Correio de Carajás

Única escola do Estado é o retrato do abandono

A Escola Estadual de Ensino Médio Professora Elza Maria Correa Dantas, em São Domingos do Araguaia, é o retrato em tons de cinza de como andam as demais unidades de ensino sob a responsabilidade do Governo do Estado no Pará, principalmente fora da região metropolitana de Belém, menina dos olhos do governo de Simão Jatene. A escola comporta mais de 1.200 alunos, com média de 60 por sala, em cada um dos três turnos.

Por lá, não há uma única carteira, nas 12 salas de aula do estabelecimento, que não esteja em péssimas condições de uso, com o tampo já sem o acabamento em fórmica ou acrílico, cadeiras bambas – faltando pernas e enferrujadas – pisos desgastados e irregulares.

As outras dependências da escola, a exemplo do banheiro, também estão comprometidas. “Dá vontade de vomitar quando a gente passa por perto do banheiro, imagina lá dentro. É horrível!”, diz Jonathas Carneiro, aluno do 3º ano. Para dar conta de todas as dependências, existe só uma servente por período, responsável por varrer e limpar toda a escola e ainda fazer a merenda.

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A merenda, aliás, também é motivo de reclamação dos alunos. “Gente, a merenda aqui é horrível, não tem colher que preste e falta prato”, diz Mayara Silva, estudante do 1º ano. Ela ainda reclama das condições gerais da escola que uma equipe do Jornal Correio pôde constatar ao visitar a unidade a convite de alunos e professores. “Nossa escola está caindo aos pedaços, nem quadra tem direito”, resume. Ao lado da colega, Jonathas endossa as reclamações dela. “O calor é insuportável aqui dentro. O forro da caindo, um dia desse quase cai na cabeça de um aluno”.

Praticamente, todas as carteiras das salas de aula da escola estão danificadas / Foto: Divulgação

Em abril deste ano, uma comitiva do Estado, com o então presidente da Alepa e futuro candidato ao governo, Márcio Miranda, a tiracolo, esteve em visita ao município e passou pela escola. Em um rápido discurso prometeu destinar R$ 1,5 milhão em recursos para reformar a escola. De certo originários de emenda impositiva a que todo deputado estadual tem direito. O dinheiro prometido por ele nunca chegou e nem o governo destinou um único centavo para os reparos.

Em lugar da reforma, o que teve, segundo Osmival Santos, coordenador do Sintepp no município, foi uma espécie de remendo novo em calça velha. “Deram uma ajeitada no forro e fizeram pequenos consertos no prédio por causa das eleições, já que na escola funciona a única sessão eleitoral do município. Na verdade, esse governo não se preocupa com alunos, professores ou comunidade escolar. Lutamos há anos pela qualidade no ensino no município e não temos respostas”, declara.

“Como é que pode uma única escola atender mais de 1.200 alunos, 60 em media por sala, com ventiladores quebrados, sala com forro caindo, cadeiras e lousas carcomidas?”, questiona, indignado, acrescentando que a realidade dos alunos da rede municipal que estudam na zona rural padecem das mesmas agruras.

Para a coordenadora geral do Sintepp em São Domingos, Cleuzimar Gonçalves de Oliveira, em vez de uma, o município deveria ter pelo menos quatro escolas estaduais para atender a demanda e evitar que os alunos do ensino médio precisassem estudar em cidades vizinhas. “O que acontece na educação aqui em São Domingos é aquele velho jogo de empurra. Quando procuramos o secretário de Educação para tratar de qualquer assunto ligado ao setor, ele diz que não é com ele e sim com o secretário de Finanças e vice-versa”, ironiza.

Escola espera mobiliário novo e reforma que nunca chega

As vésperas das provas do Enem, tanto Mayara, a estudante do 1º ano do Ensino Médio da escola, quanto Jonathas, aluno do 3º ano, se dizem prejudicados e inseguros, sem saber se terão um bom desemprenho nas provas. “Só agora está tendo professores para todas as disciplinas. No começo do ano não tinha nem de Português, nem de Inglês e Artes também. Isso tem prejudicado muito os alunos que vão fazer o exame este ano”, afirma Mayara, que mora na zona rural e depende do transporte escolar fornecido pelo município para chegar a escola.

O coordenador do Sintepp no município, Osmival Souza, também debita parte dos problemas vividos pela educação em São Domingos na conta do prefeito Pedro Patrício de Medeiros, o Pedro Paraná, do PPS. “Depois que a campanha ao governo começou, é coisa rara encontrar ele na cidade. Ele deixou a cidade às traças”, declara.

Osmival emenda dizendo que na época que a comitiva do Estado esteve na cidade, as únicos reparos que a escola recebeu foi o conserto de alguns ventiladores e de parte do forro. “Foi um arremedo de reforma. A promessa de que a escola passaria por uma ampla reforma feita pelo candidato do governo, Mário Miranda, até agora fiou só na promessa mesmo”, pontua, ressaltando que até o laboratório multidisciplinar está.

Diretoria

Questionada pela Reportagem sobre as denúncias dos alunos e da coordenação do Sintepp local a respeito do estado precário em que a escola se encontra, a diretora da unidade, Eliane Melo Nogueira, só desmentiu a qualidade da merenda, que segundo ela é bem servida e nunca faltou. Quanto ao estado geral do prédio e equipamentos usados em sala, Eliane disse que, realmente, a situação requer providências urgentes da Secretaria de Estado de Educação (Seduc).

“Já tem pelo menos quatro anos que não recebemos um conjunto de carteira e mesa novos. Estamos tentando, junto a Seduc, repor tudo ainda este ano para iniciarmos o próximo período letivo com mobiliário novo, porque não tem como começar o ano de 2019 do jeito que está. Muitas carteiras foram danificadas devido as goteiras em sala de aula também. Esse não é um problema só de São Domingos. No estado inteiro é a mesma coisa”, relata.

Sobre a falta de professores e pessoal de apoio, a diretora justifica dizendo que muitos servidores estão em vias de se aposentar, alguns esperando o benefício há mais de 10 anos. “Então, se não tem vacância, não tem como contratar novos professores ou mais servidores. Pra você ter uma ideia, este ano nós recebemos duas merendeiras e dois vigias, cobriu um pouquinho da nossa carência. Mas pessoal de apoio, principalmente na secretaria, que é nossa maior necessidade, a defasagem continua”, destacou.

(Adilson Poltroniere)