A chegada da primeira filha mudou a rotina do roteirista e apresentador Dante Baptista. Ele passou a trabalhar em dois empregos após o nascimento da filha com sua esposa Rosana. O sonho de ter filhos levou dois anos para virar realidade. O casal gastou cerca de R$ 100 mil em um tratamento de fertilidade e, apesar de ter se preparado financeiramente para a chegada da Dandara, ainda levou um susto com os custos da família, que subiram 50%.
“Fomos surpreendidos pelos gastos. Não imaginávamos que sentiríamos o aperto nas contas no dia a dia. O custo subiu bastante quando ela começou a ter uma alimentação sólida. Queremos diminuir o custo de vida e não sabemos nem por onde começar”, afirma.
Baptista passou a trabalhar 12 horas por dia ou mais para cobrir todos os gastos e para construir uma reserva financeira para a educação da Dandara.
Leia mais:“Hoje, trabalho em dois lugares para dar conta da criação da Dandara com tranquilidade, sem tirar a qualidade de vida dela e sem faltar dinheiro no fim do mês. No semestre que vem, ela vai para a escolinha, inicialmente, para uma escola pública. Futuramente, no fundamental, devemos mudar para um colégio particular”, diz.
Para o roteirista, todos esses custos valem a pena, mas ele sabe que a jornada financeira é longa. No Brasil, sobretudo nas grandes cidades, nas quais o custo pode subir até 50% em relação aos demais municípios, o gasto com o filho até os 18 anos se transformou numa barreira milionária para a classe média. É o que mostra um estudo feito pelo Insper a pedido do Estadão, conduzido por Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de economia do instituto.
Para as famílias que integram a classe C – aquelas com renda familiar mensal de R$ 5.281 até R$ 13,2 mil -, o gasto estimado varia entre R$ 480 mil e R$ 1,2 milhão. Na classe B (entre R$ 13.201 e R$ 26,4 mil de renda mensal), o gasto vai de R$ 1,2 milhão até R$ 2,4 milhões. Já na classe A, parte de R$ 3,6 milhões e continua a subir em função da renda familiar.
“O custo de vida aumentou. Como o trabalho se baseia nas classes de renda do IBGE, que define classe de renda de acordo com o número de salários mínimos, quando o salário mínimo sobe, o custo aumenta também”, afirma Juliana.
O levantamento foi construído com base nos dados de classe de renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e aponta um gasto médio de 30% da renda das famílias com os filhos. A lista de custos considera, por exemplo, alimentação, roupas, lazer, educação, saúde e parte das despesas comuns como aluguel. Juliana pondera, no entanto, que quem tem mais de um filho tende a ter uma diluição dos custos.
Em São Paulo, todo o salário da produtora de conteúdo Helvânia Ferreira Aguiar, de 50 anos, vai para a educação dos filhos. Na divisão do orçamento doméstico, o marido dela fica com despesas mais gerais, como aluguel, condomínio e supermercado. “Virou quase uma missão impossível pagar pela educação”, afirma.
Na pandemia, Helvânia chegou a atrasar o pagamento da mensalidade num colégio particular da Zona Oeste da cidade. A situação financeira se complicou, porque o marido dela, dono de uma agência de comunicação, perdeu quase todos os clientes. “Ficamos só com o meu salário. Foi um salve-se quem puder”, afirma. O mais velho, de 18 anos, entrou numa universidade pública neste ano, e o mais novo, de 13 anos, conseguiu permanecer na escola.
“Fomos atrasando as parcelas. No final do ano (2021), precisávamos fazer a rematrícula deles e fomos conversar com a tesouraria da escola. Abonaram multa e juros e fizeram um parcelamento das mensalidades atrasadas”, afirma Helvânia. A mensalidade do mais novo será quitada em 12 meses, e a do mais velho em 18 meses – a dívida só deve terminar no meio de 2024.
(Fonte: CNN Brasil)