A ioga já entrou no cotidiano de muitos brasileiros. Ela trabalha com exercícios voltados para cada membro do corpo humano, trazendo benefícios à saúde física e mental. O que muita gente não conhece é a vertente voltada aos olhos, a técnica chamada de Trataka, que tem sido muito utilizada por pessoas que apresentam problemas crônicos de visão.
Em tempos de pandemia, nos quais cada vez mais pessoas sofrem com super-exposição a telas por ficarem por um longo período isoladas dentro de casa e ainda tendo de cumprir suas obrigações trabalhistas em home office, o Trataka pode atenuar o impacto à saúde dos olhos.
Presidente da sede brasileira da Associação Internacional de Professores de Yoga (IYTA), em São Paulo, Ana Ivanovic define a Trataka como uma série de movimentos com os olhos que fazem o nervo óptico trabalhar. “Ela costuma reduzir problemas de miopia, estrabismo e alguns outros problemas oculares”, aponta.
Leia mais:Trataka e suas subcategorias
A professora de ioga Keyvianne Alexandre ministra aulas de ioga em Fortaleza e é adepta do Trataka. Ela conta que a técnica faz parte do Kriya, ritual de purificação muito antigo, descrito no Gherandha Samhita — um manual de Hatha Yoga do século XVII. Os movimentos podem ser feitos de três formas diferentes.
Keyvianne detalha e explica cada uma das três subcategorias de Trataka, que mudam de acordo com os materiais utilizados ou objetivos pretendidos. A professora ressalta que esses exercícios podem ser feitos a qualquer momento do dia.
Bahirgatrtaka
Exercício externo, que inclui a fixação do olhar em algum ponto, como uma flor, uma folha, um símbolo ou a chama de uma vela, sem piscar, até lacrimejar intensamente.
Antargatrtaka
Exercício interno, que envolve visualização no espaço escuro dentro da cabeça, na altura do intercílio. O objetivo é alcançar a mesma clareza de quando se olha para o objeto com os olhos abertos.
Artarbahirgatrtaka
Combina os outros dois, de forma alternada.
Trataka e o impacto da modernidade tecnológica nos olhos
Diante da super-exposição vívida na era dos smartphones, Ana Ivanovic defende que a Trataka pode atenuar os impactos negativos do mundo tecnológico na visão das pessoas cujos olhos ficam sobrecarregados por telas e luminosidade.
“Acredito que assim como ajuda as pessoas que já têm patologias, a técnica de ioga vai ajudar diminuir os efeitos dessa modernidade. Porque a modernidade de olhar para o computador ou para o celular está atrapalhando bastante a visão do ser humano”, diz a presidente nacional da IYTA.
Segundo ela, o Trataka também fortalece os olhos, estimula as glândulas lacrimais, desenvolve a concentração e estimula os centros nervosos e músculos ópticos, chegando em alguns casos a aliviar os sintomas da miopia ou do astigmatismo.
Conforme a professora do Espaço Clara Luz, a técnica atua como processo de limpeza psicológica. “Já foi observado que, durante a prática inicial de Trataka, a mente subconsciente e a inconsciente são ativadas, e isso ajuda a trazer à consciência certas experiências reprimidas”, argumenta Keyvianne.
Passo a passo das principais técnicas de Trataka
Segundo Keyvianne, há várias técnicas dentro do Trataka. Ela ensina, passo a passo, a do olhar fixo na chama da uma vela.
Olhe para a chama da vela a uma distância de um braço na altura dos seus olhos por um minuto, sem piscar. Depois dos 60 segundos, feche os olhos, relaxe os músculos dos olhos e visualize a chama no ponto entre as sobrancelhas por um minuto.
Repita esta prática por cinco a seis minutos. Gradualmente, vá aumentando o tempo de permanência do olhar fixo na chama, sem piscar, usando o mesmo tempo para relaxar os olhos fechados.
Após finalizar os exercícios, mantenha os olhos fechados por um minuto. Fique atento ao momento presente, aos seus sentimentos, ao efeito da prática, ao lugar onde você está. Então, movimente-se devagar. Abra os olhos.
Quem pode fazer Trataka
De acordo com Keyvianne, não há uma especialização destinada para aprender o Trataka. Segundo ela, os professores geralmente aprendem dentro do conteúdo de Kriyas e nas formações e especializações. Ela explica que a técnica é introduzida dentro do roteiro de aula da ioga, que se preocupa em trabalhar todos os membros do corpo.
A subcategoria Bahirgatrtaka pode ser feita por qualquer pessoa, sem contraindicações. Já a Antargatrtaka e a Artarbahirangatrataka não deve ser praticada por pessoas com glaucoma e/ou epiléticos.
(Fonte: O POVO)