Correio de Carajás

Seagri abandona zona rural de Marabá e Toni, pressionado, demite secretário

Secretaria que já foi a mais forte do Município, passou longe de empregar todo o orçamento do ano e praticamente parou todo o maquinário

Hiron Farias deixou o cargo gravando vídeo e sem citar o nome do prefeito/ Foto: Ascom PMM

A exoneração de Hiron Pereira Farias do cargo de secretário Municipal de Agricultura de Marabá (Seagri), confirmada nesta quarta-feira (17) no Diário Oficial dos Municípios, expõe uma crise profunda na pasta e levanta sérias questões sobre a gestão dos recursos e a execução de políticas públicas essenciais para o setor rural. A saída de Farias, que, segundo bastidores, foi uma demissão e não um pedido, marca mais uma baixa no primeiro escalão do governo e ocorre sob forte pressão política e críticas ao governo Toni Cunha.

O vereador Marcos Paulo, ex-gestor da Seagri, trouxe a público uma análise detalhada que aponta para um verdadeiro “desmonte” da secretaria ao longo de 2025. A paralisação da máquina pública, que deveria ser o braço de apoio ao produtor rural, é o ponto central das críticas.

Colapso da mecanização

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O cerne da crise reside na inoperância do maquinário da Seagri. Segundo o levantamento do vereador, dos 26 tratores que compõem a frota da secretaria, apenas três estão em condições de uso. O restante permanece parado, comprometendo o atendimento a cerca de 3 mil produtores rurais que dependem da mecanização agrícola para o preparo de suas terras.

A situação se agrava com a paralisação de outros equipamentos vitais. A escavadeira hidráulica, por exemplo, está inativa há 12 meses. No total, dos 90 maquinários que a secretaria possui, menos de 20 estão em funcionamento. “O pessoal pensa que é brincadeira. A gente tem a maior secretaria do estado, mas ela está parada”, afirmou o vereador, destacando a frustração dos produtores.

Programas essenciais abandonados

O impacto do desmonte se estende a programas cruciais para a produtividade rural. O Programa de Calcário, que visa a correção do solo para o plantio de inverno e que beneficiava anualmente cerca de 500 produtores, não foi executado em 2025. A falha em entregar as mil toneladas de calcário, como era feito em gestões anteriores, prejudica diretamente a safra e a economia local.

Outro exemplo de ineficiência é o viveiro de mudas da secretaria. A meta anual de produção de 1 milhão de mudas está comprometida pela falta de um item de custo irrisório: os sacos de muda, que custam apenas 8 centavos a unidade.

A perfuratriz, equipamento essencial para a perfuração de poços e garantia de água para as comunidades rurais, também foi subutilizada. Com capacidade para cavar até 15 poços por mês, a máquina realizou a abertura de apenas sete poços durante todo o ano de 2025, um número que beira a inatividade.

Orçamento subutilizado

O vereador Marcos Paulo ressalta que a inexecução dos programas não pode ser atribuída à falta de recursos. A dotação orçamentária da Seagri para 2025 era de R$ 25 milhões, mas apenas R$ 12 milhões foram investidos, além dos R$ 5 milhões destinados à folha de pagamento. A diferença entre o orçamento disponível e o que foi efetivamente gasto aponta para uma falha grave de gestão e planejamento.

Pressão política

A crise na Seagri e a paralisação dos serviços geraram uma forte pressão e os reflexos até na Promotoria Agrária, liderada pela Dra. Alexandra Mardegan, que cobrava o funcionamento da pasta. Essa pressão externa, somada às falhas internas, culminou na demissão do secretário.

Para o seu lugar, o prefeito Toni Cunha nomeou o até então adjunto Arlis Pereira como secretário interino. Contudo, a nomeação já enfrenta resistência. Arllis, que é servidor concursado, possui uma alta taxa de rejeição entre os próprios servidores e os produtores rurais, o que pode dificultar a retomada das atividades da secretaria.