As candidaturas nem foram oficializadas ainda, mas o período de campanha em São Domingos do Araguaia promete dar bastante trabalho para a Justiça Eleitoral. Áudios repassados em grupos de Whatsapp escancaram a compra e venda de apoio para a disputa a prefeito e deixam a população assustada com o nível do desrespeito às regras eleitorais, já antes dos políticos serem eleitos. Um dos áudios envolve até um ex-prefeito do Município.
Um dos áudios é atribuído à senhora Maria Oliveira, a Maria Profeta, pré-candidata a vereadora. O comentário na cidade é de que ela teria ganho um carro usado para aderir a um dos candidatos a prefeito. No áudio ela diz:
“Oi irmã Rose. Se a senhora ver esse áudio, a senhora pode me receber amanhã na sua casa pra nós conversar? Eu quero ter uma conversa com a senhora assim, tá entendendo, por causa que eu saí aí do grupo e eu me vendi pro seu Nando. E eu quero explicar para a senhora por que foi que eu me vendi…”, diz um trecho do áudio.
Leia mais:Nando de quem ela trata no áudio, seria filho do pré-candidato a prefeito Elson Gomes Barbosa, conhecido como Dica, do PSL.
OUTRO CASO
O outro áudio é atribuído ao ex-prefeito de São Domingos, Jaime Modesto, hoje no PDT. Jaime também é apoiador do pré-candidato Dica, conforme ele mesmo assumiu ao CORREIO. No áudio, Jaime diz:
“Hei Baiano, pense num trem que tá sumido, heim?! Ninguém faz negócio, não vende, não compra. Tá feio, não tá rapaz? Nossa Senhora! Aí o único jeito, meu chefe, pelo que eu tô vendo, vai ser ainda esperar um tempo pra ver se a gente bate essa parada. Vai ser só um grupo só do lado de cá, né, e é um contra o outro. Do nosso lado aqui é eu, Tiririca, aquela turma todinha. É todo mundo só um candidato. A gente ganha e aí a gente faz um pé de meia nesses quatro anos…”, diz Jaime, conversando com um amigo empreiteiro.
Para muitos, a interpretação foi de que a expressão “pé de meia” signifique aproveitamento da prefeitura para enriquecimento. Fora isso, o uso da expressão “não vende e não compra” escancara o cenário da compra de apoio nos bastidores da eleição, envolvendo lideranças comunitárias e de partidos.
CORREIO ouviu envolvidos
O CORREIO foi atrás dos personagens envolvidos nos áudios polêmicos, a começar por Maria Profeta, que agora está sem telefone. O aparelho dela, dizem os vizinhos, teria sido confiscado pelos filhos, após o escândalo dos áudios.
Mesmo assim o jornal conseguiu localizá-la justo pelo telefone de uma das filhas. Questionada sobre a autenticidade do áudio atribuído a ela, disse ser falso e que não disse nada daquilo. “É mentira. Uma montagem que fizeram. É por isso mesmo que eu não sou candidata e nem tenho inveja de quem é. Tem muita é baixaria”.
Embora ela tente se desvincular do áudio com a sua voz, naquela mesma oportunidade ela gravou em alto e bom som que estava enviando o mesmo em pleno grupo dos candidatos, para que todos soubessem o que ela pensava. Ou seja, frente a várias testemunhas. Ela também nega ter ganho carro ou alguma vantagem para aderir a alguma campanha.
O ex-prefeito Jaime Modesto também atendeu a reportagem do CORREIO por celular e disse que o áudio com a sua voz é verdadeiro, mas que foi usado fora de contexto, replicado pela metade. Ele disse desconhecer a prática de compra de apoio nas eleições, e que vai apoiar Dica devolvendo um favor, por ter contado com o apoio da família dele em outro momento.
Questionado sobre o termo usado por ele “fazer o pé de meia”, Jaime disse que é um ditado popular que seu pai usava muito, em relação a estar empregado e que nada teria a ver com aproveitamento pessoal da função pública.
O CORREIO questionou, ainda, se ele, Jaime, considera que enriqueceu com a política. Ele disse que “ao contrário”, era rico antes da política e que teve muitos prejuízos com seu período de prefeito, por deixar seus negócios pessoais.
O Jornal não conseguiu falar com o pré-candidato a prefeito Dica e seu filho Nando. Os telefones que nos foram passados não atendiam ligações.
FATO GRAVE
Os áudios expostos pela reportagem, e que têm ampla circulação nos celulares dos cidadãos de São Domingos, constituem fato grave e que merecem total atenção do poder judiciário, diante da eleição que se avizinha.
Sabendo disso, o CORREIO procurou presencialmente, na sede do Ministério Público em Marabá, o promotor Gilberto Lins de Souza Filho, responsável pelos assuntos eleitorais referentes a São Domingos, São Geraldo e São João do Araguaia. Ele estava no local, mas não recebeu nossos repórteres. Na ocasião, o Jornal ia justamente fazer chegar ao seu conhecimento os áudios que nos foram enviados. (Da Redação)
Ouça os áudios abaixo: