Correio de Carajás

Veja como foram os 50 dias de buscas pelos dois fugitivos da penitenciária de segurança máxima

Operação de buscas mobilizou mais de 600 homens das forças de segurança. As buscas foram encerrados na semana passada. Eles foram presos em Marabá, no Pará. Fuga aconteceu no dia 14 de fevereiro e foi a primeira registrada no sistema prisional federal.

Após 50 dias, os dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, foram recapturados nesta quinta-feira (4), em Marabá, no Pará.

A prisão acontece quase uma semana após a Força Nacional ter encerrado as buscas pelos dois homens. Os agentes da Força Nacional deixaram o estado no sábado (30) depois de 45 dias de procura por eles.

Rogério Mendonça e Deibson Nascimento fugiram no dia 14 de fevereiro, quando abriram passagem por um buraco atrás de uma luminária do presídio. Eles cortaram duas cercas de arame usando ferramentas de uma obra que ocorria no local para escapar. Foi a primeira fuga na história do sistema penitenciário federal desde a criação em 2006.

Leia mais:

Veja, abaixo, a cronologia da fuga

 

As buscas envolveram helicópteros, drones, cães farejadores e outros equipamentos tecnológicos sofisticados, além de mais de 600 homens, incluindo a Força Nacional e equipes de elite da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

 Fugitivos de Mossoró são recapturados — Foto: Divulgação/PF
Fugitivos de Mossoró são recapturados — Foto: Divulgação/PF

As buscas se concentraram, desde o início, nas áreas rurais das cidades de Mossoró e Baraúna, cidades que são ligadas pela estrada RN-015, onde fica o presídio, e que ficam próximas à divisa com o Ceará.

Durante a fuga, Mendonça e Nascimento invadiram três casas, fizeram uma família refém. Segundo informações da investigação da Polícia Federal (PF), uma facção criminosa teria os ajudado a pagar R$ 5 mil ao dono de uma fazenda que auxiliou na fuga, permitindo que se escondessem em sua propriedade.

Fugitivos de Mossoró são escoltados pela PRF, após serem recapturados no Pará. — Foto: Reprodução
Fugitivos de Mossoró são escoltados pela PRF, após serem recapturados no Pará. — Foto: Reprodução

  • No dia da fuga, 14 de fevereiro, os criminosos invadiram uma casa que fica a 7 km do presídio, entre 18h e 21h, e levaram roupas, sapato e outros itens pessoais;
  • Na madrugada do dia 16, roupas e pegadas foram encontradas por policiais na zona rural de Mossoró. O morador da casa invadida dois dias antes confirmou que uma colcha encontrada na mata era dele;
  • No mesmo dia, a força-tarefa que busca pelos dois fugitivos encontrou uma camiseta de uniforme de presidiário;
  • Também em 16 de fevereiro, foi identificado, próximo à divisa entre Rio Grande do Norte e Ceará, o sinal do celular que os bandidos roubaram da segunda casa invadida.
  • No dia 24, a polícia encontrou uma casa que teria sido usada como esconderijo pelos fugitivos de 17 a 23 de fevereiro;
  • Em 29 de fevereiro, dois homens suspeitos foram vistos por agricultores em uma plantação na área rural de Baraúna na quinta-feira (29). Policiais da força-tarefa fizeram um cerco na região. A força-tarefa confirmou que os dois eram, de fato, os fugitivos de Mossoró.
  • No domingo (3), a força-tarefa fez um novo cerco em uma área rural de Baraúna onde investigadores acreditavam que os suspeitos teriam invadido galpões agrícolas e agredido o dono da propriedade quando ele disse que não tinha um celular. Foi a última vez em que eles foram avistados.

Veja a cronologia de outros fatos relacionados à fuga

 

📅 14 de fevereiro:

Por conta da fuga, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afastou o diretor do presídio.

📅 15 de fevereiro:

O Ministério da Justiça e Segurança Pública nomeou o policial penal federal Carlos Luis Vieira Pires como diretor interino da prisão e suspendeu as visitas e banhos de sol nos cinco presídios federais do país.

As polícias Federal e Rodoviária Federal enviaram forças especiais para auxiliar nas buscas.

📅 16 de fevereiro:

Os criminosos foram incluídos na lista de procurados da Interpol. Entretanto, segundo o secretário nacional, isso não significava que, para a polícia, os dois fugitivos teriam conseguido deixar o país.

📅 18 de fevereiro:

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, desembarcou em Mossoró. À época, ele disse que a fuga foi um problema localizado.

“Não afeta, em hipótese nenhuma a segurança das cinco unidades prisionais federais, mas é um problema localizado e que será superado em breve com a colaboração de todos”, disse

 

Em entrevista coletiva durante viagem à Etiópia, o presidente Lula foi questionado sobre a fuga e disse que “parece que teve a conivência de alguém do sistema [prisional]” no episódio.

📅 20 de fevereiro:

A corregedora do sistema prisional afastou quatro diretores responsáveis pelas áreas de segurança, inteligência e administração da Penitenciária Federal de Mossoró.

📅 21 de fevereiro:

O Ministério da Justiça autorizou o uso da Força Penal Nacional para o reforço da segurança externa da penitenciária.

Barras de ferro começaram a ser instaladas em luminárias nas celas da Penitenciária Federal de Mossoró.

📅 22 de fevereiro:

As primeiras prisões relacionadas à operação aconteceram em 22 de fevereiro. Duas ocorreram no Rio Grande do Norte, quando a PF abordou dois homens e encontraram armas ilegais e quantidade de drogas; a outra prisão ocorreu no Ceará, pois o suspeito tinha um mandado de prisão emitido em seu nome.

