As redes sociais facilitaram o acesso a muitos conteúdos, inclusive, os de teor pornográfico. Uma pesquisa que abordou o comportamento de consumo dos brasileiros aponta que o Telegram se consolidou entre as principais plataformas de pornografia no País. O aplicativo fica atrás apenas de sites especializados como XVídeos e PornHub.
Realizada pela empresa Miess neste ano, o levamento contou com mais de 1200 participantes de todo o Brasil entre homens cis, mulheres cis, homossexuais, bissexuais, transexuais, travestis, entre outros. A pesquisa abrangeu pessoas de 18 a 50 anos.
Para a jornalista e mestre em teoria do comportamento humano Carolina Peres, o Telegram é um aplicativo com menos regras de comunicação e menos políticas de privacidade, o que ajuda no compartilhamento de conteúdos de forma mais ampla e sem barreiras.
Leia mais:“A possibilidade de grupos ilimitados também ajuda nesta consolidação e a ausência de critérios é um facilitador. Eu vejo como se fosse a “deep web” das redes sociais. E isso reflete o comportamento humano, que busca sempre alternativas para consumir o proibido de forma ‘legal’.
CAROLINA PERES
mestre em teoria do comportamento humano
OFF PARA O ONLINE
Carolina afirma ainda que a possibilidade de criação de grupos transforma essa disseminação, já que há uma migração do off para o online. “Quantos grupos de amigos não migram para o online e compartilham conteúdo que seria facilmente falado em uma mesa de bar? O online é uma extensão do comportamento físico e onde temos mais coragem”.
O pesquisador e mestre em Sociologia David Nogueira corrobora que as redes sociais tornaram esse consumo ainda mais personalizado, o que é um ponto mais atrativo para os usuários. “As pessoas consumiam por sites, mas era como acessar um vídeo no YouTube, os produtos já estavam feitos”.
“Agora com essa disseminação de produção de conteúdo pessoal, torna o consumo muito mais personalizado. Agora as pessoas não procuram categorias, buscam diretamente os atores/pessoas que gostam mais. Além disso, é mais rápido, dinâmico”.
DAVID NOGUEIRA
mestre em Sociologia
A interação e comunicação direta com os produtores de conteúdo também é um fator que atrai, segundo David. Assim, é possível solicitar fotos e vídeos específicas, dar sugestões e opiniões, ou mesmo desenvolver um relacionamento.
CONSUMO AUMENTOU
A pesquisa evidenciou que, durante a pandemia, as práticas de masturbação e consumo de canais pornô aumentaram tanto entre os homens quanto entre as mulheres. As mulheres acabam se masturbando mais, já os homens se masturbam, mas acompanhados dos vídeos pornôs.
Entre as principais plataformas nas quais o brasileiro consome conteúdo, o XVídeos é a principal. Em seguida aparecem, nesta ordem, PornHub, RedTube, Sexy Hot, Sex Privê e Telegram.
Isso pode ainda ser explicado pela preferência do tipo de conteúdo, já que o mais consumido são os de Sexo Amador (23,3%) e Sexo Romântico (17,7%).
SEM REGULAÇÃO
Com o consumo sendo facilitado nessas plataformas, outra problemática surge: a disseminação sem regulação, o que possibilita que conteúdos com menores de idade por exemplo sejam publicados e compartilhados.
O documentário Cyber Hell, lançado neste ano, mostra a investigação que aconteceu na Coreia do Sul sobre um crime virtual, em que criminosos roubavam dados de mulheres e meninas e ameaçavam solicitando fotos sensuais. As imagens eram vendidas em grupos do Telegram.
Tanto Carol quanto David acreditam que deveria haver algum tipo de regulação nas redes sociais. “É preciso ter uma regulamentação, uma lei nacional pra proteger as crianças. O Instagram tem uma regulamentação mais crítica, mas o Telegram não, tem grupos de nudes, de pedofilia, é muito comum. Como não existe lei nacional, cada rede cria a sua”, argumenta o pesquisador.
“O prazer do outro pode nos ser violento e isso em todos os sentidos. Proibir demais gera a inibição. Liberar demais, gera a anarquia. Não há liberdade sem responsabilidade e, se o homem não tem responsabilidade sob seus atos, ele deve ser podado”, finaliza Carolina.
(Fonte: O POVO)