Foi assim. O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeu, e o CEO da Tecnored, Leonardo Caputo, apresentaram discurso pragmático e enalteceram o projeto que estava sendo apresentado nesta terça-feira, 5 de abril, data do aniversário de Marabá. Mas o que viria a seguir faria o público minimizar a relevância da planta Tecnored no Distrito Industrial, cuja ordem para iniciar a construção estava sendo assinada em um auditório da mineradora, local da obra.
Com óculos escuro na mão durante os 16 minutos que duraram seu discurso, o prefeito de Marabá, Tião Miranda, sapecou palavras duras contra a Vale, disse que a Tecnored não representa 5% do que a Vale deve para Marabá e até evocou a invasão da ferrovia, realizada na primeira metade da década de 1990 para cobrar a implantação do Projeto Salobo.
Em verdade, o tom da fala de Tião pegou de surpresa muitos empresários que estavam na plateia, porque o prefeito não costuma se manifestar publicamente de forma tão contundente contra a mineradora. “Mas ele não poderia perder essa oportunidade com a vinda do presidente da Vale”, justificou um empresário, que pediu reserva de seu nome.
Leia mais:A vinda de Eduardo Bartolomeu gerou expectativas para muitos empresários de que ele anunciaria a data para iniciar a construção da nova ponte sobre o Rio Tocantins, entre outras obras. Mas o presidente da Vale foi comedido nas palavras e limitou-se a parabenizar Marabá por seu aniversário e a falar da planta da Tecnored, que só começa a funcionar daqui a três anos, em 2025.
O vídeo em 3D sobre como ficará a siderúrgica depois de pronta também não encheu os olhos de ninguém e pareceu menor do que a maioria imaginou.
A Vale, por sua vez, divulgou por meio de sua assessoria, que o investimento total na Tecnored será de algo em torno de R$ 1,6 bilhão e a meta da empresa é operar a planta com 100% de biomassa até 2030, produzindo 250 mil toneladas por ano do chamado gusa verde, que será usado na produção de aço.
E O GOVERNADOR?
Bem, se Tião Miranda colocou fogo no parquinho da Vale, o governador Helder Barbalho jogou gasolina e incendiou os empresários e políticos presentes, que aplaudiram de pé o discurso de cobrança à mineradora.
Helder disse que tem convivido, nos últimos anos, em um ambiente de diálogo com a Vale, mas que não tem surtido o efeito esperado. “Sabemos que é possível conciliar os interesses do privado e os interesses da sociedade. Temos trabalhado para desburocratizar o processo de licenciamento ambiental, desburocratizar o processo de implantação de atividades econômicas, garantindo segurança jurídica sobre todos os aspectos desde a segurança jurídica documental até a segurança jurídica do aparato de eventuais constrangimentos, com o apoio do sistema de segurança pública”, disse Helder, advertindo que não são mais possíveis o convívio e a relação da atividade da mineração meramente de extração.
Entre uma batida e outra, Helder assoprava e disse, por exemplo que é preciso festejar a implantação da Tecnored, mas que essa planta que está sendo construída no Distrito Industrial de Marabá não é a resposta que o Estado gostaria em relação à dívida que a Vale tem com o Pará. “Já me reuni algumas vezes com o presidente da Vale, Bartolomeu, e já tivemos discussões profundamente verdadeiras. Não diria aqui que foram ácidas. Mas presidente, leve aos acionistas da Vale: a paciência do estado do Pará já se encerrou. Nós não queremos homenagem. Não queremos ações periféricas que possam eventualmente distensionar ou melhorar a relação. Queremos apenas que a Vale compreenda que nós queremos ganhar junto, com ampla oferta de emprego e renda”.
O único ponto em que Barbalho foi divergente com o prefeito Tião Miranda é em relação à proposta para que se crie uma comissão com representantes de vários setores para discutir um projeto viável para Marabá. Para o governador, isso só tomaria mais tempo, algo que seria do interesse da mineradora.
“Não é possível que uma empresa da capilaridade, da estatura e da envergadura da Vale, com seu portfólio de parceiros, não seja capaz de viabilizar uma estrutura e uma estratégia que impulsione a geração de emprego e renda em Marabá”.
Ao analisar o evento desta terça-feira, no local onde será construída a planta da Tecnored, o vereador Márcio do São Félix elogiou os discursos de Tião Miranda e Helder Barbalho e usou palavras duras em relação à mineradora. “A ida lá no circo que a Companhia Vale montou para mais uma vez tentar sair de boa na história, onde ela anunciou, com prazo muito extenso, a implantação e instalação da Tecnoread. Ali, naquele momento, eles acharam que estavam dando um grande presente para Marabá, que continuariam sendo salvadores da nossa pátria. Para nossa surpresa e felicidade, nunca me senti tão bem representado pela fala do nosso prefeito e do nosso governador. Tive de ficar de pé e aplaudir, porque verdadeiramente eles fizeram uma dobradinha, um levantou e o outro bateu”, sintetizou.
(Ulisses Pompeu)