O Círio de Nazaré em Marabá acontece neste domingo, 15 de outubro. Repleto de histórias de devoção, gratidão, força e fé em Nossa Senhora. Todos os anos milhares de fiéis – também chamados de promesseiros – cumprem de alguma forma promessas ou bênçãos recebidas. É comum ver pessoas carregando moldes de casas, fazendo o percurso de joelhos ou descalças, ou ainda crianças vestidas de anjo.
Há mais de 50 anos José Atlas Pinheiro, o Zé Pinheiro, como é conhecido, frequenta o Círio de Nazaré. Esse ano, o percurso não será feito descalço e na corda, como costuma percorrer os 7 quilômetros todos os anos. Agradecendo Maria de Nazaré por mais uma bênção alcançada, neste domingo, Zé pretende ir carregando uma cruz de quatro metros, com peso aproximado de 12 quilos.
Ao CORREIO, ele contou com exclusividade que a promessa paga será em função do milagre que vem acontecendo na vida da esposa.
Leia mais:“Agora, nessa batalha que estou passando com a minha mulher, ela (Nossa Senhora) está atendendo. É uma benção. Depois de momentos bem delicados relacionados à saúde, é um milagre o que está acontecendo na vida da Andiara Rangel Vilela. Fomos nos melhores hospitais do Brasil e todos diziam que não tinha cura para a queimadura crônica que ela tem no intestino, em função da radiação. Isso acontece em 5% dos casos com as pessoas que fazem tratamento (de câncer). O dela ainda agravou mais ainda porque pegou uma parte do ânus e estourou o intestino, por isso ela teve que usar a bolsa de colostomia. Fomos em um médico em São Paulo que afirmou não fazer tratamento em queimaduras crônicas, mas que iria fazer nela por quinze dias. Foi milagre. O caso de Andiara Vilela foi apresentado por ele em um congresso no exterior. Por incrível que pareça, com as mãos de Deus e a intercessão de Nossa Senhora, a Andiara cicatrizou. É milagre! É a fé!”, fala muito emocionado.
Com o coração cheio de gratidão, Zé Pinheiro conta que além dele, que reza de manhã e de noite para Maria de Nazaré, a mulher também se apegou mais ainda à fé, à Bíblia e à Nossa Senhora.
“Essa cruz é um agradecimento pela saúde da Andiara. Ela ainda não sabe, mas essa cruz é pra ela. Vou fazer de tudo para ir e conseguir. Vou levar um travesseiro para não machucar tanto”.
A participação dele no Círio de Nazaré começou em 1971, quando quebrou a perna em Marabá. Tendo de ir para Belém para ser operado, assim que retirou o gesso a perna estava mais curta que a outra. “Mamãe fez uma promessa que eu tinha que deixar, no carro dos milagres lá em Belém, um bastão. Então, com 12 anos de idade, fui acompanhar o Círio pela primeira vez e, desde então, participou todos os anos”, relembra, não contendo a emoção.
Sempre descalço e na corda, Zé Pinheiro fala que a energia de Maria é que faz com que ele – e os outros promesseiros – tenham força para pagar suas promessas e conseguir concluir todo o percurso.
“Tenho uma admiração muito grande pelas pessoas que acompanham o Círio. De onde vem essa força? Não dá pra explicar, é impressionante. Já vi coisas impossíveis e as pessoas conseguem chegar. Terminam felizes. Não tem dor, não tem machucado ou cansaço que impeça a pessoa de parar. Houve uma vez que eu não sentia mais os meus pés. Quando terminou, na hora de ir pra casa, começou a doer. Não aguentava dar um passo. A energia de Maria, as pessoas rezando, cantando as músicas. Isso nos dá força”.
Questionado sobre promessas já feitas e alcançadas, Zé Pinheiro respira fundo e não contém as lágrimas. Com a voz embargada, ele afirma que todos os anos faz promessa e sempre são para os outros, como sobrinhos, amigos e filhos. “Os pedidos nunca são para mim. Já fiz várias promessas e todas às vezes fui atendido. Já teve anos de eu ir só para acompanhar o Círio. Mas, na maioria das vezes faço promessa e é incrível como a intercessão dela acontece. Impressionante. Não dá pra falar ou descrever” disse, mais uma vez muito emocionado.
Por fim, o idoso enfatiza que ainda tem uma coisa no Círio que precisa concluir: o percurso na corda em Belém. “Fui na corda só uma vez e não consegui completar porque quebrei um dedo. Essa é uma das grandes frustrações que tenho, tive que sair na subida da Presidente Vargas. Tenho que terminar. Vou voltar lá”.
E sobre o Círio de Marabá, Zé afirma que vai continuar acompanhando, seja na corda ou só caminhando. Mas, enquanto tiver forças, vai participar da maior manifestação de fé do mundo.
(Ana Mangas)