Correio de Carajás

Thalyta: menina-mulher que se tornou BÁRBARA

Saiba como uma adolescente da invasão da invasão da Coca Cola inspira outras meninas através dos estudos e da leitura

A menina que hoje lê Gabriel García Márquez se encantou pela leitura com Julio Verner/ Foto: Evangelista Rocha

Quando a expressão “pessoa que inspira” surge em uma conversa, é com facilidade que o ouvinte imagina alguém mais velho, maduro e com anos de experiência de vida. Mas, para a Reportagem do Correio de Carajás, a palavra inspiração é sinônimo de Thalyta Yasmin Gouveia, 18 anos completados há uma semana.

Desde nova, Thalyta encontrou nos livros, além de um refúgio, sua estrada de tijolos amarelos para um futuro mais próspero. Quando criança ela foi inspirada e incentivada pela mãe, que lhe comprava exemplares literários sempre que possível. Imersa no mundo das palavras, a jovem devorava as histórias e fazia da leitura um hábito essencial.

Aos 12 anos ela descobriu Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra, e dali em diante os livros se tornaram não apenas uma paixão, mas um passaporte para novos mundos e possibilidades.

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É desde meados de 2021 que os caminhos da jovem e deste CORREIO se cruzam quando o assunto é leitura, estudos e sonhos. Há quatro anos ela encantou a equipe de reportagem com sua vontade singela de ter uma estante para guardar seus 150 livros e sua voracidade pelos estudos.

Neste Dia Internacional da Mulher, Thalyta sai do capítulo ‘encantamento’ e abre as páginas da ‘inspiração’.

INFLUENCIANDO LEITORES

“Thalyta, eu comecei a ler por causa de ti”, foi a frase que a jovem ouviu de Verônica, uma amiga do trabalho. Durante a entrevista para o Correio de Carajás, ela frisa que conviver com pessoas que possuem as mesmas preferências que você gera um ciclo de incentivo mútuo.

O movimento de inspiração impulsionado por Thalyta chegou em Ruth, sua amiga de estudos para o Enem, que encontrou na caloura de Direito um pilar de incentivo. Uma sempre apoiando a outra, compartilhando materiais de estudos e o sonho da aprovação no vestibular. E esse ciclo de inspiração também passa pela família da menina.

“Eu fui influenciada pela minha mãe e eu influencio muito ela também. Ela já gostava de ler, mas eram leituras mais acadêmicas, coisas mais voltadas para a área dela. E aí eu comecei, por exemplo, a ler clássicos nacionais e ela disse que gostava muito. Eu ganhei um livro do Vida Secas, dei para ela, que se apaixonou, e lê direto. Minha irmã menor também, ela acabou pegando esse hábito da gente”, reflete com empolgação.

Durante a entrevista, a Reportagem convidou Thalyta a voltar no tempo e refletir sobre sua trajetória educacional, que não foi fácil.

“No início, eu não era uma aluna muito boa, era mediana, tinha algumas dificuldades. Mas quando chegou no 6º ano eu entendi que precisava mudar minha postura, tinha que estudar em casa, me organizar e ser mais disciplinada”.

Apesar da pouca idade, a jovem percebeu que precisava encontrar coragem para mudar sua realidade e se reinventar no relacionamento com os estudos. Ao virar essa página, Thalyta passou a se destacar e inspirar outras pessoas.

A menina participou de projetos, clubes de leitura e competições acadêmicas. A escola, antes um espaço de desafios, tornou-se o palco de suas conquistas. “Eu era muito tímida, então eu procurei trabalhar mais essa parte, e comecei a participar de projetos, de clube, de leituras, essas coisas”.

Até que chegou o vestibular e um novo enredo se desenrolou em sua vida.

SONHADA APROVAÇÃO

No mesmo dia em que completou 18 anos, Thalyta recebeu uma das notícias mais importantes de sua vida: a aprovação no curso de Direito da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

Mas, para concretizar este sonho, Thalyta teve que passar por um verdadeiro teste de resistência. Conciliando escola, cursinho e trabalho, ela se dedicou intensamente. A pressão, contudo, lhe pregou uma peça: o nervosismo impactou sua nota, e ela achou que não conseguiria.

Quando finalmente viu seu nome na lista de aprovados da Unifesspa, foi um momento de explosão de emoções. A primeira lista havia sido suspensa e a incerteza a consumiu. Mas no dia 26 de janeiro, seu aniversário, a confirmação chegou como o melhor presente que poderia receber.

Thalyta Yasmin acaba de ser aprovada para Direito na Unifesspa, mas vai continuar estudando para medicina

É curioso que mesmo com a recente aprovação, Thalyta segue sonhando em ser caloura, dessa vez no curso de Medicina.

“Eu já tô de olho. Esse ano eu vou fazer inscrição do Enem para tentar outra vez. Entrei no curso de Direito porque me gera muita identificação. Eu já fui estagiária no Ministério Público do Estado do Pará, já vi como funcionam algumas coisas, mesmo que de forma superficial. Agora pretendo ver se gera aquela identificação, se é uma coisa que eu quero mesmo. Mas eu também tô naquela corrida para Medicina”.

Para ela, o estudo não é apenas um meio para conquistar um diploma, mas uma ferramenta para mudar sua vida e a de outras pessoas. Seu desejo é ajudar, apoiar, inspirar. E isso ela já faz.

ANSEIOS PARA O FUTURO

Sonhar grande, mesmo quando a realidade parecia limitar suas possibilidades, enfrentar as dificuldades sem perder a esperança, acreditar que o conhecimento é a chave para abrir portas, são marcas da coragem dessa menina-mulher.

Thalyta quer ser um ponto de referência para outras pessoas, ajudando sempre que possível, apoiando a família e os amigos. “Eu sonho em ser uma pessoa que onde eu esteja, seja reconhecida pelas coisas que eu gosto de fazer, ler, escrever. Eu gosto de conversar com as pessoas, principalmente sobre pautas sociais”.

E, como boa sonhadora, foi instigada pela Reportagem a pensar em como estará daqui uma década. A resposta, madura para alguém que dá os primeiros passos na vida adulta, descreve um futuro cheio de viagens, diplomas de mestrado e doutorado, além de um concurso. Mas, acima de tudo, Thalyta quer ser lembrada não apenas pelo que conquistou, mas pelo impacto que terá na vida das pessoas.

Thalyta é como um farol em meio à escuridão das dificuldades que mulheres vivenciam diariamente. Sua história prova que talento e dedicação são forças poderosas, mas que o verdadeiro diferencial está na resiliência e no desejo genuíno de crescer e elevar aqueles ao seu redor. E, sem dúvidas, essa jornada está apenas começando.

“Hoje eu diria para essas meninas fazerem um cursinho. Se não têm o hábito de ler, que pelo menos comecem, que escrevam. Eu gosto sempre de falar sobre uma coisa que eu conheço, que é o estudo, principalmente para as minhas amigas, colegas de trabalho e para alguns vizinhos. Essa é a minha contribuição. É a leitura, é o estudo, é aquilo que eu acho que eu posso oferecer para as pessoas”.

(Luciana Araújo)