- Falso
- É falso que o governo da Bahia esteja “estragando” o serviço feito pelo Exército na BR-242, em Baianópolis, na Bahia. Vídeo publicado no TikTok mostra trabalho de manutenção, sob responsabilidade do governo federal.
- Conteúdo verificado: Vídeo publicado no TikTok mostra uma estrada na Bahia com homens trabalhando e frisos no asfalto, enquanto duas pessoas que fazem a filmagem xingam o governador Rui Costa (PT). Um texto no vídeo diz que o petista quer atrapalhar o presidente Jair Bolsonaro.
Um vídeo em que dois homens trafegam por uma rodovia federal que corta a Bahia viralizou nas redes na última semana. De dentro de um carro, a dupla, que não mostra o rosto, faz uma série de xingamentos ao governador da Bahia, Rui Costa (PT), e o acusa de estragar uma obra feita pelo Exército com o objetivo de prejudicar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O conteúdo, postado no TikTok e compartilhado em grupos de WhatsApp, é falso.
Nas imagens, é possível observar homens trabalhando na pista com uniformes laranja, enquanto o asfalto tem marcas de uma intervenção chamada de fresagem – processo de retirada de partes do asfalto feito não para estragar o pavimento, mas como uma etapa do trabalho de recapeamento.
O vídeo foi feito no km 748 da rodovia federal BR-242, próximo ao acesso à cidade de Baianópolis, no oeste da Bahia.
Leia mais:Ao contrário do que os homens dizem, o serviço de fresagem na BR-242 não está sendo feito pelo governo da Bahia, e, sim, pelo governo federal, por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT). Rodovias federais, como é o caso da BR-242, são de responsabilidade do governo federal e não passam por intervenções dos governos dos estados.
O Comprova tentou entrar em contato com o perfil @jairinho73, responsável pela publicação no TikTok, mas não obteve resposta e o vídeo foi retirado do ar. Logo em seguida, foi repostado.
Este conteúdo foi classificado como falso por ter sido inventado para espalhar uma mentira.
Como verificamos?
O primeiro passo foi assistir ao vídeo e tentar identificar onde as imagens tinham sido feitas. Os dois homens que falam na gravação mencionam a BR-242 e Baianópolis. O município não é cortado diretamente pela BR-242, mas há dois acessos possíveis à rodovia federal a partir dele: um de 16 km pela BA-430, que leva até a BR-242 na altura do município vizinho de Cristópolis, e, outro, de 63 quilômetros, pela BA-464, que leva até a BR-242, mais próximo da cidade de Barreiras.
O passo seguinte foi tentar identificar, no Google Maps, se as imagens tinham mesmo sido feitas nesse local. Aos 29 segundos do vídeo, é possível ver um homem trabalhando na pista com uma farda laranja e, ao fundo, duas placas: uma que parecia indicar o quilômetro do trecho e, outra, maior, que poderia indicar a localização. Não foi possível ler o que a placa maior dizia, mas, na menor, conseguimos ver que aquele parecia ser o km 748.
Um pouco mais à frente foi possível identificar, além das duas placas, um elemento ao fundo que parecia ser uma ponte. Então, começamos a buscar por esses três elementos no trecho entre os acessos a Baianópolis pela BA-430 e pela BA-464:
Encontramos, então, os três elementos já próximos ao acesso a Baianópolis pela BA-464. A placa menor, de fato, indicava que aquele era o km 748 da rodovia BR-242. Já a placa maior mostrava que a entrada de Baianópolis ficava a 500 metros dali. Ao fundo, é possível ver o mesmo elemento que aparenta ser uma ponte ou viaduto, além de um poste próximo às placas e vegetação parecida.
A captura das imagens pelo Google Maps foi feita em fevereiro de 2019. Na época, este trecho em específico não passava por obras. No entanto, seguindo um pouco mais ao longo da rodovia até a entrada de Baianópolis, há uma placa do DNIT indicando que um trecho de 252 quilômetros de extensão naquela mesma rodovia estava passando por intervenções.
