O ano de 2023 iniciou com o Rio Tocantins dando um salto de 5,90m para 8,12m acima do nível habitual. Para saber como está a preocupação e o drama de alguns dos primeiros moradores a serem atingidos pelas enchentes quase anuais de Marabá, uma equipe do Correio de Carajás foi até a ocupação do Campo del Cobra, situada no núcleo Marabá Pioneira, na manhã desta terça-feira (3), onde conversou com residentes. O chefe de gabinete da prefeitura de Marabá, Walmor Costa, também se posicionou sobre a elevação das águas.
Josuane da Conceição Costa, de 31 anos, mãe de cinco filhos e moradora há oito anos da ocupação, falou que já está preocupada com a possível enchente, tendo em vista que é uma das primeiras a precisar se retirar do local: “Nós temos que ir atrás das madeiras para construir nosso barraco em frente à Fundação Casa da Criança”, conta, acrescentando que quando a prefeitura toma a iniciativa de construir os abrigos a circunstância costuma já ser indigna.
A mulher aponta para o esgoto que corre ao lado de casa e enxerga que o pior já está por vir, considerando o alagamento e a água parada, que além de demonstrar o início de um desespero, também fala muito sobre a falta de saneamento básico e a situação de calamidade, já que a família de Josuane e outras ao redor convivem com a cheia. Até cobras que chegam junto com a subida do rio já foram e ainda são motivo de preocupação, segundo a mãe.
Leia mais:Morador há muitos anos da ocupação, Francivaldo Manoel da Silva Cavalcante, de 40 anos, viu a área ser aterrada após a construção da Av. Pará e já mostra um sentimento diferente: o de conformismo. Questionado sobre o que irá fazer quando o rio começar a subir e ele precisar sair, o homem diz tranquilamente que é a luta de sempre: “Fazer o quê? É coisa de Deus”, pontua, como quem entende que faz parte de sua história e de muitos marabaenses.
Ele é um dos que, quando a residência é tomada pela água, monta seu barraco em frente à Orla e espera o rio descer para então retornar. Para Francivaldo e muitos outros, isso faz parte de uma conjuntura regular e não enxerga uma forma de mudar o literal “curso do rio”.
Mas como toda regra tem exceção, Naldo Souza, vizinho dos outros entrevistados, afirma que só sai de sua casa depois dos 10m. Além disso, ele cita que a área é uma das terceiras a serem realmente afetadas, afirmando que o “Baixão do Vavazão” e muitos moradores da Vila Canaã, conhecida como Vila do Rato, são os primeiros a sentirem o poder da cheia.
Questionado sobre a preparação da Defesa Civil de Marabá em relação à cheia, Walmor Costa respondeu que, sem dúvidas, e que assim como aconteceu no ano passado, medidas já estão sendo tomadas, como a aplicação de planos de contingência: “Já nos reunimos duas vezes com o Corpo de Bombeiros, Exército e Defesa Civil do Estado, junto às secretarias apoiadoras, no intuito de formar um plano de ação”.
Sobre a questão dos abrigos e se seriam os mesmos utilizados no ano de 2022, o chefe de gabinete afirmou que os locais serão os mesmos, no entanto, ressaltou ser muito prematuro falar nisso, tendo em vista que a essa altura, no ano passado, o rio já estava bem acima do que se encontra hoje. Para ele, isso é sinal de que não haverá uma enchente como a anterior. No entanto, assegurou que todas as precauções serão tomadas mediante à gravidade que se instalar.
O mapeamento de todas as áreas afetadas pelas cheias, realizado pela Defesa Civil em parceria com a Secretaria de Assistência Social, trouxe um maior esclarecimento sobre os ambientes de maior e menor preocupação, etiquetados por zonas verdes, amarelas, laranjas e vermelhas, conforme a periculosidade de cada uma: “Se o rio chegar aos 10m, nós saberemos quantas pessoas serão desabrigadas e onde, assim, teremos consciência do que vamos precisar para dar cobertura e a ajuda necessária para esses marabaenses.
Para encerrar, Walmor garante que caso haja o perigo de uma cheia, todas as precauções necessárias serão tomadas. (Thays Araujo)