Correio de Carajás

Sobrecarga: ao menos cinco estados têm ocupação de 80% dos leitos de UTI para Covid-19 na rede pública

Ao menos cinco estados do Brasil estão com a ocupação maior de 80% nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para Covid-19 da rede pública, segundo informações divulgadas pelas secretarias de saúde na quinta-feira (3). São eles: Amazonas, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Pernambuco. Em alguns locais do país, a ocupação dos leitos de UTI para outras doenças também é alta.

No Rio de Janeiro, cerca de 86% dos leitos de UTI destinados à Covid-19 estão ocupados no Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a Secretaria estadual de Saúde. Há ainda 216 pessoas com suspeita ou confirmação de Covid-19 aguardando transferência para a UTI. Os leitos de terapia intensiva destinados a pacientes sem coronavírus estão com ocupação de 80,22%.

A situação na capital carioca é ainda mais preocupante: a taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 do SUS — que inclui leitos de unidades municipais, estaduais e federais — é de 92%. A informação é da Secretaria municipal de Saúde.

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No Amazonas, a taxa de ocupação dos leitos adultos de UTI para Covid-19 na rede pública é de 81,67%, segundo o boletim da secretaria estadual de saúde. Já para os leitos de UTI adultos gerais no SUS, a ocupação é de 76,14%.

Em Pernambuco, a taxa de ocupação de leitos de UTI para pacientes com Síndrome Respiratória Aguda (SRAG), incluindo casos suspeitos e confirmados de Covid-19, é de 85%.

No Espírito Santo, 81,63% dos leitos UTI para Covid-19 estão ocupados, enquanto os de terapia intensiva geral (para pacientes sem Covid) a taxa é de 84,38%.

No Paraná, a taxa de ocupação dos leitos exclusivos para Covid-19 no SUS é de 87%. Já nos leitos de UTI para outras doenças, a ocupação é de 61%.

Segundo informações do G1, na capital, Curitiba, e na região metropolitana, mais de 100 pacientes com Covid-19 ou suspeita da doença aguardam por uma vaga de enfermaria ou UTI em algum hospital da região, de acordo com a Secretaria estadual da Saúde.

Na quinta-feira, o governo do Paraná se reuniu com prefeituras para discutir decreto único contra a Covid-19 para Curitiba e cidades da região metropolitana. O governo informou que as medidas devem ser aplicadas nos próximos dias em virtude do aumento no volume de casos da doença e também da situação do sistema público de saúde, de acordo com informações do G1.

Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, o aumento de casos e de internações decorrentes de Covid-19 no Brasil é preocupante.

— Temos que ficar muito preocupados (com a situação) porque a lotação está acima do que deveria e corremos o risco de ter falta de leitos, tanto na rede pública quanto na privada. Ainda há outro agravante: como a prioridade é internar pacientes com Covid e eles não podem ficar no mesmo ambiente que os que não estão infectados pelo coronavírus, hospitais estão desviando unidades de terapia intensiva inteiras para o tratamento de Covid. Com isso, começa a ocorrer um déficit nos leitos de UTI gerais. Já vemos hospitais cancelando cirurgias eletivas para conseguir dar conta de atender os pacientes com Covid-19 — afirma Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e infectologista do laboratório Sérgio Franco.

A solução indicada pelos especialistas é a abertura de novos leitos destinados à Covid-19 — dentro da estrutura do SUS para se tornar permanente e não com hospitais de campanha — e a restrição de serviços não essenciais.

— Estamos vivendo uma política do “nem-nem”: não tivemos nem fechamento (lockdown efetivo) nem temos serviço de saúde. Não fomos a favor de abrir hospital de campanha, mas fomos contra fechá-los. O que queríamos era que fosse usada a capacidade ociosa da rede pública. O ideal é abrir leitos com muita emergência, porque estamos com pessoas morrendo nas Upas e em casa. Para frear a transmissão do vírus, tinha que fechar, por um tempo determinado, bares, academias de ginástica e eventos (como shows) que são atividades não essenciais e que têm uma grande possibilidade de transmissão. Precisamos também melhorar o planejamento dos órgãos de saúde — diz Ligia Bahia, especialista em Saúde Pública da UFRJ e colunista do GLOBO.

Para ambos os especialistas, o país não vive uma segunda onda da Covid-19, mas um repique da primeira, já que a pandemia nunca esteve sob controle no Brasil, como ocorreu nos países europeus, por exemplo.

Rede privada também apresenta ocupação alta

Também há um crescimento no número de casos e internações de pacientes com Covid-19 na rede privada, segundo informações da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). A entidade realizou um levantamento interno sobre a taxa de ocupação de leitos de UTIs, quartos e enfermarias, na semana de 20 a 27 de novembro.

Entre 33 hospitais participantes de diversas regiões do Brasil, que contam com 77.788 leitos operacionais por dia, sendo 14% destinados exclusivamente à Covid-19, a taxa de ocupação por pacientes infectados foi de 74,7% no período pesquisado. A ocupação geral foi de 70%.

Na cidade de São Paulo, os 11 respondentes destinaram 11% dos leitos operacionais à Covid-19. Nesses, a taxa de ocupação por pacientes com a doença foi de 83,2%.

Outros estados têm situação de alerta

A Secretaria de Saúde de Santa Catarina não divulgou as informações sobre ocupação de leitos exclusivos para Covid-19. Mas a taxa de ocupação geral no estado era de 86% na quinta-feira, com 1.252 leitos em uso, sendo 610 por pacientes com confirmação ou suspeita de infecção por coronavírus.

Já na Bahia, a ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede pública é de 70%, mas os leitos de UTI destinados às demais doenças estão com lotação que beira os 100%. Segundo a Secretaria de Saúde, essa taxa é alta devido à grande velocidade de giro dos leitos.

Na quinta-feira, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia anunciou que está reabrindo vagas em UTIs, devido ao crescimento da taxa de ocupação de leitos destinados ao tratamento de pacientes com Covid-19.

O secretário de Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, destacou que o cenário atualmente é mais crítico do que o vivido nos meses de junho e julho. “Pela primeira vez, todas as regiões da Bahia estão com número alto de incidência, internação e ocupação de leitos. A sobrecarga no sistema é muito maior, uma vez que outros problemas como acidentes de trânsito também aumentaram”, explicou em nota divulgada pela secretaria.

“Estamos vendo um aumento do número de notificações da Covid-19 e de internações. Precisamos continuar tomando todas as medidas de prevenção, como evitar aglomerações e o uso de máscaras. Enquanto governo, podemos garantir que situações excepcionais, como festas em locais públicos, sejam proibidas, mas é importante que todos colaborem”, afirmou Vilas-Boas.

(Fonte:O Globo)