Em seguida, buscamos por menções a obras na BR-242, na altura de Baianópolis, nos sites do DNIT, do Exército – mencionado no vídeo pelos dois homens – e da Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra).
Localizamos o resultado de um edital para recuperação daquele trecho no site do DNIT, que indicava a empresa Paviservice como vencedora. Entramos em contato, então, com a empresa, o DNIT, o Exército e a Seinfra, a fim de averiguar quem fazia obras naquele local. Também contatamos o governador da Bahia, Rui Costa, e o secretário estadual de Infraestrutura, Marcus Cavalcanti.
Por fim, buscamos sites de notícias e moradores da região de Baianópolis que pudessem indicar se aquele trecho está em obras atualmente, o engenheiro civil Geraldo Figueiredo, que atua no ramo de estradas, para que pudesse explicar o trabalho que é mostrado no vídeo e, por fim, o responsável pelo post no TikTok.
Verificação
Trecho em obras
O vídeo verificado é curto, tem menos de um minuto, mas é possível identificar que, na narração, dois homens afirmam estar passando pela BR-242, próximo à cidade de Baianópolis. Eles dizem que o governador da Bahia, Rui Costa, está estragando uma obra na rodovia feita pelo Exército para prejudicar Bolsonaro.
As imagens são feitas na altura do km 748 na BR-242, já bem perto de Baianópolis, vizinha do município de Barreiras. A rodovia é conhecida pelo tráfego intenso de caminhões, já que é por lá que é escoada boa parte da produção de grãos do Oeste da Bahia, como soja e milho, além de café e algodão.
No ano passado, produtores de algodão da Bahia pediram ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, por melhorias nas rodovias, que são o único modal para escoamento da safra.
A reportagem tentou contato com dois postos de combustíveis que ficam próximos ao trecho mostrado no vídeo para verificar se o local está em obras atualmente, mas não foi possível completar as ligações. Contudo, o editor de um portal de notícias da região, o Mais Oeste, Roberto de Sena, confirmou que havia intervenções recentes na região.
Obras são feitas pelo DNIT
Procurada, a Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra), responsável por obras em rodovias estaduais, negou que estivesse executando qualquer intervenção no local. Em nota enviada pelo WhatsApp, a assessoria de comunicação disse que o trecho é de responsabilidade do DNIT.
O secretário de Infraestrutura da Bahia, Marcus Cavalcanti, reiterou que o governo estadual não está fazendo nenhuma obra na BR-242, mas indicou que a rodovia está precisando de manutenção no trecho entre Lençóis e Paraguaçu. “Não temos nenhuma ligação com a BR-242. É um duplo desconhecimento: primeiro, por imputar culpa a alguém que não está envolvido; e o outro fator é o desconhecimento técnico”, afirmou.
Acusado de “estragar” o asfalto, Rui Costa classificou como “hilária” a publicação. E acrescentou: “Infelizmente, é falta de vergonha na cara de quem não conserta as estradas e depois vem acusar os outros. As estradas que ligam a Bahia estão todas sem manutenção, esburacadas. A gente não tem como destruir a estrada, é um tráfego violento. A BR-242 liga o Centro-Oeste com a Bahia”, disse, em entrevista à reportagem.
Em nota, o DNIT informou que é o órgão federal que está fazendo intervenções no trecho: “O DNIT, atualmente, conta com contrato de manutenção vigente na BR-242/BA, no segmento de Baianópolis – passando por Ibotirama – até Beira Rio. No trecho com extensão de 240 quilômetros, estão em execução serviços de fresagem do pavimento para que, conforme projeto de engenharia, a empresa responsável pelas obras realize a aplicação de microrrevestimento asfáltico”, diz nota enviada por e-mail.
