Correio de Carajás

Uma nova abordagem sobre um antigo tabu

A cada 45 minutos um suicídio é registrado no Brasil. O dado é assustador, mas não faz do país um caso isolado. Isso porque, a mesma situação acontece a cada 40 segundos em todo o mundo, conforme a Organização Mundial da Saúde. Visando combater esse cenário preocupante, a OMS definiu 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. É neste mesmo mês que acontece a campanha nacional Setembro Amarelo, promovida desde 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Ao mesmo tempo em que essas ações reforçam a prevenção do suicídio, também incentivam a discussão do assunto em diferentes mídias, comunidades e ambientes familiares. O que também é incentivado por profissionais da área da psicologia, como Deborah Kézia Lima Roncheti, psicóloga da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Mulher, departamento ligado à Secretaria de Assistência, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspac).

Em entrevista ao CORREIO, ela destaca que a sociedade precisa mudar a visão que tem do suicídio, deixando de lado os preconceitos e estigmas que [ainda] existem ao redor deste assunto.

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“A campanha do Setembro Amarelo vem justamente para mostrar a importância de falar sobre o suicídio, mas da maneira correta. Quando a gente fala desse assunto, vemos um histórico cheio de preconceitos. Antigamente, o suicídio era muito atrelado à maldição, possessão, ou seja, era cheio de mitos relacionados a ele”.

Segundo Deborah, família, escola e até a religiosidade podem ajudar no combate ao suicídio

Segundo ela, alguns indivíduos chegam a cultuar essa condição e até a enxerga como um ato heroico. “Mas a gente precisa repensar isso e falar sobre o assunto, para justamente banir essa ideia de que suicídio é a solução, porque essa não é a saída”, reforça.

SINAIS

Antes de atentar contra a própria vida, as vítimas normalmente costumam apresentar alguns sinais, como bem lembra Deborah. Ela reforça que, embora muitos desses casos sejam relacionados à depressão ou a qualquer outro tipo de transtorno psicológico, nem sempre o suicídio é uma consequência deles.

“A pessoa que comete o suicídio, muitas vezes, pode não estar com a depressão, por não ter sido diagnosticada ou por não ter mesmo. Inclusive as últimas pesquisas estão mostrando que isso é um pouco de mito, que todas as pessoas que cometem suicídio têm transtorno psiquiátrico”.

A psicóloga diz ainda que isso pode ocorrer, mas não com todos os casos, e listou algumas características que podem indicar um comportamento suicida.  “Muitas vezes, a pessoa vai dizer coisas como ‘eu queria sumir’, ou que vai se isolar”. Conforme destaca, fatores de risco como ansiedade, transtorno de personalidade, ocorrência de suicídio na família, persistência de ideias suicidas, automutilação, bem como desvalorização da própria vida e problemas familiares e econômicos, também precisam ser observados.

APOIO

O combate ao suicídio não se faz de maneira isolada ou apenas com tratamento psicológico ou psiquiátrico. Deborah evidencia que a família, escola e até a religiosidade podem ser cruciais na luta pela valorização da vida. “O descaso com que a gente trata as questões e habilidades sócio-emocionais acaba favorecendo para que esse tabu persista”, enfatiza. Para ela, o ambiente escolar deve ofertar um espaço de discussão deste assunto, para falar sobre o turbilhão de sentimentos que as crianças adolescentes apresentam.

A psicóloga também vê na família um ponto de apoio indispensável ao paciente com comportamento suicida. “Os pais precisam entender que os filhos, às vezes, não vão querer falar com eles sobre certos assuntos, mas eles precisam se colocar à disposição para conversar. E o psicólogo é o profissional habilitado para fazer uma escuta mais apurada daquele filho”, explica.

(Nathália Viegas)