O tempo parece não diminuir a dor da perda da advogada e educadora Wilma Lemos. Passados dois meses desde que sua filha, Dayse Dyana Sousa e Silva, foi covardemente assassinada em Parauapebas, a mãe, que reside em Marabá, participou da sessão ordinária desta terça-feira, 4 de junho, na Câmara Municipal de Marabá.
Ao lado do pai de sua filha, Mateus Serejo e Silva, ela usou a tribuna por cerca de 12 minutos e rememorou a trajetória da filha, que trabalhou por cerca de 15 anos em lojas da Boticário, fez graduação em matemática e até mesmo conseguiu aprovação no concurso da Prefeitura de Marabá, cujo resultado foi divulgado há cerca de uma semana. “Um louco tirou a minha filha da minha vida, disse a mãe, derretendo-se em lágrimas”.
Contou que a filha fora criada dentro dos princípios bíblicos e foi onde a família viveu os melhores momentos da vida ao seu lado. “Mesmo passando por esse sofrimento, Deus tem me sustentado. Minha filha foi muito determinada, estudou, queria ser independente e trabalhar. E conseguiu”.
Leia mais:Forte e destemida, ao mesmo tempo, Wilma Lemos contou que quando a filha já estava trabalhando, um rapaz se aproximou dela, demonstrando ser uma boa pessoa. Se casaram, tiveram um. “Foi uma grande alegria. De repente o homem enlouqueceu, a machucava e ela denunciou ele, buscou medida protetiva por meio da Lei Maria da Penha. Ela saiu da vida dele, e ficou com medo das ameaças. Mas depois voltou com ele, com medo que fizesse algo contra o filho”, relembrou.
A advogada pediu que os vereadores se engajem na luta contra o feminicídio, como forma de fazer justiça pelas mulheres que, como Dayse, perderam a vida nas mãos de homens desestruturados. “Minha filha me deu um presente que foi meu neto. Clamo ao Deus que conceda justiça divina e também a dos homens pela Dayse”.
Depois do clamor de Wilma Lemos, um silêncio inexplicável tomou de conta do Plenário da Câmara. Os vereadores que usaram a palavra em seguida se solidarizaram com ela: Gilson Dias, Priscila Veloso, Pedro Corrêa, Ilker Moraes, Irismar Melo, Alecio Stringari e Tiago Koch.
Priscila Veloso, presidente da Comissão da Mulher na Câmara, disse que é preciso manter forte a luta contra o feminicídio e que é necessário pregar uma cultura de paz em Marabá e região. “Vamos continuar pedindo justiça a este caso”, garantiu.
Pedro Corrêa, presidente da Câmara, avaliou que o depoimento de Wilma na Câmara ajuda a alertar os homens sobre o cuidado com a mulher, evitando o feminicídio, “que é a forma mais brutal de violência contra a mulher. Parabenizamos todos os homens e mulheres que abraçaram esta causa contra o feminicídio”.
Irismar Melo considerou que o ato de familiares e amigos em memória à Dayse foi cheio de emoção e veio com um pedido de justiça. “A família veio ao encontro da Câmara em busca de solidariedade e na busca por justiça. Precisamos exterminar os casos de feminicídio e outros tipos de violência contra a mulher. Numa sociedade em que a violência é cultural, é preciso que haja avanço para erradicar esse mal”.
Um grupo de familiares e amigos foi à Câmara vestido com camisetas com a fotografia de Dayse Dyana. Havia também três banners com a imagem dela e frases de efeito com o mesmo teor. (Ulisses Pompeu)