O Parque Estadual da Serra das Andorinhas/Martírio (PESAM) termina o ano de 2023 sem nenhum registro de incêndio. Esse é um feito histórico, segundo o chefe da Brigada local, Gesivan Alves dos Santos.
O resultado positivo é fruto do trabalho de manejo integrado do fogo e da educação ambiental que foi realizada na comunidade, além das rondas preventivas feitas constantemente ao longo dos 60 mil hectares do Parque. “Esse ano começamos mais cedo e, assim que terminou o período chuvoso, fizemos as queimadas prescritas em algumas áreas do cerrado. Assim, quando entra o período de seca o fogo não consegue adentrar a mata”, explica.
O manejo integrado do fogo, ou queimada controlada, como é chamado, é o uso do fogo em parcelas da vegetação criando uma espécie de barreira natural para evitar o espalhamento das chamas quando ocorrem incêndios florestais.
Leia mais:Gesivan ratifica a diferença entre queimada e incêndio. “Queimada são sempre decorrentes da ação humana. A gente mesmo coloca e controla. O fogo só vai até onde a gente quer. O incêndio foge do controle, ninguém prevê ou é uma ação proposital, que acontecia corriqueiramente no Parque”, relembra.
Ele ressalta a prova de que o manejo na área de cerrado do Parque foi realizado de forma correta, tendo como consequência, o reaparecimento de frutas que não brotavam há muito tempo, como pequi, puçá e caju.
Em 1996, tanto o Parque quanto a APA foram reconhecidos por lei e transformados em unidades de conservação pelo Governo do Estado. Com isso, o Ideflor-Bio passou a ser gestor dessas duas áreas. Os mais de 60 mil hectares do Pesam passaram a ser de proteção integrada, ou seja, ninguém pode morar lá dentro e as 138 famílias que residiam na área foram remanejadas e indenizadas. Já na área da APA – que funciona como uma espécie de zona de amortecimento para o Parque – há propriedades privadas, mas qualquer tipo de manejo tem de ser antecipado por informações e acompanhamento do Ideflor.
Além do turismo de lazer, o Pesam atrai cientistas de seis instituições superiores do Brasil e da Europa, que encontraram ali um laboratório de possibilidades e descobertas para o Brasil e para o Planeta. Não é exagero. As características biofísicas desta região, sua grande biodiversidade (fauna e flora), os vestígios da ancestral ocupação humana ou de sua história recente como palco da Guerrilha do Araguaia, têm despertado o interesse de numerosos pesquisadores.
Desde a década de 1980, equipes de várias instituições, como o Museu Paraense Emílio Goeldi, Fundação Casa da Cultura de Marabá, EMBRAPA Amazônia Oriental, Universidade de Coimbra e mais recentemente a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), têm desenvolvido trabalhos acadêmicos sobre o Parque Serra das Andorinhas e a APA (Área de Proteção Ambienta) Araguaia.
O Parque Serra das Andorinhas se distingue, também, por ter sido palco da Guerrilha do Araguaia, o movimento armado de ideologia comunista e socialista. Os moradores antigos apontam os morros Urutu e Urutuzinho como “bases” dos militares, que caçavam os comunistas na selva, em meados da década de 1960 e início de 1970, durante o período do Regime Militar no Brasil. (Ana Mangas)