Correio de Carajás

Taxa de analfabetismo dobra entre crianças de 7 a 9 anos no Brasil

Em 2022, 60,3% das crianças e dos adolescentes eram privados de um direito ou mais no país; pesquisadores apontam resultado como passivo da pandemia de Covid-19. Minas Gerais apresentou números melhores que os nacionais, mas ainda registra problemas.

Sala de aula de educação infantil (foto ilustrativa) — Foto: Divulgação

A proporção de crianças de sete a nove anos de idade que não sabem ler nem escrever dobrou em quatro anos no Brasil, mostram dados de um relatório divulgado nesta terça-feira (10) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Segundo o documento, de 2016 a 2019 houve um “aumento sutil” no acesso à alfabetização. No entanto, no intervalo de 2019 a 2022, o cenário apresentou um retrocesso.

  • O aumento foi mais significativo entre aquelas de sete anos de idade, passando de 20% em 2019 para 40% em 2022.
  • Entre crianças de 8 anos, o analfabetismo mais que dobrou e subiu de 8,5% para 20,8% no período.
  • Entre o grupo de 9 anos, a taxa aumentou de 4,4%, em 2019, para 9,5%, em 2022.

 

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“A gente vive um momento muito crítico em relação ao analfabetismo, vendo o salto que o indicador deu. Há um passivo, de certo modo histórico, relacionado à qualidade da educação no Brasil. É importante que se entenda e que se tenha um esforço concentrado para que esse passivo da pandemia não se prolongue mais tempo”, ponderou Santiago Varella, especialista em Políticas Sociais do Unicef no Brasil.

 

Desigualdade racial

 

A desigualdade racial também cresceu, e meninas e meninos negros na faixa de alfabetização foram os mais afetados pela pandemia.

A diferença da taxa de analfabetismo entre crianças brancas e negras de 7 a 10 anos passou de 4,3 para 6,7 pontos percentuais de 2019 a 2022.

Segundo o Unicef, os dados indicam a “urgência de políticas públicas coordenadas em nível nacional, estadual e municipal para reverter esse quadro”.

“As desigualdades raciais no Brasil são persistentes. Agora, estamos vendo isso nas crianças e em muitas formas de privação de direitos”, completou Santiago Varella.

 

Privações de direitos

 

Em 2022, 60,3% das crianças e dos adolescentes eram privados de um direito ou mais no Brasil. Apesar da ligeira queda em relação a 2019, o percentual corresponde a 31,9 milhões de pessoas de 0 a 17 anos, de um total de 52,8 milhões no país.

A privação mais crítica no Brasil em 2022 é a de saneamento básico, que afeta mais de um terço (36,98%) dos brasileiros de 0 a 17 anos. Os estados do Norte possuem os piores indicadores.

“São pessoas que não têm banheiro individual e fazem suas necessidades em fossas fora de casa, dividindo com outras pessoas”, ilustrou Santiago Varella.

 

As privação de renda atingiu 36% dos brasileiros entre 0 e 17 anos em 2022. Além disso, cerca de 20% dos meninos e meninas têm renda familiar abaixo do necessário para uma alimentação apropriada.

O relatório

 

Para a elaboração do relatório, o Unicef analisou o acesso de crianças e adolescentes a seis direitos básicos: renda, educação, informação, água, saneamento e moradia. A pesquisa também considerou a dimensão alimentar.

O Unicef destacou também como as desigualdades regionais influenciam nos números (veja na tabela abaixo). No ano passado, quatro dos 27 estados apresentavam mais de 90% de crianças e adolescentes sofrendo privação de algum direito, todos nas regiões Norte (Pará e Amapá) e Nordeste (Maranhão e Piauí).

A privação também é maior entre negros do que brancos: 68,8% ante 48,2%.

Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação, por estado

Estado Pessoas de 0 a 17 anos com ao menos uma privação
AC 83,9
AL 83,8
AM 80,9
AP 91,7
BA 75,3
CE 80
DF 37,8
ES 53,9
GO 59,9
MA 90,2
MG 46,8
MS 63,3
MT 74,9
PA 91,2
PB 78,9
PE 73,4
PI 91,6
PR 46,8
RJ 48,5
RN 85,5
RO 85,2
RR 75,8
RS 50
SC 53,1
SE 77
SP 35,7
TO 77,3

Minas abaixo da média nacional

 

Ao lado de outros estados do Sul e do Sudeste, Minas Gerais tem índices de privação entre pessoas de 0 a 17 anos abaixo da média nacional.

  • Cerca de 6,19% de mineiros de 0 a 17 anos são privados de educação, ante 8,27% da média nacional.
  • Apenas 1,9% de brasileiros de 0 a 17 anos são privados de informação, enquanto a média nacional está em 3,06%.
  • A privação de moradia entre crianças e adolescentes de MG está em 4,29%, ante 8,58% da média nacional;
  • Cerca de 1,16% das crianças e adolescentes são privados de água, contra 5,39% da média nacional;
  • O índice de privação de saneamento em MG é alto (19,88%), mas bem inferior à média nacional (36,98%);
  • O maior indicador de MG é na privação de renda (30,15%), mas também abaixo da média nacional (36%).

(Fonte:G1)