Correio de Carajás

Surfe na Pororoca: Desafiando o monstro dos rios

Por todo o mundo, surfistas estão em busca das maiores ondas dos oceanos. Mas alguns, como o brasileiro Serginho Laus, buscam a fúria do rio Amazonas.

Quando as marés altas, durante o equinócio da primavera, caem em águas mais lentas na foz do rio Amazonas, no Brasil, um fenômeno natural chamado Pororoca é formado. A onda resultante pode enfurecer-se por dezenas de quilômetros, arrancar árvores, vomitar lama e até mesmo arrastar jacarés junto com ela.

Enquanto os moradores locais vivem para respeitar a Pororoca, sabendo muito bem que ela pode esmagar seu cais ou transformar seu barco em milhões de lascas de madeira, surfistas como Serginho Laus vivem para enfrentá-la.

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A água calma do rio Amazonas é envolvida por uma onda furiosa que chegou a mais de 1,80m. Pororocas também rugem em lugares como Inglaterra, França, Canadá, Índia e China.

“É uma sensação de liberdade, de descoberta”, disse Serginho, sobre o surfe na Pororoca. “Você está em um lugar que ninguém vai – todo mundo tem medo de ir por que a Pororoca parece um monstro para os moradores que vivem nessa área… É como um tsunami amazônico.”

É fácil ver por que os surfistas a adoram tanto. Ao contrário das ondas oceânicas, que duram talvez 30 a 40 segundos, os surfistas vivem a Pororoca por minutos a fio, contanto que possam lidar com o intenso acúmulo de ácido láctico em suas pernas. Há um incentivo extra para ficar mais tempo: piranhas famintas e candirus, conhecidos como “peixes-vampiros”, espreitam as possíveis vítimas.

Serginho já foi o detentor do recorde mundial de surfe na Pororoca com 33min15 e diz que, certa vez, andou na maré por 1h10 sem parar (ele admitiu que esqueceu o GPS para validar a marca).

Mas, em 2014, tudo mudou. A Pororoca, na foz do rio Araguari – onde Serginho surfava desde o final dos anos 1990 – desapareceu.

“Quando o Araguari morreu, o sonho morreu também”, disse ele. “Imagine, você sempre esteve no lugar que você queria estar com as melhores ondas do mundo – e, em um momento, você não tem mais esse lugar.”

Ivan e Bono surfam a Pororoca entre os moradores locais Valdinei Farias Mendes e Ruan Maciel Borges. Os jovens reconheceram a dupla que já haviam assistido pela TV. “Isso foi legal!”, Valdinei disse após bodysurfing a onda por vários minutos. “O coração estava batendo forte o tempo todo, a adrenalina correndo pelo seu corpo. Tudo o que você tem a fazer é se divertir.”

Enquanto outros surfistas foram caçar novos monstros fluviais ao redor do mundo, Serginho perseguiu outra Pororoca. Ele falou com os ribeirinhos, pessoas que moravam ao longo do rio, e encontrou exatamente o que estava procurando.

Então, reuniu sua equipe local e convidou o cão surfista Bono e o melhor amigo do labrador, o surfista de SUP (stand-up paddle) Ivan Moreira. Juntos, eles navegaram 15h na Amazônia, passando por chuvas e aldeias curiosas, para enfrentar o novo monstro – um novo recorde na sua mira.

(Fonte:Espn)