Correio de Carajás

Tipicamente brasileiro, açaí vira café da manhã de europeus

Desde 2016, crescimento de vendas somente na Espanha esteve acima de 20%, chegando a 50% em 2021 e 2022; setor hoteleiro e supermercados são principais compradores

Tipicamente brasileiro, açaí vira café da manhã de europeus — Foto: Léo Martins / Agência O Globo

Cidade de Jerez de la Frontera, província de Cádis, Espanha. Hora do café da manhã. Entre cafés, torradas com tomate e presunto e pastéis variados, o cardápio de uma cafeteria especializada em produtos sem glúten oferece uma tigela de açaí, na qual se serve, junto com outras frutas, esta palmeira da Amazônia brasileira, que deu um salto para a Europa há alguns anos. Desde então, os espaços dedicados à fruta multiplicaram-se. Sua intensa cor roxa — antes de processar é semelhante a um mirtilo — também o tornou o queridinho de milhares de instagramers e tiktokers.

Silvia Orduna, de 33 anos, estudou um ano no Rio, mas ainda lembra que na portaria da universidade havia um carrinho vendendo açaí que as pessoas “comiam todos os dias”. “A verdade é que era muito diferente do que está na moda aqui [na Espanha]”, diz, “mais doce e nem tão gelado”, também “mais barato”. Na mão, ela segura uma tigela que acaba de comprar para o almoço por 5,90 euros na Casa Almalibre Açaí, no bairro de Chueca, em Madrid.

“Gosto porque supostamente lhe dá energia”, diz ela, antes de sair correndo para o trabalho. A apenas 300 metros, outro espaço especializado, o Açaí San, inaugurado há 10 meses. “Quando abrimos, o açaí era pouco conhecido, exceto por um pequeno sítio em Madrid e outro em Barcelona. Não foi o boom que é hoje. Vimos a oportunidade de levar esta fruta a um mercado que a desconhecia”, lembra Camila Barrios, 33 anos, que abriu a primeira filial da Almalibre Açaí House junto com Carlos Ballaminot em março de 2015, em Valência. “Lá se praticam muitos esportes, passa-se muita vida fora e é a cidade número um em corrida ”, explica Barrios.

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Ela e Ballaminot já possuem mais duas lojas em Madrid e Barcelona, ​​além de monopolizarem 40% do mercado, segundo dados próprios, como distribuidores nos setores de hotelaria e varejo. Vendem polpa, sorvete pronto e açaí liofilizado para horeca e varejo.

Como em todos os estabelecimentos cuja proposta gira em torno do açaí , a estrela do Almalibre é a tigela, onde essa fruta — ecológica, apontam — é misturada com coberturas até que haja cinco variedades diferentes disponíveis e seja possível até personalizar isso ao gosto. “A tigela original brasileira é com banana e granola”, diz Barrios, mas você também pode optar por combiná-la com leite em pó, chocolate, coco ralado, manteiga de amendoim ou paçoca, um doce brasileiro que comercializam e que consiste em amendoim moído com açúcar e sal.

Os preços locais variam entre 5,90 euros para o tamanho pequeno de 150 mls e 16,90 euros para o de 550 mls. A oferta em torno do fruto é completada com sumos e batidos aos quais se junta uma bebida vegetal. “Tendo em conta todas as suas propriedades, queremos acompanhá-lo com uma alimentação equilibrada com alternativas vegetais à carne e oferecemos o combo completo”, afirma o proprietário, explicando o conceito de um negócio em que até o molho brava é preparado com este fruta., que ele descreve, na sua versão mais pura, como “versátil”.

Na Amazônia brasileira, o açaí é um alimento comum e consumido de diversas maneiras, muitas delas salgadas, combinadas com peixe ou farofa, mas o consumo na Europa, especificamente na Espanha, disparou principalmente nos últimos cinco anos. “De oito anos para cá, temos visto um enorme crescimento no conhecimento da fruta, não só por ouvir o nome, mas também pelo consumo. Achamos que é por causa do estilo de vida saudável atual. Antes da cobiça houve uma recuperação, mas depois houve um boom”, diz Barrios, da Casa Almalibre Açaí.

