📅 Publicado em 19/12/2025 16h50✏️ Atualizado em 19/12/2025 18h02
Exatamente um ano após o trágico colapso que abalou o país, a nova ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira (Ponte JK) será inaugurada nesta segunda-feira, 22 de dezembro, em uma cerimônia que simboliza não apenas a reconstrução de uma estrutura de concreto e aço, mas a restauração de uma artéria econômica e social vital para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.
O evento, marcado para as 11 horas, ocorrerá simultaneamente nas duas cabeceiras da ponte, nos municípios de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), e contará com a presença do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, e dos ministros dos Transportes, Renan Filho, e do Esporte, André Fufuca, marcando a rápida resposta do Governo Federal a um desastre de grandes proporções.
A nova estrutura, erguida em tempo recorde sobre o Rio Tocantins na BR-226, representa um marco de engenharia e gestão. Com um investimento de R$ 171,97 milhões do Governo Federal, a ponte foi projetada para ser mais robusta e segura, superando as especificações da antecessora. A obra, executada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), não é apenas uma promessa de segurança, mas um alívio para uma região que sofreu duramente com a interrupção do fluxo.
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A nova Ponte JK é uma estrutura projetada para suportar o intenso tráfego da região. Com 630 metros de extensão e 19 metros de largura, a ponte é significativamente maior que a original, que tinha 533 metros. O vão livre central, um dos pontos críticos da estrutura antiga, foi ampliado para 154 metros, garantindo maior segurança à navegação e à própria ponte.
A estrutura conta com duas faixas de rolamento de 3,6 metros cada, acostamentos de 3 metros em ambos os lados – um avanço crucial para a segurança viária –, além de barreiras de proteção do tipo “New Jersey” e passeios para pedestres com guarda-corpo. A concepção da obra foi pensada não apenas para restabelecer o tráfego, mas para modernizar a travessia, adequando-a às necessidades atuais e futuras do transporte de cargas e passageiros.

A ferida aberta
Antes de celebrar a engenharia, é imperativo recordar o custo humano da queda da antiga ponte. No dia 22 de dezembro de 2024, por volta das 14h50, a vida de dezenas de pessoas foi irrevogavelmente alterada. O desabamento do vão central de 140 metros arrastou dez veículos para as águas do Rio Tocantins, em um cenário de caos e desespero que marcaria para sempre a memória coletiva da região.
A tragédia resultou na morte confirmada de 14 pessoas. Famílias foram desfeitas, histórias foram interrompidas, e comunidades inteiras sentiram o luto. Os nomes daqueles que se foram ecoam como um chamado à responsabilidade e à memória. Cada uma dessas 14 vidas tinha uma história, um sonho, uma razão para estar naquele lugar naquele exato momento.
As operações de busca e resgate, conduzidas heroicamente pela Marinha do Brasil e pelos corpos de bombeiros estaduais, estenderam-se por semanas, em uma luta contra a correnteza, a baixa visibilidade e as condições adversas. Os mergulhadores enfrentaram águas turvas e perigosas, enquanto as famílias aguardavam na margem do rio, entre a esperança e o desespero. Cada corpo recuperado era um misto de alívio por ter sido encontrado e dor pela confirmação da morte.
Três pessoas, no entanto, nunca foram encontradas, e suas famílias vivem com a dor da ausência e da incerteza que não cicatriza. Salmon Alves Santos, de 65 anos, e seu neto, Felipe Giuvannuci Ribeiro, de apenas 10 anos, que viajavam juntos, foram levados pelas águas do Tocantins. A imagem de um avô e seu neto desaparecidos na mesma tragédia é um símbolo da crueldade do acidente. Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos, também permanece desaparecido, deixando uma família inteira em luto permanente.
Apenas uma pessoa, Jairo Silva Rodrigues, de 36 anos, foi resgatado com vida, tornando-se o único sobrevivente direto da queda. Sua sobrevivência é um milagre em meio à tragédia, mas também um testemunho vivo do horror daquele domingo. A comunidade local, unida pela dor, realizou vigílias e prestou apoio mútuo durante os meses seguintes. A inauguração da nova ponte, para muitos, é um momento de luto renovado, mas também um passo necessário para a superação, um monumento que, embora moderno, carregará para sempre a memória daqueles que se foram.
O colapso não foi uma surpresa completa. Relatórios do próprio DNIT, datados de 2020, já apontavam problemas estruturais graves, como rachaduras e inclinação de pilares. A ponte era classificada com nota 2 em uma escala de risco, indicando problemas sérios, embora sem risco iminente de queda.
Em fevereiro de 2025, os destroços da antiga estrutura foram implodidos para dar lugar à nova construção. A reconstrução, agora concluída, encerra um capítulo de dor e incerteza, mas deixa lições sobre a necessidade de manutenção e modernização da infraestrutura nacional.

Economia
A Ponte JK é um componente essencial da BR-226, que se conecta à BR-010, formando um dos eixos da histórica Rodovia Belém-Brasília. Por ali, escoa-se grande parte da produção de grãos, especialmente a soja, do sul do Maranhão, do leste do Pará e do norte do Tocantins em direção aos portos.
Com a interrupção, a economia local sentiu o impacto de forma avassaladora. Estima-se que cerca de 2.100 caminhões cruzavam a ponte diariamente. Da noite para o dia, esse fluxo foi estancado.
Para contornar o obstáculo do Rio Tocantins, o poder público implementou um sistema de travessia por balsas. O DNIT contratou embarcações que operaram gratuitamente durante todo o ano, com quatro pontos de acesso equipados com rampas, dois em cada margem.
O DNIT estabeleceu duas rotas de desvio principais: uma de 191 km, passando por Darcinópolis (TO), Axixá do Tocantins (TO) e Sítio Novo do Tocantins (TO) até chegar a Imperatriz (MA); e outra, mais curta, de 125 km, de Estreito (MA) a Imperatriz (MA) via Porto Franco (MA). Essas rotas, embora funcionais, sobrecarregaram rodovias estaduais e municipais, causando transtornos para as populações locais e acelerando o desgaste do pavimento.

