Correio de Carajás

Seminário em Marabá propõe ações urgentes para enfrentar crise climática

Unifesspa reúne especialistas para debater, com a comunidade, impactos das mudanças climáticas na região de Carajás

Professor Maurílio Monteiro: “Está cada vez mais evidente para todos nós que as mudanças climáticas estão em um curso mais rápido do que esperávamos”/Foto: Ulisses Pompeu
Por: Luciana Araújo

Com os efeitos das mudanças climáticas avançando mais rápido do que o previsto, pesquisadores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) têm se dedicado a compreender como essas transformações alcançam o território amazônico, especialmente a região de Carajás.

Estudos recentes do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Desenvolvimento Regional e Urbano na Amazônia (PPGPAM) mostram impactos concretos em escala local, como no assentamento Deus te Ama, em Rondon do Pará, onde alterações no clima já afetam diretamente a produção agrícola e a rotina das famílias.

Esse acúmulo de pesquisas e experiências de extensão universitária motivou a organização do seminário Amazônia e Mudanças Climáticas: conhecimento, extensão universitária e políticas públicas, que será realizado de 3 a 5 de dezembro, na Unidade 3 da Unifesspa, no bairro Cidade Jardim, em Marabá. Detalhes sobre o evento foram repassados pelo professor Maurilio Monteiro em entrevista para jornalistas do Grupo Correio na manhã desta segunda-feira (1º de dezembro).

Leia mais:

“Está cada vez mais evidente para todos nós que as mudanças climáticas estão em um curso mais rápido do que esperávamos e que gostaríamos que fosse”, alerta.

Segundo ele, o encontro pretende reunir cientistas, estudantes, representantes de comunidades, gestores públicos e analistas externos para debater os desafios climáticos e construir alternativas de ação para a região.

A programação está estruturada em três eixos principais: produção científica sobre os efeitos locais das mudanças climáticas, apresentação de vivências de extensão universitária em áreas rurais e urbanas, e proposição de políticas públicas voltadas à mitigação e adaptação. Os resultados discutidos serão reunidos em um Caderno Temático apoiado por agências de fomento como SECTET, Fapespa e CNPq.

Evento acontece na Unidade 3 da Unifesspa em Marabá entre os dias 3 e 5 de dezembro

A sessão de abertura, no dia 3, contará com a participação de uma pesquisadora do Ipea que discutirá o papel estratégico da Amazônia e de Carajás no cenário das mudanças climáticas. O debate analisará como mineração, agropecuária, grandes projetos de infraestrutura e expansão urbana reconfiguram o território, intensificam vulnerabilidades e alimentam desigualdades socioambientais.

No dia 4, a programação seguirá com temas que atravessam diretamente a vida nas cidades e no campo. A primeira sessão discutirá obstáculos e oportunidades para a recomposição florestal em áreas amazônicas, destacando experiências com Sistemas Agroflorestais (SAFs) em assentamentos rurais. Logo depois, outra mesa tratará do espraiamento urbano e da formação de ilhas de calor em cidades da região, apontando caminhos de planejamento para enfrentar o aumento das temperaturas.

À tarde, o foco será o setor produtivo. Pesquisadores apresentarão dados sobre os impactos das mudanças climáticas na pecuária leiteira, que já registra queda de até 50% na produção durante os meses mais quentes, devido à redução do pasto e ao estresse térmico. A piscicultura também será debatida, com ênfase na sensibilidade da atividade às variações de temperatura da água e às alterações nos parâmetros físico-químicos que comprometem a sanidade e o crescimento dos peixes. Estratégias como aeração noturna, biofiltração e índices de exposição climática serão discutidas como alternativas de adaptação.

A programação do dia 4 inclui ainda debates sobre o uso de bioinsumos na produção agrícola regional e as limitações do modelo baseado em insumos químicos, que aumenta as emissões de gases de efeito estufa. A proposta é fortalecer práticas locais, cooperativas e iniciativas de inovação desenvolvidas em parceria com agricultores familiares.

No dia 5, o seminário volta-se para a educação, os saberes do campo e os caminhos de mobilização social. A primeira sessão discutirá o papel da educação rural na construção de novas formas de compreender e enfrentar a crise climática, integrando conhecimentos tradicionais, práticas comunitárias e ciência contemporânea. Em seguida, será lançado o livro Currículo Integrado, Agroecologia e Letramento em Português e Matemática, resultado de projetos desenvolvidos em escolas do campo do sudeste paraense.

O evento encerra com uma sessão dedicada à formulação de uma agenda territorial de mitigação e adaptação. A proposta é reunir agricultores, movimentos sociais, gestores públicos, parlamentares, comunidades tradicionais e instituições de pesquisa para identificar prioridades e mecanismos de ação conjunta diante dos cenários climáticos projetados para a Amazônia.

Ao reunir pesquisa, extensão e formulação de políticas públicas, o seminário pretende fortalecer o diálogo entre universidade, sociedade e Estado, articulando respostas capazes de enfrentar a crise climática com base nas especificidades territoriais da região de Carajás. (Com Milla Andrade e Laura Guido)