Só quem já esteve internado sabe como é difícil e doloroso o ambiente hospitalar. Agora, imagina estar internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) sem poder receber visitas. Assim é o drama de quem testa positivo para a covid-19 e tem complicações com a doença, precisando, desta forma, ir para o hospital e, em casos mais graves, ficar na UTI isolado de todos.
Quando o coronavírus chegou ao Brasil, no início do ano de 2020, os médicos se viram diante de uma nova doença, com alto grau de contágio e sem protocolos específicos para o tratamento. Mais de um ano depois, continua sendo um momento de grande desafio, tanto para os profissionais de saúde como para a população, que está tendo de se readaptar a um novo estilo de vida.
A doença pode ser silenciosa e a pessoa nem desenvolver os sintomas; ser leve, apresentar febre, tosse e um leve cansaço – que com alguns dias de repouso e isolamento em casa já resolvem – ou pode ser que venha trazendo perda de olfato e paladar, falta de ar e acabar gerando um colapso nos pulmões, o que exige o uso de respiradores e internação em UTI.
Leia mais:Na semana em que completamos um ano do primeiro caso registrado em Marabá (23 de março) a equipe do CORREIO DE CARAJÁS conversou com algumas pessoas que tiveram a doença neste último ano e passaram pelo drama de ficarem internados em uma unidade de terapia intensiva.
Acompanhe, nesta segunda reportagem da série, o drama de dois pacientes:
Em meados do mês de setembro de 2020, o bancário Aguinaldo Oliveira Santos, de 37 anos, foi uma das pessoas que venceram a covid-19. Com sintomas apenas de tosse e febre nos primeiros dias, ele se assustou quando começou a sentir muita fraqueza e fortes dores de cabeça. Desde o início, seguiu o recomendado para o tratamento e tomou todas as medicações do “kit covid”, que incluem a ivermectina, azitromicina, vitamina D e zinco.
“Após 11 dias eu continuava me sentindo muito mal, com febre alta e muita tosse, então, comecei a ir várias vezes ao pronto-socorro, tanto do hospital particular como do Hospital Municipal de Marabá. Eu era sempre medicado e voltava pra casa. Me falavam que era assim mesmo, que eu precisava apenas de repouso”, conta Aguinaldo, que avisou a equipe médica que não estava conseguindo tomar os medicamentos, porque o organismo estava rejeitando e ele sempre vomitava ao tentar ingerir.
No mesmo período, sua esposa também se contaminou com o coronavírus, porém, com sintomas leves. “Foi aí que percebi que cada pessoa tem uma reação, os sintomas são completamente diferentes. Mas a minha maior preocupação era de transmitir para alguém, principalmente para os meus pais, que são idosos, do grupo de risco e moram próximo da minha casa”.
Com o passar dos dias e a piora dos sintomas, o bancário procurou atendimento na rede municipal de saúde e, só então, foi solicitada uma tomografia do pulmão. “Eu expliquei para a médica que tive um derrame pleural em 2015 e um comprometimento no pulmão nessa mesma época. Então, realizei o exame com urgência e foi constatado que eu estava com 50% do órgão comprometido”, conta, ainda emocionando, afirmando que após o resultado, foi internado imediatamente.
“É uma experiência muito ruim, porque a gente entra e não tem ideia do que pode acontecer. Mesmo com a gravidade da minha situação, não foi necessário eu ficar intubado, porém precisei ficar internado na UTI do hospital da Unimed por 5 dias”, relembra Aguinaldo, que mesmo após a alta hospitalar continuou com tosse persistente por aproximadamente 20 dias.
Ao falar sobre a gratidão de poder estar bem de saúde após ter passado pela UTI, Aguinaldo afirma que o apoio da família foi essencial naquele momento. “Eu só tenho de agradecer a Deus e a minha família, pois eles me passavam confiança que eu ia sair daquela situação. Além disso, percebi que ainda existem muitas pessoas boas no mundo e que se importam de verdade com você. A equipe médica que me atendeu foi maravilhosa. Isso foi essencial para a recuperação”, finaliza, emocionado.
“EU SOU UM MILAGRE”
“Muita febre e um cansaço diferente”. É assim que Lailson Rafael da Silva, 39 anos, descreve seus primeiros sintomas de covid-19. Com uma moleza que nunca havia sentido, ele não imaginava que poderia ser o coronavírus. “Estava um burburinho na cidade em relação à doença, as pessoas estavam com muito medo, era um entra e saí nas farmácias. Pessoas conhecidas estavam morrendo e isso me assustou”, conta ele, que é empresário e lida diariamente com o atendimento de dezenas de pessoas.
Lailson foi infectado pela doença logo no início do “boom” em Marabá, em meados de abril e afirma que foi muito rápido que o estado de saúde dele se agravou. “Em aproximadamente três dias eu já estava muito mal. Não conseguia ficar em pé para ir ao banheiro, estava com muita falta de ar. Fui levado direto para o Hospital Regional do Sudeste do Pará. Juro pra você, que eu achava que estava entrando e que não iria sair. Eu pensei que fosse morrer”, relembra emocionado.
Sob os cuidados dos profissionais de saúde do hospital e, totalmente isolado dos familiares, o empresário revela que é preciso estar com o estado emocional muito bom, porque é assustador estar em uma unidade de terapia intensa, totalmente sozinho. “Durante a internação, a gente só fala com nossos familiares por meio de vídeo chamada. Eles nos dão um tablet para que possamos conversar e ver nossa família. Tem o horário certo para as ligações, geralmente uma ligação à tarde e uma à noite”.
Sem nenhuma comorbidade ou doença pré-existente, Lailson teve 75% do pulmão comprometido e ficou internado por sete dias na UTI. “Foram os sete dias mais longos da minha existência. Eu me entreguei para Deus e pedi para Ele tomar conta da minha vida”, afirma Lailson, que no terceiro dia de internação teve de começar a fazer uso da ventilação não invasiva com pressão positiva (VNI). Esse tipo de máscara é utilizado em pacientes que não conseguem apresentar melhoras com o uso do respirador padrão. “Foi aí que eu comecei a sentir uma evolução e fui me recuperando”.
Com a alta hospitalar, Lailson afirma que sua visão sobre a vida mudou completamente e, que que a partir de agora, tudo será diferente. “Eu nasci de novo. Comecei a analisar os meus erros do passado para não os repetir e passei a valorizar as pessoas mais próximas. Às vezes, eu deixava de estar com a minha família para trabalhar. Hoje não faço mais isso. Sou um milagre e vou fazer tudo diferente”, conta um dos guerreiros que superaram a covid-19.
Com um pós-covid bem debilitado, Lailson contou com o apoio da esposa e dos dois filhos no retorno para casa. A família, aliás, não teve qualquer sintoma de gripe ou resfriado durante esse período. “Poder voltar para casa foi muito bom. Mas eu estava fraco. Só voltei ao trabalho uns 25 dias depois. Estava com um cansaço muito grande. Fiz fisioterapia para os pulmões por 45 dias e, só então, minha vida foi voltando ao normal. Hoje, estou 100% de saúde e só tenho a agradecer a Deus”.
A primeira providência a ser tomada depois de tudo isso? “Trazer meus pais que residiam em Natal (RM) para morar aqui em Marabá e ficarmos mais próximos. Aprendi que a família é a coisa mais importante que temos”. (Ana Mangas)