Correio de Carajás

Serra Pelada: Querem bamburrar de novo

Bamburrar foi um verbo criado no garimpo de Serra Pelada, no início da década de 1980, para designar o garimpeiro que pegou muito ouro e ficou rico de uma hora para outra. A palavra ressurgiu há cinco dias no dicionário dos moradores da vila que pertence ao município de Curionópolis, a 130 km de Marabá, que foi considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo.

O motivo foi a descoberta de um filão de ouro na área pelos requeiros, de onde foram extraídas, na semana passada, algumas pepitas próximas à superfície da terra. Com isso, a notícia se espalhou por toda a região e tem atraído muito garimpeiros para o local.

Um dos sonhadores que se dirigiu para a lugar é o garimpeiro Lucas da Conceição Silva. Com um detector de metal popularmente conhecido como “Piu Piu”, ele tem esperança de encontrar o minério. O jovem explica que o objeto tem a capacidade de identificar o material numa profundidade de até três metros. “O detector nos dá sinal através de um som, quanto mais próximo ao minério, mais o som aumenta”, explica.

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Com detector de metal, o garimpeiro Lucas pretende achar ouro

Outro garimpeiro que foi surpreendido com a notícia do ouro foi Francisco Satiro dos Santos (68). Ele conta que recebeu a informação quando saiu para pagar algumas contas e encontrou amigos que o contaram sobre a novidade. Com isso, o idoso já planeja se reunir com alguns colegas para iniciar a caçada e afirma que muitas pessoas já estão chegando no local. “Nossa esperança é essa. Acredito que tem ouro aí. Ontem tinha muita gente, devagar eles estão chegando de todos os lugares”, conta.

A Reportagem do CORREIO procurou a COOMIGASP (Cooperativa de Garimpeiros de Serra Pelada) e descobriu que a entidade está mergulhada em mais um processo de transição sob intervenção judicial.

Jimmyson Pacheco, que atuava como administrador da cooperativa até pouco tempo, respondeu ao CORREIO, quando procurado, que uma decisão judicial de 3 de maio último afastou a diretoria anterior e Ary Remígio, que era presidente do Conselho Fiscal, assumiu como presidente interino. Este último decidiu não interferir na iniciativa dos garimpeiros, pois o foco é realizar Assembleia Geral da Coomigasp no dia 21 de julho próximo, para eleição da nova diretoria, que é quem deverá tomar um posicionamento sobre a garimpagem na área que está sob sua jurisdição.

“As pessoas que se aglomeram na área são garimpeiros de Serra Pelada, associados da Coomigasp. Como a notícia se espalhou de forma instantânea, está chegando gente dos quatro cantos do País”, informou Jimmyson Pacheco.

Movimentação de pessoas no local já é intensa

A diretoria destituída pela Justiça teria perdido o mandato porque alguns associados entraram na justiça com ação para anular a assembleia que a elegeu. “Como a diretoria perdeu o mandato, todos os atos do presidente anterior se tornaram nulos, inclusive a contratação de advogado”, observa Pacheco.

Segundo ele, a Coomigasp tem 38 mil associados espalhados em várias partes do País e foi formada uma comissão eleitoral na última terça-feira, dia 25, sendo que o prazo para inscrição de chapas para concorrer à eleição da entidade abre nesta quinta-feira, 27, após a publicação do edital.

Na avaliação de Jimmyson, a Cooperativa tem o poder de barrar a escavação que está sendo feita, mas o presidente interino quer deixar essa decisão para a nova diretoria, já que ele não é candidato ao cargo de presidente.

NEGOCIAÇÃO COM EMPRESA CANADENSE

Pacheco revela que a Coomigasp mantém há algum tempo uma negociação com outra empresa canadense, a Anapurna Mines, que não teria nenhuma ligação com a Colossus, que abandonou o projeto e deixou os garimpeiros na mão. “Não há nada firmado, apenas negociações, porque essa outra empresa tem interesse em retomar o projeto de forma mecanizada. Nossa preocupação é não perdermos a credibilidade na negociação com essa empresa”, diz.

Ele avalia que o garimpeiro antigo de Serra Pelada vive um drama, porque gostaria que a extração de ouro fosse feita pela entidade que o representa oficialmente desde o início da década de 1980. Por outro lado, já com idade avançada, não têm mais vigor físico para trabalhar de forma manual. “Com isso, o grupo que encontrou uma laje no último sábado, onde poderia ter três grandes filões de ouro, ficou entusiasmado e foi procurar quem tivesse máquina para realizar a escavação. A notícia correu rápido e hoje Serra Pelada está recebendo gente de várias partes do País. Eles estão felizes porque há um fio de esperança e de que voltem a bamburrar”, encerra Jimmyson Pacheco.    (Karine Sued e Ulisses Pompeu)

Saiba mais

A Reportagem do CORREIO entrou em contato por telefone com a Polícia Federal na tarde de ontem, mas não foi possível localizar o delegado chefe para dar esclarecimento sobre a situação da nova corrida à Serra Pelada. Inclusive o agente que atendeu a ligação do Jornal afirmou desconhecer o fato.