Usando um filá (chapéu), uma bata e calça brancos, além da notável guia (colar) pendurada em seu pescoço, utilizada pelos incontestáveis filhos de Oxum, nas cores branco e vermelho, Jeová Lopes foi um dos romeiros que, mesmo não sendo católico, cumpriu a procissão segurando, durante todo o percurso, a corda, em forma de promessa à Nossa Senhora de Nazaré.
O marabaense, de 32 anos, é pertencente e praticante da Umbanda, religião brasileira resultante da mistura de elementos de religiões africanas, indígenas, orientais e europeias (catolicismo e espiritismo kardecista), e todos os anos, desde o nascimento de sua filha em 2015, se compromete em ir descalço acompanhando a berlinda e agarrado à corrente de fé que marca o Círio de Nazaré.
Se destacando em meio ao mar de devotos, em que 90% é praticante do catolicismo, ao contrário do que se parece, o umbandista não fugia de sua doutrina. As energias de orixás como Oxum e Iemanjá são sincretizadas com as das santas católicas desde o período da escravidão, quando a comunidade africana, para continuar cultuando sua espiritualidade, foi obrigada a dar nomes de santos católicos aos seus orixás.
Leia mais:A Rainha da Amazônia é representada por Oxum na Umbanda, e simbolizada no colar usado por Jeová, que se emocionou ao ser entrevistado em meio a concentração e ao rebuliço em torno da corda. Questionado sobre a motivação de sua presença na 42ª edição do maior evento religioso de Marabá, ele disse com os olhos marejados: “É muita fé, muito amor. Tudo por Maria que é minha mãe, minha padroeira”.
Apesar da singularidade de sua participação devido à distinção de cultos, sua narrativa não é incomum, assim como muitos outros peregrinos marabaenses, sua finalidade era manifestar sua gratidão pela vida de sua filha de sete anos. Em resumo, Jeová é um pai apaixonado e um devoto intenso, acima de qualquer outra coisa que se faça divergente. (Thays Araujo)