Tempos que coincidem mais ou menos com Damián Castiñeira, um dos fundadores, em 2015, do distribuidor galego Coraçaí, segundo ele, o primeiro importador e desenvolvedor espanhol deste tipo de produto. “A pandemia foi um ponto de inflexão onde o consumo supermercadista disparou e o consumo industrial para a criação de produtos com açaí disparou. Despertou nas pessoas o desejo de cuidar da alimentação. Naquele ano, apesar de haver clientes que pararam de comprar, chegaram novos clientes. Até hoje, o principal setor é a hotelaria, seguida pelos supermercados. A partir de 2016, o crescimento esteve sempre acima de 20%, aumentando para 50% em 2021 e 2022”, detalha.

O açaí é comercializado de duas formas: liofilizado (em pó) ou congelado e, preferências à parte, Castiñeira alerta que para ter certeza de que estamos realmente tratando de um alimento com todas as suas propriedades, devemos estar atentos, como sempre, às rótulos e preparação.

“A forma mais pura de consumir é a polpa do açaí . E dentro da polpa, a polpa de 14%, como a que vendem, é a que tem maior concentração de fruta que se encontra no mercado”, indica, ao mesmo tempo que salienta que na formulação do produto só devem existir três ingredientes: açaí, água e ácido cítrico para preservá-lo. É comum ver no mercado também a polpa congelada misturada ao guaraná — e à qual costuma ser adicionado açúcar de cana —, para obter um suprimento extra de energia, e também para adoçar um produto que em sua forma mais pura tem toques ácidos.

Grande parte do apelo do açaí para quem o consome está nos seus valores nutricionais, que são continuamente apelados para incentivar a sua compra e consumo. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em seu guia Árvores frutíferas e plantas úteis na vida amazônica, destaca, por exemplo, que o nível de proteína dessa fruta é semelhante ao do leite de vaca — 100 gramas de polpa possuem 1,5 gramas de proteína – uma das razões pelas quais os fãs de fitness estão entre seus fiéis seguidores, além de seu alto valor energético.

A mesma publicação destaca que é “rica em flavonóides”, que lhe conferem aquela cor púrpura característica e “produz uma elevada dose de antioxidantes”, propriedade que mais se destaca quando se fala desta fruta. O suco contém, afirma o documento, “cálcio, ferro, fósforo e vitamina B1”, além de “ácidos graxos benéficos como ômega 6 e ômega 9”.

Estes são apenas alguns dos benefícios nutricionais da fruta que, sendo verdade, a nutricionista Azahara Nieto aconselha relativizar. “É fonte de antioxidantes, mas também [embora em menor grau] um mirtilo ou um morango, que são cultivados em Espanha e, portanto, com menor pegada ambiental. Além disso, é importante saber que é alta fonte de gordura vegetal, é calórico”, sustenta.

100 gramas de polpa de açaí contêm 100 quilocalorias e 8,6 gramas de gordura no total, embora a maioria — 5 gramas — seja monoinsaturada. Nieto também se opõe ao uso do termo — qualquer que seja o produto — de “superalimento”, pois “pode levar a pensar que um único alimento melhorará muito a nutrição”. “Tem propriedades nutricionais, mas a incorporação do açaí na dieta , se não houver uma visão global de alimentação e estilo de vida, não significará melhora, é muito anedótico”, ressalta.

(Fonte: O Globo)

Estes são apenas alguns dos benefícios nutricionais da fruta que, sendo verdade, a nutricionista Azahara Nieto aconselha relativizar. “É fonte de antioxidantes, mas também [embora em menor grau] um mirtilo ou um morango, que são cultivados em Espanha e, portanto, com menor pegada ambiental. Além disso, é importante saber que é alta fonte de gordura vegetal, é calórico”, sustenta.

100 gramas de polpa de açaí contêm 100 quilocalorias e 8,6 gramas de gordura no total, embora a maioria — 5 gramas — seja monoinsaturada. Nieto também se opõe ao uso do termo — qualquer que seja o produto — de “superalimento”, pois “pode levar a pensar que um único alimento melhorará muito a nutrição”. “Tem propriedades nutricionais, mas a incorporação do açaí na dieta , se não houver uma visão global de alimentação e estilo de vida, não significará melhora, é muito anedótico”, ressalta.