Correio de Carajás

Unifesspa: Estudantes fazem ato contrapondo faixa com “o agro mata”

O agro mata a fome, veste pessoas e gera emprego

Na manhã desta segunda-feira, 19, alunos do curso de Agronomia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) protagonizaram uma manifestação pacífica na Unidade III de Marabá. O ato era uma resposta e contraposição a uma lona preta que foi fixada em um dos blocos do campus com os dizeres: “o agro mata”. O grupo discorda de tal exposição e decidiu opinar usando a mesma estratégia: fixando material gráfico com as mensagens: “O agro mata a fome, veste pessoas e gera emprego”.

“Ela (a faixa) foi colocada por alunos do curso de Educação no Campo e por alunos de Agronomia”, esclarece Ana Ruth Araújo Melo, também acadêmica. Para a Reportagem do Correio de Carajás, ela deu mais detalhes sobre o movimento organizado pelos discentes e colegas de curso.

“As pessoas precisam buscar conhecimento e entender o que que o agro é”, desabafa. Para ela o agro não exclui nem o grande e nem o pequeno produtor, e sem o agro não é possível fazer nada, nem viver.

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Em oposição à primeira faixa, o curso ergueu duas outras com os dizeres: “O agro mata a fome, veste pessoas e gera empregos”. Para a ação desta manhã, 30 alunos foram mobilizados e uniformizados, mas discentes das cinco turmas do curso foram convidados a participarem do movimento.

PROTESTO POR RESPEITO

Ana Ruth pontua que uma comissão com 30 alunos foi montada no início do ano, com o propósito de abrir portas no que diz respeito ao contato entre a universidade e os profissionais do agronegócio. Um evento, o Agropec, foi organizado com essa finalidade e aconteceu em junho. Desde então o grupo vem se movimentando dentro da instituição para fortalecer os vínculos entre os agrônomos em formação e o mercado de trabalho.

A estudante conta que na última semana um vídeo sobre a faixa contra o agronegócio repercutiu no WhatsApp, chegando a ser compartilhado em grupos nos estados do Goiás e Mato Grosso. O autor da mídia, gravada na Unidade III da Unifesspa – do lado de fora – foca na frase “O agro mata”, levantando um questionamento: o reitor da instituição aprova esse tipo de atitude?

A resposta ao vídeo veio na forma do protesto. “A gente sabe que isso não é a realidade. O agro hoje promove emprego, veste pessoas e é responsável por colocar o prato de comida na mesa de tantas famílias. Hoje nós somos movidos pelo agro”, desabafa Ana Ruth. Ela reafirma o sentimento de desrespeito causado pelo hasteamento da faixa, para eles a atitude não condiz com o significado de liberdade de expressão.

Ainda que a primeira faixa de protesto contra o agro tenha sido erguida à época do evento realizado pela categoria, e que foi substituída pela atual, Ana Ruth aponta que a hostilidade entre os dois lados já é antiga e que a ação desencadeada nesta segunda-feira é um pedido de respeito.

“O nosso intuito é chamar a atenção da reitoria, da própria direção do curso para que a gente possa promover debater, para que possamos trazer para dentro da universidade palestras e que se possa ouvir os dois lados”, elucida. Ela ressalta que o respeito deve ser mantido entre todas as partes.

A manifestante explicita que embora alguns de seus colegas de curso levantem a bandeira contra o agro, essa não é uma opinião repercutida pela maior parte dos discentes da faculdade de Agronomia. “O que a gente quer deixar claro é que isso não representa a totalidade das Ciências Agrárias, da Agronomia, dentro da Unifesspa. Não é a maioria, não é a nossa voz, não é o que a gente quer passar para a sociedade”.

Jessé Lima Abreu, aluno da turma de 2020 e natural de Rondon, cidade onde o agronegócio tem uma presença expressiva, desabafou sua motivação para participar da manifestação: “O que mais motivou todos nós a estarmos aqui é que essa imagem “o agro mata”, quem vê de fora pensa que representa todos os alunos da faculdade”.

Ele argumenta que daqui alguns anos, quando os profissionais em formação partirem em busca de colocação no mercado de trabalho, o episódio pode repercutir de maneira negativa em suas carreiras.

Ao longo de toda a entrevista, Ana Ruth reafirma que o movimento está aberto ao diálogo, mas não ao desrespeito. E que seu intuito é de chamar a atenção da reitoria, para que debates e palestras sejam promovidos, assim os dois grupos podem alinhar seus pontos de vista, colocando o respeito acima de tudo.

UNIFESSPA

O CORREIO também quis saber oficialmente da Unifesspa sobre como a instituição vem encarando a mensagem “O agro mata”, que está há vários meses fixada no prédio do Campus. A resposta da assessoria foi a seguinte:
“A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), assim como as demais universidades públicas brasileiras, sempre foi palco de livres manifestações públicas de diversos setores da sociedade em sua pluralidade de ideias e visões. Nesse sentido, a Unifesspa reconhece o direito à liberdade de expressão em seus diferentes espaços, desde que não haja incitação a violências de qualquer natureza ou infrinja normas legais, conforme funciona uma sociedade plural, democrática e direito”. (Luciana Araújo)