Os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) apresentam caminhos distintos para a política externa.
Bolsonaro tem acenado com uma maior aproximação com os Estados Unidos e elogiado as políticas implementadas pelo governo de Donald Trump. No âmbito regional, o candidato defende o distanciamento do Brasil de países como Venezuela e Cuba.
Haddad, por sua vez, defende o aprofundamento da integração na América Latina por meio do Mercosul, da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Seu plano de governo também prevê o fortalecimento da participação brasileira em mecanismos multilaterais como o Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
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Na proposta de governo entregue pelo candidato ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro fala em um “novo Itamaraty”. Segundo o texto, o Ministério das Relações Exteriores precisa estar a serviço de valores que sempre foram associados ao povo brasileiro. A outra frente, diz o programa, será fomentar o comércio exterior com países que possam agregar valor econômico e tecnológico ao Brasil.
“Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália. Não mais faremos acordos comerciais espúrios ou entregaremos o patrimônio do povo brasileiro para ditadores internacionais”, diz o documento.
Sobre comparações feitas entre ele e o presidente dos Estados Unidos, Bolsonaro respondeu, em coletiva de imprensa, no último dia 20: “Trata-se de querer um Brasil grande assim como ele quer uma América grande.”
“Ele [Trump] diminuiu a carga tributária do setor produtivo, foi criticado, mas isso gerou emprego e atraiu novas empresas de fora. A Inglaterra fez isso há 20 anos. Admiro muito ele [Trump] por isso aí, ou vão querer que eu admire [Nicolás] Maduro [presidente venezuelano] ou o governo cubano?”, acrescentou Bolsonaro.
No âmbito regional, o plano de Bolsonaro prevê aprofundamento da integração “com todos os irmãos latino-americanos que estejam livres de ditadura”. “Precisamos redirecionar nosso eixo de parcerias”.
Sobre o Mercosul, o candidato afirmou, na entrevista do dia 20, que não se pode “jogar para o alto” o acordo. “O que não pode é continuarmos usando acordos como esse em função de interesses ideológicos como o PT fez”, criticou. “Vamos partir para o bilateralismo onde for possível. Conversei com o [Mauricio] Macri [presidente da Argentina], ontem com o do Paraguai [Mario Abdo], encontrei senadores do Chile. Vamos buscar fazer acordos com os países da América do Sul sem o viés ideológico”.
Fernando Haddad
Em seu programa de governo registrado no TSE, Haddad aponta para a “retomada de uma atitude proativa no plano internacional” com o fortalecimento de iniciativas como o Brics e o Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (Ibas). “Isso é essencial para criar um mundo mais equilibrado e menos dependente de um único polo de poder, de modo a superar a hegemonia norte-americana”, diz o documento.
O candidato também defende o aprofundamento das relações de “amizade e parceria” com os países africanos e árabes e disse que sua administração estará empenhada em promover a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de um mundo mais multipolar e equilibrado.
“As mudanças no cenário internacional, especialmente nos EUA sob o governo Trump, apontam no sentido de esvaziamento dos organismos multilaterais, menor peso para aspectos normativos e maior ênfase à velha política de poder de ações unilaterais. Isso apresenta grandes riscos como exacerbação de conflitos e ações multilaterais unilaterais, mas também cria aberturas para um mundo mais multipolar, menos submetido à influência hegemônica de um polo de poder”, diz o plano do candidato do PT.
Segundo a proposta, o Brasil deve retomar e aprofundar a política externa de integração latino-americana e a cooperação Sul-Sul de forma a apoiar o multilateralismo, a busca de soluções pelo diálogo e “o repúdio à intervenção e a soluções de força”. “O Brasil também voltará a ter presença ativa no Sistema Internacional de Direitos Humanos”, diz o texto.
Para o petista, é necessário recuperar os avanços na integração regional. Seu governo, afirma, promoverá a integração das cadeias produtivas regionais, a expansão da infraestrutura e o fortalecimento de instrumentos de financiamento do desenvolvimento, como o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem).
(Agência Brasil)