- Enganoso
- É enganoso vídeo em que um homem afirma que o Partido dos Trabalhadores (PT) proibiu o plantio de soja em Mato Grosso até dezembro. Na verdade, o diretório estadual do partido propôs uma ação na Justiça para manter o período de plantio de setembro até o fim do ano, em vez de estender até fevereiro de 2023, com a alegada motivação de evitar a proliferação da praga “ferrugem asiática”, comum a essa cultura. Também não é verdade que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) vai fiscalizar o agronegócio.
Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo em que um homem afirma que o PT ingressou com uma ação na Justiça para proibir o plantio de soja em Mato Grosso até dezembro. Na verdade, o diretório estadual do partido solicitou judicialmente que fosse mantido o prazo de semeadura do grão de setembro até o fim do ano, a exemplo do que era adotado em plantios anteriores, até a safra 2020/2021, em vez de estender para fevereiro, como proposto pelo Ministério da Agricultura e com anuência do governo do estado.
A argumentação do partido na ação foi de que a extensão do prazo deixaria as plantações de soja mais suscetíveis à praga conhecida como “ferrugem asiática”, comum a esse tipo de cultura. Embora não haja consenso na área técnica sobre o risco numa janela mais longa de semeadura, a Justiça acatou, no dia 8 de setembro, o pedido de liminar (decisão provisória) da ação proposta pelo PT.
Leia mais:No vídeo, o autor também afirma que Lula, candidato à presidência da República, teria dito que, se eleito, colocaria o MST para fiscalizar o agronegócio. A assessoria do ex-presidente nega que ele tenha declarado que vai entregar o controle do agronegócio para o movimento.
Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: Até o dia 22 de setembro, o vídeo contava com mais de 192 mil visualizações, 21,2 mil curtidas, 1,7 mil comentários e foi compartilhado para o WhatsApp 9,8 mil vezes. Este conteúdo foi enviado ao Comprova por leitores por meio do nosso número de WhatsApp, o (11) 97045-4984.
O que diz o autor da publicação: O TikTok não permite envio de mensagens privadas entre usuários que não se seguem mutuamente. Não encontramos em outras redes sociais perfis com a mesma identificação.
Como verificamos: Primeiramente, o Comprova fez buscas no Google com as palavras-chaves “PT” + “soja” + “Mato Grosso” e a consulta retornou uma reportagem do jornal Valor sobre o assunto.
A pesquisa também levou a equipe até as publicações do Ministério da Agricultura e do governo de Mato Grosso que autorizavam a ampliação do prazo de plantio da soja no estado.
A reportagem ainda procurou indicadores sobre a participação do agronegócio no PIB brasileiro e localizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Cepea.
O Comprova procurou a assessoria de Lula, que negou as declarações atribuídas ao ex-presidente. Ainda foram procurados o governo de Mato Grosso e o diretório do PT no estado, mas não houve retorno até o fechamento da verificação. Não foi possível o contato com o autor do vídeo.
Não há proibição de plantio em Mato Grosso
É enganoso que o PT tenha impedido o plantio de soja em Mato Grosso. Uma ação liminar, impetrada pelo partido junto à Justiça daquele estado, solicitou a suspensão do novo calendário de plantio para a safra 2022/2023, criado a partir de decisão conjunta entre o governo estadual e o Ministério da Agricultura. Ao contrário do que diz o autor do vídeo, segundo o qual a semeadura estaria proibida de agora até o fim do ano, o plantio fica autorizado especialmente neste prazo – 16 de setembro a 31 de dezembro –, e não mais estendido até 3 de fevereiro de 2023, como previu inicialmente a Portaria nº 607, do Ministério da Agricultura.
A liminar, deferida pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso em 8 de setembro, considera inconstitucional a Instrução Normativa Conjunta SEDEC/INDEA N. 02/2021, que estabelece o intervalo de 16 de setembro a 3 de fevereiro para o plantio, aumentando o período em 34 dias. O período de setembro a dezembro era o usual até a safra 2020/2021. A íntegra da decisão não havia sido divulgada até a publicação desta investigação. A ação argumenta que o alongamento da janela de plantio de soja reduz o vazio sanitário – período em que é proibido manter plantas vivas no campo – e aumenta a resistência do fungo causador da ferrugem asiática aos agrotóxicos existentes.
