Correio de Carajás

Secretário de Educação é denunciado por realizar formação em igreja

O secretário de educação de Bom Jesus do Tocantins, Gilberto Pontes, foi denunciado junto ao Ministério Público do Estado do Pará por realizar formações dos professores da rede municipal do município dentro da igreja da qual ele é o pastor.

O Correio de Carajás teve acesso à denúncia, protocolada na 11ª PJ de Marabá, aos cuidados do promotor Alan Pierre Chaves Rocha, na qual consta o relato de uma professora que não concorda com a situação.

Simone Gonçalves da Silva afirma que o secretário – e pastor – obriga os professores a comparecerem à igreja, caso contrário, as faltas são descontadas nos salários dos servidores.

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“Precisamos ter formação dentro das escolas ou em ambientes educacionais, não religiosos. Todos os anos, desde 2018, o então secretário Gilberto Pontes vem promovendo todas as formações da educação na igreja que ele é pastor”, narra.

A professora afirma que não se sente à vontade dentro da igreja, que não é sua doutrina. Além disso, fala que o ambiente não é adequado para o propósito do encontro.

“Por não concordar com essa situação, não compareci na formação e tive 12 aulas descontadas em meu contracheque em janeiro de 2020. Não concordo com isso, pois não posso ser obrigada a estar em um ambiente que não faz parte do meu ambiente de trabalho”.

Na denúncia protocolada no MP, ela finaliza exigindo ressarcimento do valor que foi descontado, pois não deixou de dar aulas, apenas não frequentou uma formação dentro da igreja do secretário.

OUTRO LADO

A reportagem do Correio de Carajás procurou o secretário Gilberto Pontes, que afirmou desconhecer a denúncia, já que não recebeu notificação até o momento. Contudo, se prontificou a esclarecer o que está acontecendo no município.

O pastor afirma que, por se tratar de uma cidade muito pequena, Bom Jesus possui alguns gastos e despesas altos com a educação, principalmente depois da volta às aulas, quando as escolas precisaram passar por uma adequação.

“Desde que entrei na Secretaria de Educação tenho levado muito a sério meu trabalho. O que acontece aqui é que temos algumas dificuldades para arranjar lugares espaçosos, tipo um auditório, para fazer a formação dos professores. A igreja foi cedida sem nenhum ônus para a Prefeitura Municipal para que a formação aconteça lá. Eles não me pagam nenhum aluguel”, começa falando o secretário e pastor da Igreja Presbiteriana Batista.

Segundo Gilberto, a formação acontece dentro do tema da área pedagógica, que faz parte do trabalho Secretaria por qual ele responde. “Essas ações da educação é para que o professor fique cada vez mais preparado e possa ministrar e reger suas aulas dentro da qualidade que prezamos. Nós cedemos o prédio da igreja, sem nenhum custo, pois é um lugar confortável, com ar condicionado, bebedouro e banheiros”.

O secretário explica que se fosse para alugar um espaço, sairia muito caro para os cofres públicos, pois os aluguéis no município, de espaços amplos, são onerosos.

“A visão que eu tenho como pastor é a de ajudar, por isso a igreja cede seu espaço físico para esses encontros. Agora se alguém não gosta de entrar na igreja, fica difícil”, fala.

O secretário lamenta a denúncia e diz que a pessoa – que o denunciou – não está compreendendo a formação. “Pode ser na sede do prédio da igreja ou de baixo da ponte, em Marabá ou em uma escola qualquer… se for no horário de trabalho, tem que cumprir. Não obrigo ninguém a ir ao culto. Eu não faço formação religiosa. As pessoas que estão à frente da formação pedagógica são pessoas que contratamos de universidade. Só utilizamos o espaço que é aconchegante”.

Questionado pelo Correio de Carajás se as escolas do município não possuem um espaço que comporte todo o corpo docente, o secretário respondeu com uma pergunta. “Qual o problema de usar um prédio da igreja visto ser cedido pela instituição? A pessoa se incomoda por que a igreja está cedendo seu prédio?”, questiona.

Gilberto Pontes finalizou a entrevista afirmando que irá procurar o Sindicato dos Trabalhadores de Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp) para esclarecer essa questão. (Ana Mangas)