O Comprova entrou em contato com a Paviservice, com sede na cidade de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, a fim de esclarecer se era a empresa que fazia intervenções no local. Depois de assistir ao vídeo, o gerente jurídico da companhia, Everaldo Santana, antecipou que o fardamento usado por um operário não era o mesmo da empresa. Mesmo assim, ele encaminhou as informações ao setor de licitações da Paviservice, que afirmou não ser a responsável pelas intervenções naquela quilometragem.
A fresagem que aparece no vídeo não está “estragando” o pavimento. Consultado pelo Comprova, o engenheiro civil Geraldo Figueiredo, que atua na área rodoviária há 40 anos, explicou que esse tipo de ação é especialmente necessária quando a extensão dos danos ao pavimento antigo é muito grande.
“Esse trabalho é uma operação corriqueira em obras de restauração de pavimentos”, ressaltou.
Uma postagem no site da DVS, empresa de São Paulo especializada em serviços de fresagem, ainda explica que esse trabalho, que pode ter diferentes características, é importante para, no recapeamento de vias, manter o alinhamento da pista e executar remendos sem desnível, por exemplo. Este vídeo de 2015, disponível no YouTube, mostra um trabalho de fresagem sendo realizado.
O Exército fez o asfalto?
No vídeo compartilhado no TikTok, uma legenda acompanha as imagens, afirmando que o asfalto anterior havia sido feito pelo Exército. O Comprova também entrou em contato com o Departamento de Obras Militares (DOM) e com o setor de comunicação social do Exército. Por e-mail, a Divisão de Relações com a Mídia informou que não foi possível analisar o conteúdo do vídeo e afirmar com precisão se as obras naquele trecho haviam sido executadas pelos militares.
Contudo, o Exército afirmou já ter feito obras na rodovia BR-242, ao longo do trecho entre o km 794,6 e o km 803,4 – ou seja, fora do trecho mostrado nas imagens. As obras do Exército foram de manutenção e conservação do asfalto e foram executadas pelo 4º Batalhão de Engenharia de Construção, sediado na cidade de Barreiras.
Ainda segundo o Exército, no atual governo, o Departamento de Engenharia e Construção atua nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Maranhão, Pernambuco, Rondônia, Roraima, Acre, Pará, Amapá, Amazonas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
“Encontra-se em andamento no Estado da Bahia a execução de obras remanescentes de um trecho da Ferrovia de Integração Oeste Leste – FIOL, compreendido entre Ilhéus/BA e Barreiras/BA, sub-trecho Caetité-BA e Barreiras-BA – Lote 6, executada pelo 4º Batalhão de Engenharia da Construção”, diz o Exército, em nota.
Vídeo apagado
Durante a tarde de 8 de setembro, o Comprova identificou que a publicação do TikTok foi retirada do ar pelo autor do post. O movimento ocorreu depois de o projeto de checagem ter entrado em contato com o @jairinho73 por meio de um comentário no vídeo, pedindo que ele entrasse em contato.
Ele não respondeu o comentário e, no dia seguinte, postou novamente o vídeo – desta vez, acrescentando outra legenda na imagem: “será possível isso, mandaram da Bahia pra mim, comente aí”.
O primeiro vídeo tinha mais de 800 mil visualizações quando foi apagado. O segundo havia sido visto quase 2.500 vezes até a tarde desta terça-feira (14).
Na rede social, o perfil tem mais de 4,6 mil seguidores e faz uma série de postagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, inclusive durante as manifestações do dia 7 de setembro na Avenida Paulista, em São Paulo.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. Como informado acima, o vídeo verificado aqui teve mais de 800 mil visualizações até 6 de setembro, quando foi deletado.
Com a proximidade das eleições do próximo ano, tem aumentado a circulação de informações falsas construídas para atacar a imagem de figuras políticas, como é o caso do governador. Postagens desta natureza podem comprometer a avaliação dos eleitores no momento de decidir por um candidato.
Recentemente, o Comprova compartilhou que é falsa a publicação que afirma ser montagem uma foto de manifestantes bolsonaristas ao lado de um morador de rua para atacar o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 33 diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.