Correio de Carajás

Torcedor do Águia vai preso após denúncia de racismo contra jogador do Caeté

Meia Fidelis não deixou barato e foi direto para a delegacia para registrar Boletim de Ocorrência contra o ato de racismo
O Águia de Marabá venceu o Caeté por 2 a 0, na noite deste sábado, 9, na primeira partida das quartas de final do Campeonato Paraense 2024. Mas apesar da vitória, um fato ocorrido ainda aos 39 minutos do primeiro tempo, quando o jogo estava 0 a 0, manchou o resultado da partida. O fato foi tão preocupante para a diretoria do time Caeté, que o ônibus com os atletas e diretoria do clube saiu da porta do Zinho Oliveira escoltado pela Polícia Militar.
O atleta Fidelis, do time visitante, teria sido xingado por um torcedor, identificado como Charles Martins dos Santos Pereira, que estava numa torcida organizada do Azulão Marabaense. A vítima estava no aquecimento na beirada do campo, próximo à torcida, quando foi xingada, mas esperou o jogo terminar e, junto com algumas testemunhas, foi direto para a delegacia de polícia da Folha 30, onde registrou Boletim de Ocorrência.
A Reportagem do CORREIO foi à Seccional de Polícia da Folha 30, na manhã deste domingo, 10, e ouviu o delegado Bruno Martins Mesquita, o qual disse que o procedimento foi lavrado após o término do jogo, e que o incidente teria ocorrido entre os 35 a 40 minutos do primeiro tempo. “Conseguimos comprovar não apenas com a palavra da vítima, mas também com depoimentos de testemunhas, que o suspeito havia se excedido e vociferado palavras e expressões de cunho racista e discriminatório. Não tivemos outra alternativa, a não ser prendê-lo em flagrante delito”, disse o delegado Bruno Mesquita.
A autoridade policial disse, ainda, que as diligências continuam e que vão tentar angariar outros meios de prova, embora reconheça que filmagens com áudio do momento do crime sejam escassas. “A vítima não tinha motivos para falsa acusação, até porque não conhecia o autor e não tinha rixa em relação ao mesmo”.
Ainda segundo o delegado Bruno Mesquita, que não quis repassar o nome do suspeito, ele seria membro da diretoria de uma torcida organizada do Águia de Marabá.
Charles foi autuado pelo crime de injúria racial, equiparado a hediondo, sendo inafiançável pela autoridade policial. Por isso, dele passar por audiência de custódia antes das 14 horas deste domingo, e o juízo determinará se decreta prisão preventiva ou até mesmo conceder liberdade provisória sem fiança. “Infelizmente, não é o que a gente queria, mas não vi outra alternativa que não fosse lavrar o auto de prisão. Além do efeito punitivo em si, não descartamos o efeito pedagógico, para que esse caso sirva de alerta a todo cidadão e torcedor, seja de Marabá ou de outros municípios do Pará. Precisamos respeitar o próximo e sempre prezar pela dignidade da pessoa humana”, finalizou o delegado.
A Reportagem ouviu Sérgio “Baygon”, chefe da Torcida do Águia de Marabá. Segundo ele, o suspeito de ter cometido o crime de racismo contra o atleta do Caeté não faz parte da diretoria e nem da própria Torcida Organizada. “Ele é apenas um amigo nosso, contribui com algumas coisas, mas é um torcedor comum do Águia. Somos contra qualquer tipo de injúria contra pessoas, seja racial ou de outra natureza”.
VERSÕES DOS CLUBES
No início da manhã deste domingo, Caeté e Águia de Marabá emitiram nota sobre o ocorrido. Leia a seguir as duas:
NOTA DE REPÚDIO DO CAETÉ
“A Sociedade Esportiva Caeté expressa veementemente sua indignação diante do ato de racismo perpetrado contra o atleta Fidelis por um torcedor em Marabá, durante a partida de hoje. O racismo é uma violação intolerável dos direitos humanos e dos valores fundamentais do esporte. O atleta prestou depoimento na Seccional da Polícia Civil de Marabá e o caso está sendo conduzido pelas autoridades.
Reiteramos nosso compromisso inabalável contra qualquer forma de discriminação racial. O Clube repudia esses atos de ódio e preconceito, que não têm lugar em nosso campo, nas arquibancadas ou em qualquer outro lugar da sociedade.
Nossa solidariedade ao atleta Fidelis. Estamos ao seu lado e faremos todo o possível para apoiá-lo neste momento. Vamos trabalhar para garantir que ele receba o apoio necessário e que o responsável por esse ato repugnante seja responsabilizado.
Reafirmamos nosso compromisso com a promoção da igualdade, diversidade e inclusão em nosso clube e em toda a comunidade do esporte. Juntos, continuaremos lutando contra o racismo e todas as formas de discriminação, para construir um ambiente onde todos os atletas possam competir com respeito e dignidade”. –
Assessoria de Imprensa Caeté.
NOTA DO ÁGUIA DE MARABÁ
“O Águia de Marabá se solidariza com o atleta Fidélis, da Sociedade Esportiva Caeté, que foi vítima de um ato de racismo na partida de hoje. O Águia esclarece que o “torcedor” que praticou tal ato foi identificado e conduzido imediatamente para a delegacia da Polícia Civil.
O Azulão está à disposição do atleta e das autoridades competentes, se comprometendo a colaborar com o que for necessário para a devida apuração dos fatos.
O Águia de Marabá ressalta que ao longo de sua grandiosa história jamais compactuou com tais atos abomináveis e que assim sempre será. Racistas não passarão!” – Águia de Marabá Futebol Clube.
O Águia, no entanto, não disse que vai aplicar alguma punição ao torcedor, como fazem outros clubes Brasil afora e também no exterior, deixando o acusado de fora do estádio por um determinado tempo, ou até mesmo banindo o mesmo para sempre dos jogos do clube.
A Federação Paraense de Futebol também não havia se manifestado sobre o caso até a publicação desta reportagem. Na delegacia, a Reportagem não conseguiu falar com o acusado Charles e nem identificou seu advogado. (Ulisses Pompeu)