Imagine a cena: uma aula de educação ambiental em meio à natureza, com a presença de muitas crianças, que se envolveram com pintura, pula-pula, algodão doce e até ganharam um lanche no final. Foi exatamente o que aconteceu no último domingo (26) em Marabá, na ilha da Praia do Tucunaré, onde funciona o Projeto Quelônios da Amazônia.
Ali, os organizadores fizeram a soltura simbólica de 3.500 tartarugas e tracajás, denominados de quelônios. Para celebrar o momento, a sociedade foi convidada para participar e conhecer de perto o trabalho de preservação que é realizado pela equipe. Durante toda a temporada, 25 mil quelônios estão retornando ao seu habitat natural.
Com recorde de público, a organização do projeto celebra o momento e avalia que a cada ano cresce a participação popular, a quantidade de quelônios que são soltos e o número de parceiros e voluntários.
Leia mais:A pequena Ana Catarina, de 12 anos de idade, foi ao evento acompanhada do pai. Aos 12 anos, enquanto participava da oficina de pintura, ela contou sobre a experiência de conhecer o Projeto e da ansiedade de participar da soltura dos quelônios.
“Estou achando muito legal. As pessoas aqui explicam pra gente a importância de preservar essas tartarugas, porque elas são uma parte dessa mata e desse rio. Estão acontecendo muitos desastres ambientais, queimadas, muitos animais sendo extintos, e isso aqui é uma forma de contribuir com o meio ambiente. Estou ansiosa para ir fazer a soltura, elas são muito bonitinhas. Foi a primeira vez que peguei em uma tartaruga”, confessou Ana Catarina.
FALA, JOSÉ PEDRO
“Me sinto muito realizado. A gente vem desde o início defendendo esse projeto. Então, ver a aceitabilidade das pessoas para nós é uma satisfação muito grande, porque esse é um dos nossos objetivos principais, a educação ambiental. Precisamos aprender a conviver melhor com esse ambiente do Rio Tocantins. É uma paisagem belíssima, que se não for bem cuidada, de fato, pode ir tudo ‘ por água abaixo’, literalmente. Então, ano após ano, estamos conseguindo realizar o processo direto do manejo dos quelônios, com educação ambiental, que não pode deixar de existir. Não há eficácia em qualquer projeto de preservação, se não vier paralelamente acoplado a um programa de educação ambiental para a população, senão fica vazio. A população precisa saber o que está sendo feito, como está sendo feito e participar”, afirma um dos coordenadores do Projeto Quelônios, professor e pesquisador da Unifesspa, José Pedro de Azevedo Martins.
E O COMAM?
Durante o evento, Jorge Bichara, presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, agradeceu aos conselheiros, afirmando que esse é um trabalho em conjunto. Fazendo um breve histórico sobre os oito anos de projeto, Bichara elogiou a participação popular.
“Hoje vamos soltar milhares de tartarugas que vão iniciar uma luta no rio pela sobrevivência. Esse rio já foi o lar de centenas de milhares de quelônios, e a colonização do homem, ao longo das décadas, quase levou à extinção. Em várias partes das bacias hidrográficas existe um movimento para aumentar essas populações. Já são 8 anos de trabalho, a sociedade formou essa frente de ação para proteger nossos quelônios das intempéries naturais e do ser humano, que é o principal predador. Hoje estamos aqui, com um recorde de público e esperamos que todos sejam, a partir de agora, educadores ambientais para protegermos nossos quelônios”.
Por fim, Bichara revelou que nos últimos oito anos a Prefeitura Municipal de Marabá nunca se absteve em contribuir com o projeto. E disse, que agora com a nova gestão, espera continuar contando com o apoio do Poder Executivo.
CHEGANDO AGORA, MAS…
Há menos de um mês no cargo, Benedito Evandro, secretário de Meio Ambiente, esteve no evento e afirmou que está tentando entender como funciona o sistema de meio ambiente em Marabá.
“Estamos identificando muitos desafios, muitos problemas e bons projetos, como este aqui, que eu só conhecia no papel. Não tinha noção da dimensão e da importância desse projeto. Assumo o compromisso, o que a gente puder fazer para contribuir e fortalecer essas ações, iremos fazer”, garantiu.
LEGISLATIVO MAIS PRESENTE
Pedrinho Corrêa, vice-presidente da Câmara Municipal de Marabá, prestigiou a soltura de quelônio representando o Poder Legislativo e ficou fascinado com o grande envolvimento popular na ação de educação ambiental. “Esse é um projeto que deixa toda a sociedade marabaense feliz, mas que envolve muitas pessoas e entidades. A Câmara Municipal quer se tornar, a partir de agora, um parceiro mais próximo do Quelônios da Amazônia, além de outros projetos importantes para a biodiversidade de nosso município”, disse ele.
MPPA PARTICIPATIVO
Comemorando o número expressivo de crianças, a promotora de Justiça, Alexssandra Mardegan, prestigiou mais uma vez o evento representando o Ministério Público do Pará. Ela celebrou mais essa etapa do projeto com a grande participação popular.
“Isso é maravilhoso! Só demonstra a grandiosidade desse projeto. Ninguém faz nada sozinho. O Projeto Quelônios vai completar oito anos de existência em julho, e a cada ano tem se fortalecido. É muito lindo chegar aqui e ver tudo arrumado, tudo limpo e organizado. Mas não é fácil. Isso requer investimento. Nunca foi fácil ir atrás de recursos. Fico feliz que o secretário de Meio Ambiente esteja aqui para testemunhar e ver que o projeto precisa de mais aporte, de mais dinheiro. Inclusive, já estamos trabalhando pra mais uma frente do projeto, na ilha do Espírito Santo. Então, o Ministério Público apoia essa ação porque sabe da sua importância para a educação ambiental, preservação, sustentabilidade e diversidade”.
Para a soltura, as crianças – a maior quantidade registrada nos oito anos de atuação do projeto – foram convidadas a sentarem na areia e receberam as bacias contendo os animais. Em uma contagem regressiva, eles soltaram os quelônios em um momento de festa e educação ambiental e social. Ao todo, 3.500 filhotes retornaram ao Rio Tocantins.
AGORA É PARQUE
A ação ambiental é iniciativa da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Marabá com o apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, executado com recursos do Fundo Municipal de Meio Ambiente de Marabá pelo Núcleo de Estudos em Educação Ambiental (NEAm/Unifesspa) e ainda da Eletronorte.
O parque, como está sendo chamado, é aberto ao público durante o ano todo, para que a sociedade civil possa conhecer o trabalho realizado pelo projeto.
(Ana Mangas e Ulisses Pompeu)