Tião Miranda, que deixou o cargo de prefeito de Marabá no dia 31 de dezembro de 2024, veio à Redação integrada do Grupo Correio de Comunicação na tarde de terça-feira (14) para apresentar detalhadamente o dinheiro que deixou nas dezenas de contas da Prefeitura de Marabá para que o atual gestor, Toni Cunha, possa trabalhar.
A entrevista de Tião serve, também, como resposta às recentes declarações do atual prefeito de Marabá sobre pagamento de servidores da educação, por exemplo. Durante a conversa, Miranda deixa claro que a nova gestão só não trabalha pelo município se não quiser.
Em documentos financeiros apresentados à reportagem, fica exposto que ao findar seu mandato, Tião deixou nas contas bancárias da prefeitura um montante de mais de R$ 169 milhões, que representa a soma dos saldos do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (total de R$ 161.069.299,13), mais o Banpará (R$ 3.043.000,62). Juntos chegam a R$ 169.525.418,76.
Leia mais:A somatória inclui valores de convênios, outros de destinações exclusivas e, também, da arrecadação própria do município. Este último, inclusive, pode ser usado da maneira que o novo prefeito achar melhor. “Parte desse valor vem de convênios, mas há muito recurso próprio para a nova gestão utilizar onde quiser”, justifica o ex-prefeito.
Ao passar a faixa de prefeito para Toni Cunha (PL), Tião deixou uma “herança bendita”, como ele mesmo nominou e que poucas gestões conseguem oportunizar para a próxima nos vários municípios brasileiros, inclusive capitais. De acordo com ele, tamanho volume de recursos não é visto em municípios como Parauapebas, mais rico que Marabá, ou até em capitais como Goiânia (GO) e Cuiabá (MT). “Eu vejo os novos prefeitos reclamarem nesses lugares porque as contas ficaram no vermelho”, pontua.
Nos documentos apresentados por Tião, há informações sobre o saldo em conta de duas autarquias municipais. A Superintendência de Desenvolvimento Urbano (SDU) e o Instituto de Previdência Social dos Servidores Municipais de Marabá (Ipasemar).
No caso da SDU, o ano de 2024 encerrou na casa dos milhões, com R$ 4.195.466,60 nas contas. Além disso, também consta R$ 117.517,92 na conta do Conselho e R$ 1.100.134,49 no Fundo do Conselho.
Já o Ipasemar, responsável pela aposentadoria e pensão dos servidores concursados, o valor computado passa de um bilhão, sendo R$ 1.099.813.075,87. “Nós estamos deixando dinheiro na conta, ele só não trabalha se não quiser. Dá para trabalhar, dá para fazer muito por Marabá”, diz, categoricamente, Tião Miranda.
1/6 DOS PROFESSORES
Na entrevista, Tião também comentou sobre uma atitude recente de Toni Cunha, que foi para as redes sociais anunciar o pagamento de 1/6 de férias dos professores, alegando que estaria atrasado. O ex-prefeito destaca que, conforme a legislação, o recurso só pode ser pago no mês de janeiro porque seu vencimento acontece em 31 de dezembro. “Esse dinheiro estava lá na conta, só não foi pago antes porque não pode, apenas em janeiro”, garante.
Ou seja, a ação do atual prefeito não é uma iniciativa nova ou exclusiva, mas o cumprimento da legislação, fato que ocorre anualmente independente de quem está à frente da gestão do município. Assim como o 1/3 de férias é pago todo mês de julho.
DEMISSÕES E RACHADURAS
Outros dois temas, também levados pelo atual prefeito para as redes sociais, tratam da demissão de 99 estagiários da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM) e o registro de rachaduras na ponte “Dona Ana Miranda”, inaugurada no final de dezembro de 2024.
Sobre as demissões, Tião lamenta a decisão e afirma que estágios são oportunidades de aprendizado e qualificação da juventude marabaense, tendo, ele mesmo, sido um estagiário décadas atrás.
O ex-prefeito explica que a FCCM possui diversos projetos e teve um crescimento exponencial nos últimos anos. Os estagiários da Fundação atuavam em locais como o Museu Municipal Francisco Coelho, no Bairro Pioneiro. Ao todo, são 21 extensões com 24 cursos oferecidos pelo município para milhares de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
“O estagiário não é funcionário, ele não gera nenhum encargo. O estágio é uma maneira de dar oportunidade para o jovem se qualificar e ganhar alguma remuneração, até para ir ao local de estudo”. Ele também garante que todas as secretarias do município possuíam estagiários.
Em relação às rachaduras da nova ponte, ele afirma que o ocorrido é normal e esperado, uma vez que se trata da dilatação da construção. É importante destacar que a capacidade de acomodar a expansão e contração dos materiais de que as pontes são feitas, é crucial para a segurança e a longevidade dessas estruturas. A relevância desse fenômeno se deve principalmente às variações de temperatura e outros fatores ambientais e de carga.
“A rachadura na ponte ocorre na junção entre a estrutura e o asfalto, porque é asfaltado por cima (da estrutura) e isso não tem nada a ver, é a dilatação que ocorre, isso acontece. A ponte é cheia de juntas de dilatação”, argumenta o ex-prefeito.
DÍVIDAS E O HMM
A situação do Hospital Municipal de Marabá (HMM) foi outro assunto colocado sob os holofotes do atual prefeito em suas redes sociais. Sobre isso, Tião destaca que a Casa de Saúde é o único pronto socorro da região, que está em funcionamento. Por causa disso, o hospital recebe demandas de diversos municípios vizinhos, não apenas da população marabaense.
“Saúde é sempre complicado porque é algo que não é possível dimensionar a quantidade de pessoas que serão atendidas”, reflete Tião Miranda. Ele também verbaliza que Toni Cunha precisa trabalhar e não reclamar. “Se o prefeito não pegar no cabo da enxada e ficar só na rede social a coisa vai só piorando”.
Questionado sobre as dívidas que sua gestão assumiu no passado, valor que chegava a R$ 200 milhões, ele afirma que não gosta de falar no assunto porque, em sua filosofia, não é possível mudar o passado. “Nós quitamos tudo. Se foi um erro dos outros, ele serve para a gente aprender a não cometê-los novamente. Nós tivemos uma postura de ‘vamos tocar o barco, vamos fazer as coisas’ e pagamos tudo”.
FÉRIAS
Sobre seu futuro político, Tião Miranda diz que no momento sua intenção é relaxar e descansar. “Eu preciso disso porque meu trabalho foi muito intenso, eu não faltei um dia na prefeitura. Quero dar uma viajada, viver uma vida mais tranquila”.
Ele não descarta a disputa por um novo cargo eletivo, em dois anos, mas garante que isso não está em seus planos no momento.
(Luciana Araújo)