O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o aviso de desastre por SMS, como o feito para os moradores de São Sebastião antes dos deslizamentos, não são efetivos.
“Então, foram disparados 2,6 milhões alertas antes das chuvas que nós tivemos agora via SMS. E a gente viu que isso, eventualmente, não tem a maior efetividade. Aqui para o litoral, mais de 30 mil pessoas receberam o SMS de alerta. Então, a gente precisa ter uma maneira mais efetiva”, disse na coletiva.
O g1 havia revelado que o governo de São Paulo e a prefeitura sabiam da tragédia dois dias antes, mas que avisaram apenas por SMS. Foram enviadas 34 mil mensagens para pessoas cadastradas na plataforma estadual antes da tragédia em todo o Litoral Norte — a região tem 288 mil habitantes.
Leia mais:Ao longo do dia da tragédia, os moradores cadastrados receberam mensagens, mas nenhuma delas mostrava a dimensão, não citando os deslizamentos. Além disso, algumas das áreas atingidas, já na noite de sábado (18), enquanto eram disparadas as mensagens, não tinham sinal de telefonia ou internet.
O g1 apurou que a primeira vez que a Defesa Civil foi ao local, o temporal já havia começado e a área já estava interditada por deslizamentos.
Em entrevista coletiva em São Sebastião nesta quinta-feira (23) o governador, além de dizer que o modelo de comunicação usado não era efetivo, disse que vai adotar novas maneiras de emitir alertas.
“A ideia é que a gente utilize um sistema de broadcast, vamos ver como isso pode ser operacionalizado. Além disso, vamos instalar os sistemas de sirenes, que já existem em alguns outros estados”, afirmou.
Após a tragédia, o governo municipal e estadual vem sendo cobrados sobre as medidas no local. A reportagem questionou sobre o motivo da área não ter sido evacuada ou das pessoas não terem recebido uma visita da Defesa Civil para avisar o risco, mas não obteve retonro.
No caso do município, o estado informou que São Sebastião também sabia do risco, apesar disso, nenhuma publicação ou aviso foi feito nos dias que antecederam a tragédia. A prefeitura não respondeu o motivo de não ter feito os avisos.
Tarcísio ainda disse que o governo vai agir treinando as pessoas para que, ao serem avisadas, saibam como agir e para onde ir. “Disparou a sirene, a pessoa já tem que saber para onde ir, tem que saber qual é o ponto de apoio, tem que ter confiança que o suprimento vai chegar no ponto de apoio, que o patrimônio dele vai estar protegido”, afirmou.
Veja a cronologia do desastre:
Quinta-feira (16)
- Segundo o diretor do Cemaden, dois dias antes da tragédia, foi enviado um alerta ao governo federal e à Defesa Civil do estado de São Paulo sobre o risco de desastre.
- O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, confirmou a informação. O estado, por sua vez, diz que repassou o alerta ao município de São Sebastião.
- O governo chegou a fazer uma publicação nas redes sociais da Defesa Civil de São Paulo avisando sobre o risco de chuva na região no fim de semana. Em nota, o governo informou que já na quinta-feira havia mobilizado as prefeituras das cidades que seria afetadas pelo aviso — que incluía São Sebastião. Apesar disso, a Defesa Civil municipal não fez qualquer aviso.
Sexta-feira (17)
- 0h52: A Defesa Civil do estado de São Paulo enviou o primeiro alerta por SMS no celular de 34 mil pessoas cadastradas em seu sistema no Litoral Norte. Segundo o IBGE, a região tem cerca de 288 mil habitantes. A mensagem, porém, citava apenas “chuva isolada” em Ubatuba e nas áreas próximas.
- Manhã de sexta: O Cemaden acionou o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), do governo federal, para uma reunião conjunta com a Casa Militar de São Paulo, que é responsável pela Defesa Civil estadual.
- Segundo o presidente do Cemaden, o governo federal e o estadual receberam uma lista com todas as áreas em risco no Litoral Norte, incluindo a Vila do Sahy.
Sábado (18)
- De sábado até domingo, o Cemaden emitiu aos órgãos de prevenção seis alertas sobre o risco de desastre de chuva e deslizamento de terra no Litoral Norte. Os avisos incluíam São Sebastião e também a Vila do Sahy.
- 12h22: A Defesa Civil do Estado enviou um SMS para a população avisando que a chuva estava se espalhando pela região de Ubatuba e Caraguatatuba.
- No sábado à noite, começou a chover bem forte na região.
- 19h28: Um dos alertas do Cemaden avisou sobre o risco hidrológico (de chuva) muito alto. Toda a cidade de São Sebastião estava em vermelho no mapa de São Paulo.
- 19h49: A Defesa Civil do Estado enviou outro SMS para a população avisando que a chuva estava se espalhando pela região do Litoral Norte, com ventos e raios.
- 21h27: O Cemaden emitiu um alerta sobre o risco muito alto de movimento de massa (deslizamento de terra).
- Por volta de 23h: A tempestade já estava bastante intensa, além do limite previsto pela meteorologia. A Defesa Civil municipal tentou chegar até a Vila do Sahy, mas já não havia mais acesso em razão dos deslizamentos de terra.
- 23h13: A Defesa Civil do Estado enviou um SMS dizendo que havia “chuva persistente no Litoral Norte” e alertava para que a população ficasse atenta “a inclinação de muros e a rachaduras” e, se precisasse, saísse do local. Neste momento, porém, não havia abrigo montado pela Defesa Civil ou qualquer orientação para onde a população deveria ir.
Domingo (19)
- Por volta de 2h: As chuvas estavam bem intensas e começaram os deslizamentos na região do Litoral Norte. Vários pontos já estavam sem energia elétrica e sinal de internet ou celular.
- 3h15: A Defesa Civil do Estado de São Paulo mandou um novo SMS por celular orientando a população a ficar atenta a inclinação de muros e a rachaduras, mas não falava nada sobre o risco de deslizamentos.
- 6h23: Novo SMS da Defesa Civil do Estado de SP falava em chuva, vento e raios e pedia para, “em caso de inclinação diferente dos muros”, sair do local. No entanto, não fazia qualquer menção a deslizamentos.
- Nesse horário, já havia mortos e desaparecidos soterrados.
- 7h04: Pela primeira vez desde o início dos temporais, a Prefeitura de São Sebastião, em uma rede social, publicou um aviso de que tinha chovido forte na cidade e que havia “diversos deslizamentos, alagamentos e desabamentos”.
(Fonte:G1)