Correio de Carajás

Servidor exonerado afirma ter sido vítima de homofobia e pede por justiça

O professor de geografia afirmou, em entrevista, que precisou sair do Município por medo das ameaças que sofreu

Na quinta-feira (22), o professor de geografia Elton Reis – formado na Universidade Federal do Tocantins (UFTO) – compartilhou, em suas redes sociais, um vídeo onde se defende de acusações onde ele, supostamente, estaria difundindo “ideologia de gênero” durante uma campanha do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Parauapebas (COMDCAP). A partir do vídeo, na íntegra, é possível constatar que o jovem falava, claramente, em movimentos estudantis, ao contrário do que foi compartilhado nas redes sociais, onde ele supostamente incentivava crianças a “se tornar LGBT”.

No vídeo, o professor afirma ter sido procurado pelo COMDCAP para ministrar uma palestra sobre os direitos e deveres da criança e do adolescente. A campanha foi gravada e publicada no YouTube, onde qualquer cidadão poderia ter acesso. Foi nesse momento que “um pastor evangélico aqui da nossa cidade”, afirma, “resolveu pegar o meu vídeo e associar à famigerada ‘ideologia de gênero’ e dizer que eu estava ‘doutrinando’ as crianças a ser LGBTQUIA+ e todas aquelas fake news que vocês já estão acostumados”.

O professor de geografia afirmou que teve a vida exposta – com dados pessoais, como RG e CPF, divulgados em redes sociais – e vídeos adulterados por um candidato. “O que aconteceu comigo foi criminoso”, continua, “uma Câmara de Vereadores inteira me condenando com base em um áudio, sem levar em consideração a minha história”.

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Elton Reis foi procurado pela equipe de reportagem do CORREIO, onde afirmou que a situação teve graves consequências. Ele foi exonerado da função – sua única fonte de renda – na última Sessão Legislativa, realizada no dia 20 (terça-feira), e alega estar sofrendo constantes ameaças desde o ocorrido, motivo pelo qual teve que sair da cidade para prezar por sua segurança. Além disso, ele afirmou que não está tendo, sequer, direito à defesa, porque nenhum advogado quer pegar o caso.

Em vídeo publicado nos perfis de Elton e do COMDCAP, ele fala sobre sua relação com os movimentos estudantis

Ele defende que em momento algum fala em “ideologia de gênero” ou “ensina crianças a ser LGBT”. “Eu queria pedir a você, que acredita em mim, que assistiu os vídeos e não encontrou nada de ‘ideologia de gênero’, que me ajudasse a gritar por justiça […]. Eu não fiz o que estão me acusando, estou sendo vítima de uma fake news”.

Questionado sobre a postura do COMDCAP, que publicou uma nota onde afirmava ter removido o vídeo da campanha assim que o trecho gerou uma repercussão negativa, ele afirmou que o Conselho deveria ter sido mais incisivo em sua defesa, tendo em vista que eles acompanharam, de perto, todas as palestras e o professor foi convidado via ofício para participar das ações. Segundo ele, o próprio Conselho reconheceu o erro, republicando o vídeo da sua participação da campanha na íntegra.

O perfil do Instagram do COMDCAP e o perfil pessoal do professor compartilharam o vídeo onde Elton se apresenta e fala sobre sua função dentro da campanha “Todos pelos direitos e deveres da criança e do adolescente”. A partir do vídeo, é possível compreender, claramente, que o professor de geografia, ao afirmar que “se libertou aos 14 anos”, estava se referindo ao momento em que começou a militar pelo movimento estudantil União Nacional dos Estudantes (UNE).

Esse foi o trecho que viralizou nas redes sociais, onde Elton segue falando, na palestra, que os jovens não devem se reprimir quando estão frente de com uma situação que deve ser mudada, seja dentro das escolas ou dentro da família.

Por fim, ele afirma ter sido julgado não pelo que falou, mas por ser quem ele é: “se fosse qualquer outra pessoa falando o que eu falo no vídeo, não haveria problema algum”. Em uma das publicações no Instagram, ele afirma que “informações distorcidas” podem gerar “um festival de homofobia, calúnia e difamações”. A publicação onde o professor se defende das alegações já gerou grande repercussão, com mais de 22 mil visualizações e quase 2 mil comentários, e o vídeo da sua apresentação já alcançou mais de 7 mil visualizações, onde ele tem recebido diversos apoios.

SESSÃO DA CÂMARA

A 27ª Ordinária da 2ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura, ocorrida na última terça-feira (20) teve, além da confusão habitual, grande enfoque no caso de Elton Reis, que foi alvo de críticas por todos os vereadores, que fizeram longos discursos moralistas baseados nos áudios compartilhados pelo pastor evangélico Matheus Portela e em um trecho do vídeo do professor.

Alguns trechos dessa Sessão foram compartilhados no perfil pessoal de Elton no Instagram, e chamou a atenção um vídeo em que o vereador Miquinha (PT), declara que “se eu pego um cabra desse, com um discurso desses, pro meu neto, pra minhas crianças é perigoso eu enforcar ele lá mesmo”, e continua, afirmando que “isso é um crime contra a pátria brasileira”. No fim, ele afirma que “nós temos que pregar a paz nesse país, […] temos que ‘largar’ de pregar a violência e botar companheiros para brigar com outros militantes”.

A equipe de reportagem do CORREIO entrou em contato com a assessoria de comunicação do vereador petista e aguarda um posicionamento reiterando ou retratando as afirmações realizadas durante a Sessão Legislativa. (Clein Ferreira)