📅 23 de fevereiro:

A Força Nacional chegou a Mossoró – com cerca de 100 agentes – para reforçar as buscas pelos fugitivos.

O irmão de Deibson Nascimento foi preso no Acre. A prisão ocorreu como desdobramento da operação em busca dos foragidos.

📅 24 de fevereiro:

A Polícia Federal anunciou recompensa de até R$ 30 mil por informações sobre fugitivos.

📅 25 de fevereiro:

O dono da chácara onde os fugitivos teriam se escondido foi preso. Ele teria recebido R$ 5 mil para esconder os foragidos.

📅 26 de fevereiro:

A Força Penal Nacional chegou a Mossoró, com uma equipe de 50 profissionais, para reforçar segurança da penitenciária federal e promover treinamentos com a equipe da unidade.

📅 27 de fevereiro:

O dono da casa usada como esconderijo pelos fugitivos passou por audiência de custódia. A Justiça determinou prisão preventiva dele.

Ministério Público Federal faz vistoria na Penitenciária de Mossoró após fuga de presos.

Segundo os investigadores, fugitivos de Penitenciária Federal de Mossoró foram abandonados por rede de proteção do crime organizado.

📅 2 de março:

Governo decidiu transferir um grupo de presos ligados à facção criminosa Comando Vermelho (CV), criada no Rio de Janeiro, para outras unidades federais. Apontado como uma das lideranças do bando, Fernandinho Beira-Mar foi levado para o presídio de Catanduvas, no Paraná.

📅 8 de março:

Polícia Federal prende outro suspeito de ajudar na fuga dos dois criminosos, também em Fortaleza, no Ceará.

📅 10 de março:

Força-tarefa revista casas no assentamento Vila Nova I, em Baraúna, e aumenta o raio de buscas, que havia sido fechado no assentamento Vila Nova II após último avistamento dos fugitivos em um galpão agrícola no início de março. Área fica localizada a 9 km de onde dupla foi vista pela última vez.

📅 11 de março:

Quase um mês após a fuga, Polícia Federal divulga imagens com simulações de possíveis aparências e disfarces dos fugitivos.

📅 12 de março:

Cães farejaram presença humana em área de mata na capital Mossoró. Local fica a cerca de 10 km de Baraúna.

📅 13 de março:

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski esteve em Mossoró para acompanhar os trabalhos da força-tarefa. Segundo o ministro, há “fortes indícios” de que os criminosos continuam na região das buscas, entre Mossoró e o município vizinho de Baraúna.

“Nós temos indícios fortes da presença dos fugitivos na região. Temos hoje uma convicção de que os fugitivos se encontram aqui ainda”, disse.

 

📅 30 de março

A Força Nacional encerrou a participação nas buscas pelos dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Depois de 45 dias, os cem agentes da Força Nacional deixaram o estado no sábado (30).

📅 3 de abril

A polícia prendeu em Fortaleza um suspeito de ajudar os dois fugitivos do presídio federal no RN. Ele estava em uma pousada na Praia do Futuro. De acordo com a polícia ele teria ligação com fuga de penitenciária de Mossoró. O suspeito de 25 anos foi localizado pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará.

Quem são os fugitivos?

 

Os dois presos são do Acre e estavam na Penitenciária de Mossoró desde 27 de setembro de 2023. Eles foram transferidos após participarem de uma rebelião no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos — três deles decapitados.

Nomes de fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró foram colocados na lista da Interpol — Foto: Reprodução
Nomes de fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró foram colocados na lista da Interpol — Foto: Reprodução

Os dois homens são ligados ao Comando Vermelho, facção de Fernandinho Beira-Mar, que estava preso na unidade federal de Mossoró e foi transferido para Catanduvas, no Paraná.

Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos, é acusado de assaltos no Acre, Já preso foi acusado de mandar matar o adolescente Taylon Silva dos Santos, de 16 anos, em abril de 2021. Após o crime, Rogério foi transferido para o Presídio Antônio Amaro Alves, na capital, para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde ficou desde então, até ter sido transferido ao Rio Grande do Norte.

Rogério responde a mais de 50 processos. Ele é condenado a 74 anos de prisão, somadas as penas, de acordo com o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC).

 Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, tem o nome ligado a mais de 30 processos e responde por crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e roubo. Ele tem 81 anos de prisão em condenações.

Como foi a fuga

 

Os detentos – que estavam em celas individuais, em Mossoró – conseguiram escapar ao retirar as luminárias das celas. Uma das hipóteses da investigação é que tenham usado pedaços de ferro como ferramenta para retirar a luminária.

Pedaços de ferro que podem ter sido retirados do banheiro, parede, ou debaixo da mesa. Até a publicação desta reportagem, a polícia não identificou a origem do objeto usado por Mendonça e Nascimento.

Os detentos também usaram uma mistura de sabonete e papel higiênico como uma espécie de reboco para camuflar os buracos feitos.

Depois de passarem pelo buraco aberto na parede, os detentos tiveram acesso a uma área de serviço conhecida como “shaft” – por onde passam dutos, rede elétrica e até uma escada que dá acesso ao telhado do presídio.

A área externa estava cercada por um tapume de metal por causa de obras que estão acontecendo no presídio. Por questões de segurança, o cercado delimitava onde ficavam os operários e o material.

Os detentos passaram pelo tapume e usaram um alicate deixado pelos operários e cortaram a primeira parte da grade. Andaram mais alguns metros, abriram a passagem na segunda tela e fugiram.

Arte da fuga na prisão — Foto: g1
Arte da fuga na prisão — Foto: g1

(Fonte:G1)