Conforme reportagem do Valor, o alargamento do prazo de semeadura atendeu a um pedido da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) e a uma bandeira específica de seu ex-presidente, Antônio Galvan. Apoiador de Bolsonaro, ele se licenciou do comando da entidade máxima dos sojicultores para se candidatar ao Senado pelo PTB.
A publicação aponta também que não há consenso técnico sobre o período ideal para o plantio da soja em Mato Grosso. Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, a janela mais curta, até 31 de dezembro, ajuda a evitar casos de ferrugem asiática, principal doença da cultura, ou que o fungo se torne mais resistente aos agrotóxicos existentes no mercado.
Após a decisão judicial, entidades que representam produtores da região divulgaram uma carta conjunta criticando o pedido do PT e o posicionamento da Justiça.
MST não vai fiscalizar o agronegócio
No vídeo, o autor também afirma que o ex-presidente Lula teria declarado que, se eleito, vai colocar o MST para fiscalizar o agronegócio. Entretanto, não há registros de declarações do petista sobre o movimento social nesse contexto e a alegação também é refutada por sua equipe.
“Lula nunca se manifestou sobre esse assunto. A decisão da justiça sobre o tema segue a orientação da ciência para proteger a própria produção da praga da ferrugem asiática. Jamais disse que o MST iria fiscalizar o agronegócio”, informou a assessoria.
Setor de serviços tem participação superior ao agronegócio no PIB do Brasil
No vídeo investigado, o autor também exalta o agronegócio, declarando que o segmento é a maior riqueza do Brasil. De acordo com cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), a produção representou 27,4% do Produto Interno Bruto (PIB) – soma de todos os bens do país – em 2021. Esse indicador, porém, é alvo de críticas de alguns especialistas, conforme aponta reportagem da Piauí, por considerarem uma estimativa inflada.
Indicadores do IBGE, no entanto, revelam uma retração do setor no mesmo período e ainda apontam que a maior fatia do PIB brasileiro é do setor de serviços, quase 10 vezes superior ao agro.
A retração registrada foi de 0,2%, enquanto o setor de serviços cresceu 4,7%, seguido pela indústria, com aumento de 4,5%. Os dados vão de encontro a mais uma desinformação divulgada no vídeo investigado, segundo a qual o setor seria o de maior crescimento no país.
O PIB brasileiro alcançou o total de R$ 8,7 trilhões em 2021, de acordo com o IBGE. Deste total, somente R$ 598,1 bilhões dizem respeito ao agronegócio – o que equivale a 6,87%. Conforme tabela abaixo, o total do PIB considera ainda a indústria, que tem participação de R$ 1,6 trilhão, e o setor de serviços, que em 2021 fechou com participação de R$ 5,2 trilhões. O total geral considera também valores de impostos.
| IBGE – Tabela PIB Brasil 2021 – Participação dos setores
Mato Grosso é o maior produtor de soja no Brasil
O estado de Mato Grosso, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é o maior produtor de soja do Brasil. O 12º Levantamento da Safra 2021/2022, publicado em agosto, calcula produção colhida de 41.490,2 milhões de toneladas, combinação da área plantada recorde, de 11.108,5 mil hectares, com rendimento médio de 3.735 kg/ha. Desta forma, segundo o relatório, o Mato Grosso obteve aumento de 13,6% em sua produção, respondendo por 33% da produção brasileira. No vídeo investigado, o autor aponta o estado como responsável por 25% da produção.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. O vídeo investigado tira de contexto diversas informações, e alimenta distorções que podem interferir negativamente no processo de escolha de candidatos por eleitores que irão às urnas em 2 de outubro no Brasil.A escolha de candidatos deve estar pautada em informações verdadeiras.
Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova também investigou que retirada de produtores de arroz de terras indígenas não foi determinação de Lula, que o petista não defendeu o nazismo e o fascismo em evento do PT, que vídeo engana ao negar orçamento secreto e descontextualizar alta de preços no Brasil e que é enganoso conteúdo que associa preço da carne a suposto monopólio da JBS e complô com o PT.
Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 41 diferentes veículos de comunicação brasileiros para investigar conteúdos enganosos, inventados e deliberadamente falsos sobre políticas públicas, eleições e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.