Em casa, cercada pela família e brincando com um animal de estimação, a agente de saúde Juliana Leite Rangel, de 26 anos, compartilhou a emoção de retornar ao lar após mais de um mês internada. A jovem foi baleada na cabeça na véspera de Natal, durante abordagem de agentes da Policiais Rodoviária Federal, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Em entrevista ao programa “Encontro com Patrícia Poeta”, da TV Globo, na manha desta sexta-feira, contou como tem sido esse retorno.
— O que foi mais difícil para mim foi voltar a andar, voltar a comer, tive que reaprender tudo, mas graças a Deus estou conseguindo ir bem — contou Juliana Leite, sentada ao lado da mãe, Deise Rangel.
Nas imagens feitas na casa da irmã, em Niterói, onde ficará em repouso, Juliana aparece sorrindo com a família, deitada no sofá e brincando com um cão. A jovem recebeu alta na quinta-feira, por volta das 14h, e deixou o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, numa cadeira de rodas. Segurando um terço e visivelmente emocionada, a paciente deixou a unidade sob aplausos da equipe médica.
Leia mais:Durante a internação, Juliana havia manifestado o desejo de comer uma coxinha de frango. Ao receber alta, disse que esse seria um dos primeiros desejos a realizar ao voltar para casa. No programa desta sexta-feira, revelou que ainda aguarda por esse momento, assim como pela tão esperada ceia de Natal, interrompida naquela noite.
— Ainda não comi coxinha, estou esperando o médico autorizar. Mês que vem vai ter a ceia. Estou falando para todo mundo: mês que vem é meu aniversário e vai ser Natal. Porque pavê esse ano foi só “para ver” mesmo, não foi para comer não — brincou.
Deise Rangel, mãe de Juliana, relembrou os 44 dias de internação ao lado da filha e destacou a importância desse momento para a família. Segundo ela, a jovem merece ter a ceia de Natal que não pôde celebrar, e os preparativos já estão em andamento para realizar esse desejo.
— A gente ficou com aquela expectativa, “será que ela vai voltar do jeito que ela era, sem sequela alguma”? Ela sempre foi uma pessoa alegre e brincalhona. Todas as coisas que fazíamos em família tínhamos que chamar a “Juju”. Ainda estou muito feliz pelo o que aconteceu. Juliana tá aqui com a gente, estou muito agradecida. A ceia de Natal tem que ter, vamos fazer uma reunião e vamos fazer a ceia da Juliana — prometeu a mãe.
Durante a entrevista, Juliana revelou que, antes de conseguir se comunicar verbalmente, recorreu à escrita. Durante a internação, preencheu cerca de cinco cadernos.
— Eu pensei: vou ter que dar um jeito de me comunicar com ela. Eu escrevia muito, escrevi cinco cadernos — disse.
Na quinta-feira, antes deixar o hospital em uma ambulância, Juliana ficou de pé com ajuda de funcionários e subiu os degraus do veiculo, até se acomodar.
De acordo com o diretor-geral do hospital, Thiago Rezende, após 44 dias internada, a agente de saúde conseguiu recuperar a parte motora, mas está com um pouco de dificuldade de andar, isso porque ficou muito tempo internada, o que fez com que ela perdesse “massa muscular”.
— Juliana realmente é um milagre. Como o tempo, e fisioterapia, ela vai recuperar a parte motora e vai andar. Depois da alta, vamos marcar o ambulatório de forma recorrente pelos próximos meses. Ela já foi liberada para fazer fonoaudiologia, já conseguiu se alimentar sem sonda, e sem ajuda — explicou o médico.
Segundo o profissional, a equipe médica acredita que Juliana poderá ter uma melhora significativa e voltar a ter um vida normal.
— É o que ela mais quer. Ela trabalha na área da saúde, está se formando. E ela pretende se dedicar a isso. Quem sabe trabalhar um dia aqui no hospital — disse o doutor.
Durante o período em que ficou internada, Juliana chegou a ter o estado de saúde considerado gravíssimo pelo médicos. Quando apresentou uma melhora, a jovem teve que lutar contra uma infecção.
Juliana e a família estavam a caminho de Itaipu, em Niterói, quando o carro foi atingido por mais de 30 disparos após uma abordagem equivocada da PRF.
O caso segue sob investigação da Polícia Federal e da Corregedoria da PRF. Os policiais envolvidos foram afastados preventivamente e as armas utilizadas — dois fuzis e uma pistola automática — estão sendo periciadas. A abordagem, que ocorreu durante o plantão especial de Natal, foi justificada pelos agentes como um erro ao suporem que o veículo estava ligado a disparos ouvidos na região.
(Fonte: Jornal O Globo)