Na tarde desta quinta-feira, dia 22, a partir de 14 horas, a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), em parceria com a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), lança uma importante Nota Técnica referente à Tabela de Recursos e Usos (TRU) do Pará.
Este recurso é um importante instrumento que poderá balizar investimentos de entes públicos e empresas nos próximos anos no Estado do Pará.
Para explicar com detalhes e de forma didática a relevância do documento, esteve na Redação do CORREIO DE CARAJÁS nesta terça-feira, 20, o professor doutor em Economia, Giliad de Souza Silva, da coordenação do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (Lacam).
Leia mais:Ele observa que a TRU será lançada durante o III Seminário de Contas Regionais da Amazônia e que a Fapespa escolheu a Unifesspa para realizar esse estudo importante para o Estado do Pará, embora haja outras instituições tradicionais e igualmente sérias na região que poderiam produzi-lo.
Foram cerca de três anos debruçados na avaliação da produção de todas as regiões do Pará, envolvendo dezenas de pesquisadores, com investimento de R$ 1 milhão da Fapespa.
“Esse é um estudo que demanda tempo, precisa ter gestores públicos com consciência de que se trata de um instrumento importante para fazer planejamento e também para poder atrair mais investimentos para o Estado. A gente sabe que nem todos os gestores têm um compromisso forte com o planejamento que base científica e subsídio técnico”.
Outro ponto que endossa a grandeza da Tabela de Recursos e Usos, é que nem todas as instituições têm o domínio para fazer esse estudo, principalmente por falta de profissionais qualificados. Os únicos estados da Amazônia que possuem esse estudo são o Pará e o Amazonas. Só que o Amazonas tem esse estudo com ano de referência de 2006. O Estado do Pará fez em 2015, com ano de referência de 2009, e a gente fez agora, mais uma vez. Com ano de referência de 2017, mas que está sendo lançado em 2023”, conta.
De acordo com o pesquisador, a Tabela de Recursos e Usos é basicamente uma foto da estrutura econômica do Estado. Ela mostra o que o Pará produz e o que consome. “Mas ele consome o que produz ou consome de fora do estado? Esses questionamentos, a tabela nos responde”, argumenta.
DEMANDA NA MINERAÇÃO
Giliad exemplifica mostrando que o Pará é um estado importante na produção do minério de ferro, mas que para manter essa cadeia precisa consumir manutenção de máquinas e equipamentos. Porém, o principal problema é que 93% da oferta desse serviço é de fora do Estado. “Ou seja, temos um gargalo, mas ao mesmo tempo é uma potencialidade. A gente sabe que esse é um setor importante, e não vai se exaurir agora. E o estado pode muito bem dizer: ‘essa é uma demanda que pode ser atendida por incentivos’”.
FEIJÃO NOSSO DE TODO DIA
Outra exemplificação importante apontada pelo professor da Unifesspa é que 92% da oferta de feijão no Pará é de fora do estado. Ou seja, produzimos muito pouco um item que está no dia a dia em nossa mesa. “Essa é outra potencialidade, já que o feijão é produzido por camponeses, agricultura familiar, e pode servir de incentivo em várias regiões”.
Questionada se a tabela pode ser comparada à pesquisa e divulgação de dados feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Giliad destaca que o estudo feito pelo IBGE é a principal fonte de dados da TRU e que serve de parâmetro para várias partes do mundo.
Todavia, o IBGE não apresenta a produção de modo desagregado de estado a estado. Ele faz isso no País como um todo e se alguém quiser analisar estado por estado, terá dados especificamente para a pecuária, agricultura, indústria, comércio e serviços.
“Para obter dados de um estado isoladamente, é necessária uma metodologia adequada para fazer essa estimativa, e o IBGE não faz isso. Cada estado tem que conseguir fazer a sua estimação. O Pará está fazendo isso, tanto na ótica dos recursos que são disponíveis, quanto dos usos. Consequentemente, com a Tabela de Recursos e Usos, é possível ter uma noção do PIB”, garante.
O professor enfatiza que esta é a primeira vez que esse estudo é produzido por pesquisadores do interior, porque no Pará e em outros estados, sempre foi feito por instituição das capitais.
IMPORTÂNCIA PARA EMPRESÁRIOS
Giliad Silva afirma que a tabela da TRU passa a ter grande relevância, também, para os empresários, pois eles terão um norte para garantir que seus produtos serão comercializados, entendendo quais são e onde há demandas para este ou aquele.
“Atualmente, o Pará tem muita demanda para máquinas e equipamentos, manutenção dessas máquinas, feijão, mandioca, roupas e artigos de confecção. Diante disso, cabe ao empresário, que tem noção da relevância desses instrumentos técnicos, calibrar os seus investimentos à luz dessas informações disponíveis”.
VÁCUO NA PRODUÇÃO LEITEIRA
A TRU também estratifica que, embora o Pará seja forte na produção de gado de corte, abastecendo vários frigoríficos, a produção leiteira ainda é incipiente, o que também abre possibilidades para investimento neste segmento. (Ulisses Pompeu)