Correio de Carajás

Uso excessivo de redes sociais agrava saúde mental de adolescentes

Especialistas destacam impactos como distúrbios do sono, baixa autoestima e aumento da ansiedade entre jovens de 12 a 17 anos.

Foto: Freepik

O uso intenso de redes sociais entre adolescentes tem sido associado ao agravamento de diversos problemas de saúde mental. Um consenso internacional, apoiado por entidades como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Academia Americana de Pediatria, alerta que a exposição prolongada e sem controle a essas plataformas pode ampliar quadros de ansiedade, depressão, distúrbios do sono, transtornos alimentares e dificuldades de concentração.

Segundo Gustavo Yamin Fernandes, coordenador de psiquiatria do Hospital Samaritano Higienópolis, o risco é maior entre os 12 e 17 anos, fase em que o cérebro ainda está em desenvolvimento. “O uso problemático não se resume ao tempo de tela, mas à perda de controle, ao sofrimento emocional e aos prejuízos nas atividades diárias. A comparação constante com padrões idealizados, a busca por validação e a exposição a conteúdos irreais impactam diretamente o bem-estar dos jovens”, afirma.

Paula Gibim, psiquiatra do Hospital Samaritano Barra, no Rio de Janeiro, também aponta efeitos como cansaço diurno, dificuldade de manter a atenção e sinais de abstinência quando o adolescente é impedido de acessar o celular. “A presença constante das redes afeta o sono, os hábitos alimentares, a autoestima e até a qualidade dos relacionamentos fora do ambiente digital”, diz.

Leia mais:

Transtornos surgem ou se intensificam com o uso contínuo

Estudos indicam que o uso excessivo das redes pode favorecer o surgimento ou agravamento de quadros como TDAH, transtornos alimentares, depressão e ansiedade. A exposição prolongada a imagens filtradas e estilos de vida idealizados contribui para insegurança corporal, frustração e sentimentos de inferioridade. “Adolescentes passam a se comparar não com a realidade, mas com versões editadas de outras pessoas. Isso distorce a percepção e eleva as cobranças internas”, explica Fernandes.

Gibim destaca que essa comparação também afeta o comportamento de meninas, mais expostas a conteúdos que incentivam dietas extremas ou padrões estéticos inatingíveis. Além disso, há o risco de contato com comunidades que estimulam práticas autoagressivas, como desafios perigosos ou grupos que promovem transtornos alimentares. “Muitos desses sinais surgem de forma sutil e podem ser confundidos com mudanças naturais da adolescência, o que exige atenção redobrada dos pais”, afirma.

Supervisão ativa e rotina fora das telas são parte da prevenção

Ambos os especialistas defendem que o uso das redes seja monitorado por responsáveis e discutido em casa. A recomendação da OMS e da Academia Americana de Pediatria é que adolescentes tenham, no máximo, duas horas diárias de lazer com telas e que o uso de dispositivos seja evitado antes de dormir. O Ministério da Saúde orienta que o acesso às redes sociais seja evitado antes dos 12 anos e controlado até os 17.

Gibim afirma que ações simples, como estabelecer momentos “offline” durante refeições ou viagens, ajudam a reequilibrar a rotina e favorecem o diálogo. “O comportamento online precisa ser supervisionado, incluindo o tempo de uso, os tipos de conteúdo acessados e as interações mantidas. A resistência à supervisão também pode ser um sinal de alerta”, diz.

Fernandes reforça que a escola tem papel complementar nesse processo. Além de adotar políticas de uso consciente da tecnologia, pode incentivar práticas esportivas e atividades presenciais para reduzir o tempo de tela e ampliar os vínculos sociais. “O exemplo dos adultos também pesa. Pais e professores precisam refletir sobre como usam a tecnologia, porque adolescentes tendem a repetir esses modelos.”

(Fonte:CNN Brasil/ Priscila Carvalho)