Correio de Carajás

Sobre Paulo Gustavo e o amor cristão

A morte do ator Paulo Gustavo desvelou mais um capítulo desses tempos de intolerância e falta de amor que vivenciamos neste “país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”.

Na verdade, desde o internamento do ator (vítima de covid-19), as redes sociais já vomitavam ódio, desprezo e falta de zelo pela vida do semelhante.

Um pastor evangélico assumiu publicamente que estava orando pela morte do ator, enquanto religiosos atribuíam a doença ao fato de Paulo Gustavo ter “zombado de Deus”, como se enfermidade e morte não fossem fenômenos para os quais estamos todos destinados (bons e maus).

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De tudo isso que temos o desgosto de ver nas redes sociais, tiramos a seguinte conclusão: muitos dos religiosos estão desprovidos da principal virtude teologal: o amor.

Para que os cristãos me compreendam, procurarei debater este tema dentro daquilo que dizem acreditar: a própria Bíblia.

Está escrito em I Coríntios capítulo 13, versículo 13: “Agora pois permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior deste é o amor”.

A pressa em julgar o semelhante, em apontar-lhe o dedo, simplesmente porque não comunga de determinada filiação religiosa, é uma prova inconteste de que falta amor a muitos dos pretensos cristãos.

Vejo nas redes sociais pessoas dizendo que Paulo Gustavo está destinado ao inferno, porque “no céu não entra qualquer coisa”, porque ele era gay.

Está escrito em Tiago, capítulo 4, versículo 12: “Um só é o Legislador e Juiz, Aquele que pode salvar e aniquilar. Tu, no entanto, quem és, para julgar o teu semelhante?”.

Quem somos nós para nos acharmos melhores do que Paulo Gustavo?

Dirão alguns: “Ah, mas é preciso se arrepender para ser ‘salvo’”.

Quem de nós conhece o coração do próximo?

E esse desejo pela destruição eterna do outro, que vimos nas redes sociais, direcionado neste momento a Paulo Gustavo, é apenas mais um aspecto de um movimento muito maior, que vem se alastrando entre os religiosos fundamentalistas do Brasil.

Há um ódio crescente pelo diferente, uma incapacidade de aceitar que algumas pessoas têm o direito de não serem religiosas, de não serem cristãs, porque ninguém é obrigado a nada! E se existe mesmo um Deus, talvez Ele saiba muito mais sobre nós e sobre nosso semelhante do que qualquer um de nós.

Nas redes sociais, grande parte dos cristãos não fala mais sobre o amor de Deus. O altar erguido na rede mundial de computadores endeusa outro mito, traz outra mensagem. Não se fala mais do caminho, da verdade e da vida. Agora é só violência, julgamento e morte.

A impressão que fica é que os ensinamentos do Jesus chamado Cristo parecem ter sido esquecidos.

Quando Jesus foi ao Monte das Oliveiras e começou a pregar, muitos de seus seguidores aguardavam um discurso de ódio, um chamamento para enfrentar a opressão romana, um sinal de arma. Mas Jesus trazia outras palavras, como “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus, Capítulo 5, Versículo 9).

Para verificar o quão distante andam muitos cristãos dos ensinamentos de Cristo, basta confrontar o discurso de amor do “Mestre” com o discurso de ódio daqueles que se dizem seus seguidores.

Eu encerro esta reflexão com uma das minhas passagens bíblicas preferidas, que está em I João, Capítulo 4, Versículo 20: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, mas odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem nunca viu?”

Pense nisso, semeie amor, perdão, compreensão, tolerância, humildade, luz; nenhuma arma ou uma pedra devem estar em nossas mãos.

Amém?