma pessoa se exercita de forma excessiva sem dar tempo suficiente para o corpo se recuperar adequadamente. Ocorre quando o organismo é submetido a um estresse excessivo por meio do exercício, levando a fadiga crônica, dores musculares, diminuição do desempenho físico e outros sintomas – declara o personal trainer Roberto Lima.
Na busca obsessiva pelos músculos, o paciente pode exagerar nos treinos e ter sintomas de overtraining.
Vigorexia x Dismorfia Corporal
A dismorfia corporal é um transtorno psicológico que se caracteriza por uma preocupação excessiva com uma suposta imperfeição ou defeito no corpo, mesmo que essa preocupação seja irreal ou exagerada. Nessa condição, a pessoa pode se sentir feia, desproporcional ou fora dos padrões estéticos, levando a comportamentos compulsivos para corrigir essa suposta imperfeição.
Embora a vigorexia e a dismorfia corporal tenham em comum a preocupação excessiva com a aparência física, a vigorexia se concentra especificamente na busca por um corpo muscular e atlético, enquanto a dismorfia corporal pode envolver preocupações com outras partes do corpo, como o rosto ou o cabelo.
Além disso, a vigorexia é mais comum em homens, enquanto a dismorfia corporal é mais comum em mulheres, embora os dois possam acontecer com homens e mulheres. Ambos os transtornos podem levar a complicações físicas e psicológicas graves.
Vale lembrar: a vigorexia é um transtorno complexo e multifatorial, e cada caso é único. Por isso, é fundamental buscar ajuda médica e psicológica especializada para avaliar os fatores de risco individuais e definir um tratamento adequado.
(Fonte:G1/Ana Marigliani)