No dia em que O Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública do Pará anunciaram que entraram com uma ação na Justiça para obrigar a Prefeitura de Marabá a realizar, com urgência as mais de 5.000 cirurgias eletivas que estão numa fila há vários meses, o prefeito da cidade, Toni Cunha, decidiu bancar com recursos da Prefeitura o show do cantor Zezé Di Camargo, reacendendo o debate sobre prioridades administrativas no município.
O anúncio ocorreu após o Governo Federal desistir de custear a apresentação, em meio à polêmica nacional envolvendo o artista, que na última semana criticou publicamente o SBT e as filhas de Silvio Santos, atuais dirigentes da emissora.
Em publicação nas redes sociais, o prefeito atribuiu a retirada do apoio federal a uma suposta retaliação política e anunciou que o município assumirá integralmente o custo do espetáculo. “O GOVERNO LULA em um ato de perseguição a Zezé Di Camargo e ao povo de Marabá, mesmo após empenho e aprovação de seu próprio ministério do Turismo, mandou cancelar o custeio que prometeu para Marabá. MARABÁ VAI PAGAR E O SHOW está mantido!!! Determinei que a procuradoria entre na justiça contra o governo federal! Ano que vem te daremos a resposta Lula. E pega subindo que descendo é contramão!!”, escreveu Toni Cunha.
Leia mais:A postura do prefeito, no entanto, provocou críticas ao ser confrontada com um dos problemas mais graves da gestão municipal: a crise nas cirurgias eletivas. A Ação Cível Pública ajuizada contra a Prefeitura de Marabá aponta a existência de uma fila superior a 5 mil pacientes aguardando procedimentos cirúrgicos pelo SUS, muitos deles em situação de agravamento clínico.
A ação judicial destaca falhas na execução de recursos disponíveis, sobrecarga do Hospital Municipal e ausência de medidas eficazes para reduzir a demanda reprimida, cenário que contrasta com a disposição do Executivo em assumir um gasto considerado elevado para um show de até duas horas de duração.
A comparação entre os dois contextos intensificou o debate público. Enquanto a Prefeitura enfrenta cobranças judiciais para iniciar cirurgias em até 10 dias e zerar a fila em seis meses, sob pena de multa diária, o município se compromete a arcar com o cachê de um artista envolvido em controvérsia nacional, após a perda do patrocínio federal.
A decisão de Toni Cunha expõe uma escolha política clara e levanta questionamentos sobre a hierarquização de prioridades na gestão municipal. Em meio a uma crise de saúde reconhecida pelo próprio sistema de Justiça, o uso de recursos públicos para custear um espetáculo artístico passou a ser visto por setores da sociedade como símbolo de um descompasso entre discurso, gestão e necessidades urgentes da população.
