De cada três alunos brasileiros, um está enfrentando problemas de conexão à internet quando tenta acompanhar atividades on-line durante a pandemia.
A estimativa foi divulgada nesta quarta-feira (30) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a partir do estudo “Impactos primários e secundários da Covid-19 em crianças e adolescentes”. A pesquisa, iniciada no ano passado, está na terceira etapa: 1.516 famílias responderam a questões sobre educação, renda, alimentação e saúde mental em maio de 2021.
“Apesar do esforço de escolas e educadores, estudantes em situação de maior vulnerabilidade têm menos acesso à internet e ao computador, o que limita as suas oportunidades de estudar e aprender adequadamente em casa. Por isso, muitos deles estão cada vez mais excluídos”, afirma Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil.
Leia mais:Entre os estudantes matriculados em escolas que oferecem aulas remotas:
- 35% relatam falta de acesso à internet ou baixa qualidade de sinal;
- 35% dizem que os adultos da casa não têm tempo para auxiliar as crianças e jovens nas lições;
- 31% afirmam que não possuem equipamentos eletrônicos adequados;
- e 24% deixam de fazer as atividades à distância porque precisam ajudar a família em tarefas domésticas.
Como acessar as aulas remotas?
Segundo o Unicef, o meio mais comum de acessar o ensino remoto é o WhatsApp, usado por 71% dos alunos que fazem atividades não presenciais.
Em seguida, aparecem: distribuição de materiais impressos (69%) e utilização de plataformas como Google Sala de Aula (55%), YouTube (28%) e televisão (14%).
Principalmente nas famílias de menor renda, o mais comum é que o estudante use apenas o celular para acompanhar as aulas on-line – mesmo com o tamanho pequeno da tela. Não há a possibilidade de utilizar computador, notebook ou tablet.
Esse obstáculo foi relatado por 65% dos alunos cujas famílias ganham até um salário mínimo e por 48% dos que se autodeclaram pretos ou pardos.
Volta às aulas presenciais: metade x metade
Nesta terceira fase da pesquisa, feita em maio de 2021, aproximadamente metade (48%) das famílias optou por mandar a criança ou o adolescente para a escola presencialmente (quando houve essa opção oferecida pelo colégio).
Entre os que estão matriculados em instituições que só oferecem atividades remotas, 74% dizem que que, mesmo que a opção presencial seja liberada, vão manter o aluno em casa até que julguem não haver riscos de contaminação por Covid-19.
“É importante envolver todos na revisão e implementação dos protocolos de prevenção da doença, e levar informação para que cada um se sinta seguro para retornar”, diz Bauer. “Além de ventilação, vacinação em massa e higienização das mãos, a escola pode incluir uma educação híbrida, com turnos [que garantam turmas menores].
A percepção de que é “muito importante” que os colégios fiquem fechados para conter a pandemia caiu, mostra a pesquisa: em julho de 2020, 82% concordavam que o melhor seria não abrir as portas. Em maio de 2021, a porcentagem foi de 59%.
Crianças sem comida
De acordo com o estudo do Unicef, 13% das pessoas que moram com crianças ou adolescentes mencionam que eles ficaram sem comer porque não havia dinheiro para comprar alimentos.