Correio de Carajás

Usina que poderia derrubar internet no Brasil vai mudar de lugar

A usina vai mudar de lugar para ficar mais distante dos cabos subterrâneos de internet que passam pelo local. Tema já foi embate entre empresas e Governo do Ceará, pelo risco de interromper as conexões de internet que conectam a América Latina à Europa.

A planta de dessalinização fará o tratamento da água do mar com a tecnologia de osmose reversa. — Foto: Cagece/Divulgação

A mudança no local onde seria construída a usina de dessalinização em Fortaleza foi recebida com satisfação pelos representantes do setor de telecomunicações ouvidos pelo g1. O projeto do Governo do Ceará foi motivo de embates com as empresas de telecomunicações pela proximidade da estrutura com os cabos subterrâneos de internet, que conectam a América Latina com a Europa.

A usina vai continuar localizada na Praia do Futuro, mas será instalada a mais de 1.000 metros do local onde estava previsto, o que, conforme os responsáveis pelo projeto, vai afastar qualquer risco de interferência da usina nos cabos oceânicos. A estrutura de captação das águas do mar também vai ser deslocada junto com a usina.

Confira os posicionamentos

 

TelComp

Luis Henrique Barbosa, presidente executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), disse que via o tema com preocupação por conta da proximidade entre a usina e os cabos submarinos. A TelComp representa empresas de data center e cabos submarinos:

“A notícia de que o Governo tomou a decisão de transferir a usina para um outro terreno na Praia do Futuro satisfaz, sim, o setor de telecomunicações e mitiga os riscos. A gente entende que essa é uma solução pacificadora para o tema”.

 

Angola Cables

Em nota, a Angola Cables disse que está acompanhando atentamente as decisões dos órgãos competentes em relação à mudança de local da usina.

“A solução apresentada parece se enquadrar de forma positiva para todas as partes envolvidas, garantindo que, por via do centro tecnológico, estejam igualmente dando passos importantes para criar mais incentivos para que empresas e profissionais fixem seus projetos na região.”

 

Anatel:

Já a Anatel disse que ainda não recebeu nenhum comunicado formal sobre eventual ajuste do projeto por parte do Governo do Estado. A Agência aguarda maiores informações.

O g1 ainda aguarda posicionamento da Conexis, associação onde estão operadoras Claro, Vivo, Tim, Oi, Algar Telecom e Sercomtel.

Embate sobre o projeto

A localização da usina era motivo de oposição das empresas de telecomunicações ao projeto, que dizem que as estruturas podem afetar os cabos e interromper o funcionamento da internet no Brasil.

A construção da usina de dessalinização é defendida pelo Governo do Ceará como um dos mecanismos de combate à seca. Uma vez pronta, a usina iria converter a água salgada do mar em água potável, ajudando no abastecimento da população.

A Praia do Futuro, onde a construção é planejada, é um dos locais no Brasil mais próximos da Europa e por isso é o lugar que primeiro recebe cabos de fibra ótica do continente. A partir da Praia do Futuro, esses cabos vão para Rio de Janeiro, São Paulo e países da América Latina. Esses cabos são responsáveis por 99% do tráfego de dados do Brasil.

O bairro também costuma ter uma das águas mais limpas da orla de Fortaleza, por isso é defendido que a usina seja construída no local, uma vez que tornaria o processo de dessalinização da água mais fácil e mais barato.

O risco da instalação, segundo a associação de operadoras TelComp, é que a estrutura da usina, que capta água no fundo do mar, possa romper os cabos submarinos. Se os cabos forem rompidos, o fornecimento de internet pode ser afetado em todo o continente, deixando usuários off-line ou com internet lenta.

Já a Cagece, empresa estatal do governo cearense responsável pela usina, diz que o projeto “não apresenta nenhum risco ao funcionamento dos cabos submarinos localizados na Praia do Futuro”.

As obras da usina serão feitas por meio de parceria público-privada do consórcio SPE – Águas de Fortaleza, que venceu edital da Cagece com investimento previsto de R$ 3,2 bilhões. A previsão de conclusão das obras é para o primeiro semestre de 2026.

A licença de instalação para iniciar as obras da usina de dessalinização deve ser emitida até o mês de julho, conforme a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). Somente após a emissão da licença é que começam as obras da usina.

(Fonte:G1)