Hoje é dia de reverenciar um gigante da cultura popular brasileira. Caetano Emanuel Vianna Teles Veloso, o filho de dona Canô e Zeca, completa 80 anos. O cantor e compositor nascido em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, tem dado imensa e rica contribuição a diferentes campos das artes no país — da música à literatura — aos quais imprime suas ideias inovadoras.
Mas, a relevância de Caetano não é apenas como artista. Nas últimas cinco décadas, ele distinguiu-se também por seu posicionamento e sua atuação enquanto cidadão. Nos anos de chumbo, depois de liderar — ao lado de Gilberto Gil — o movimento tropicalista, foi taxado de subversivo, levado à prisão e posteriormente enviado ao exílio, por determinação do ditador de plantão.
Recentemente, em duas situações deixou claro de que lado está, ao liderar o Ato pela terra, na Esplanada dos Ministérios, em protesto contra os projetos de lei que ameaçam o meio ambiente; e ao homenagear, em show no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o indianista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips, assassinados na região do Vale do Javari, na Amazônia. Ele é também um dos signatários da carta em defesa da democracia, organizada pela Faculdade de Direito de São Paulo.
Leia mais:Caetano celebra o aniversário com um show/live hoje, às 20h30, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, tendo ao seu lado a irmã Maria Bethânia e os filhos Moreno, Zeca e Tom. Em postagem no seu Instagram o cantor escreveu: “Decidi resumir a festa do meu aniversário a uma apresentação com meus filhos e minha irmã. Será um show íntimo, mas com público e para ser visto ao vivo por internautas e telespectadores”.
O especial, com direção de Pedro Sechin e Raoni Carneiro, terá transmissão da Globoplay e do Multishow, mas aberta para não assinantes. Responsável pela apresentação do espetáculo, a cantora Iza ressalta: “É muito especial. Sou fã dessa lenda absurda da música brasileira. Saber que Caetano sabe quem eu sou, é demais. Participar de um evento como esse, então, é uma honra para mim”. Caetano é casado com a atriz e empresária Paula Lavigne e tem três netos: Rosa, José e Benjamim.
A obra musical do artista está registrada em 28 discos de estúdio, 19 gravados ao vivo, outros que dividiu com Gilberto Gil, Chico Buarque, Maria Bethânia e Gal Costa, além dos coletivos Tropicália ou Panis et Circensis e o Doces Bárbaros. Desses trabalhos saíram incontáveis clássicos, alguns dos quais vai revisitar no show desta noite. Depois de uma longa temporada sem compor, Caetano gravou o álbum de inéditas Não vou deixar, em que desfecha várias críticas e comentários à situação política do país. Não vai deixar que esculhambem com o Brasil.
Em Verdade Tropical, a autobiografia, Caetano reuniu memórias, ensaios e histórias, nos quais faz reflexão sobre questões relacionadas com sua formação cultural, tendo como eixo central o movimento tropicalista. Um dos capítulos do livro, o que trata de sua prisão pela ditadura militar, ele narrou no documentário intitulado Narciso em férias, lançado em 2020.
No campo do audiovisual, o artista baiano produziu e dirigiu o experimental e controverso filme O Cinema Falado. A paixão dele pela chamada sétima arte vem desde a adolescência. Antes de se tornar famoso, escreveu críticas e ensaios sobre películas que assistiu, publicados nos jornais Archote, de Santo Amaro, e Diário de Notícias, de Salvador. Esses artigos foram reunidos numa antologia, ainda sem título, organizada pelo jornalista Cláudio Leal e o fotógrafo Rodrigo Sombra, que sairá pela Cia. das Letras.
Outras palavras
Livros que abordam aspectos da vida do e da obra do tropicalista também estão sendo lançados. Um deles é o Outras Palavras — Seis Vezes Caetano, biografia pouco convencional, escrita pelo jornalista carioca Tom Cardoso, recém-lançado pela editora Record. Seis capítulos temáticos revelam, a partir dos títulos, facetas do biografado: O Homem de Santo Amaro, O Polêmico, O Líder, O Vanguardista, O Amante e O Político.
Já no Lado C, os pesquisadores Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes abordam a trajetória musical de Caetano Veloso até a reinvenção com a Banda. Essa aventura sonora, algo similar ao rock indie, ele desenvolveu na companhia dos jovens instrumentistas Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria), que formavam, e resultou na trilogia formada pelos álbuns Cê, Zii e Abraçaço. O lançamento é da Editora Máquina de Livros.
Fãs do tropicalista podem apreciar, também, o E-book com um ensaio do Silviano Santiago, de 1972, disponibilizado nas plataformas digitais pela Cepe Editora. Em parte do texto, o escritor mineiro relata: “Em determinado e específico momento do movimento tropicalista, Caetano Veloso se enveredou só por entre os caminhos tortuosos e expondo seu cabelo e suas fantasias, seu corpo e sua voz, tornando-se ao mesmo tempo criador e objeto de uma plateia cada vez mais eminente, pois seus espetáculos extrapolavam o círculo da música popular e se propunha como a síntese que estavam procurando os artistas brasileiros”. (Correio Brasiliense)