Durante a pandemia de Covid-19, a Bolívia instituiu diversos lockdowns – períodos em que a circulação da população nas ruas fica restrita, para conter o avanço da doença. Coube ao exército monitorar as quarentenas e, numa das rondas, eles encontraram dois cachorros de rua, que foram resgatados e adotados pela tropa.
No meio de tantas más notícias causadas pela Covid-19, estes soldados acabaram gerando, sem querer, imagens que evocam a solidariedade e a empatia, sentimentos muito necessários em períodos de crises.
O resgate
Os dois cachorros foram adotados em Tupiza, uma pequena cidade no Departamento de Potosí, na Bolívia. A mais de 3.100 metros de altitude, o clima da região é frio e úmido durante o ano inteiro – e os animais de rua sofrem bastante.
Leia mais:Viver nas ruas é sempre complicado para cães e gatos, que passam o tempo em busca de comida e abrigo. Durante uma epidemia, em que as pessoas pouco saem de casa, as condições ficam ainda mais difíceis.
Felizmente, pelo menos para estes dois cachorros, eles foram encontrados por um destacamento de soldados, em ronda pelas ruas de Tupiza para fazer cumprir as determinações do lockdown. O esquadrão militar fazia a ronda em um caminhão.
Os peludos seguiram o caminhão, na esperança de conseguir alguma coisa para comer. Alguns soldados resolveram resgatá-los e embarcaram os dois cães. A história teria passado despercebida, mas, naquele instante, um fotógrafo também estava tentando capturar imagens da quarentena.
Luís Fernando Chumacero Gutierrez, o fotógrafo, é estudante de Artes Plásticas na UNITEPC. O jovem capturou algumas imagens e publicou-as em sua página no Facebook (ele assina os posts como “Transeunte”).
As imagens viralizaram rapidamente. Algumas das fotos postadas receberam mais de 5,8 milhões de curtidas. Os comentários, com dezenas de milhares de elogios à atitude dos soldados, foram feitos em diferentes idiomas.
Fernando não deu maiores informações sobre o resgate, mas uma equipe de reportagem local mobilizou-se em busca das notícias e refez os passos das imagens. Os repórteres descobriram que os responsáveis pela ação pertencem ao Departamento de Logística do Quarto Exército boliviano.
De acordo com informações do coronel Luís Pacheco, chefe do departamento, as imagens foram registradas em frente aos portões do Sétimo Regimento de Cavalaria de Chichas (distrito cuja sede é Tupiza).
Já é uma tradição nas Forças Armadas da Bolívia: cada regimento adota cães (são escolhidos animais abandonados ou carentes), que passam a viver e servir permanentemente nos quartéis, auxiliando as tarefas e treinamentos dos militares. Os dois cachorros das fotos agora fazem parte do Departamento de Logística.
Os dois cães que perseguiram o caminhão e foram “fisgados” pelos soldados foram batizados como Multicam e Gorda. Eles participam das atividades do quartel e acompanham as rondas dos militares. Gorda sempre acompanha – ela pede para ser embarcada nos veículos militares.
Multicam se tornou a mascote oficial do Décimo Regimento, sediado no mesmo local, mas sempre que avista a companheira, com quem partilhou as experiências do abandono, corre para ela e se integra nas atividades dos soldados que o resgataram.
Os cachorros militares da Bolívia são adaptados à mesma rotina dos soldados. Eles tomam café da manhã, almoçam e jantam, além de fazer os exercícios físicos, nos mesmos horários das tropas a que são vinculados. De acordo com o comandante, “é como se fossem outros soldados”.
Gorda e Multicam já estão adaptados ao dia a dia da caserna. Eles dormem no canil, em compartimentos separados, mas ajudam das tarefas desde o toque da alvorada, colaborando na inspeção dos alojamentos.
Como ajudar os cachorros de rua?
Os soldados bolivianos não participam de atividades de busca de animais vadios nas ruas das cidades. A orientação é que, caso sejam seguidos por cachorros, como foi o caso de Gorda e Multicam, eles devem acolhê-los e encaminhá-los para o canil.
Depois de uma inspeção, os animais são incorporados à rotina dos quartéis. No caso de animais hostis ou muito tímidos, eles são alimentados e os soldados verificam se estão em boas condições, encaminhando relatórios aos centros de controle de animais.
Qualquer pessoa pode ajudar cachorros de rua. Por exemplo, instalando comedouros e bebedouros em postes e árvores – e abastecendo-os regularmente – para que os animais abandonados não passem fome, nem precisem brigar muito pelo alimento.
Todos os que tiverem tempo, espaço e condições financeiras devem pensar seriamente em adotar cães e gatos abandonados. Muitos perambulam pelas ruas, enquanto outros esperam uma nova chance em abrigos mantidos pelos municípios e por entidades não governamentais.
Visitar os abrigos é outra boa maneira de ajudar os cachorros de rua. Quem puder dispor de algumas horas por semana pode procurar as instituições que permitem visitas e oferecer-se para brincar, passear e praticar exercícios com os peludos.
Quem não tem tempo – ou não gosta de brincar com animais – pode fazer doações de ração, medicamentos, produtos de higiene e limpeza, agasalhos, brinquedos, etc. As ONGs, em especial, estão sempre precisando de donativos para continuar desenvolvendo suas ações.
Mesmo quem não tem tempo, dinheiro nem habilidades pode ajudar os peludos: basta curtir e compartilhar postagens nas redes sociais sobre as atividades dos abrigos e centros de resgate. Este gesto simples aumenta as chances de doações, mas principalmente de novas adoções.
(Fonte: Metrópoles/ caesonline)