São dois minutos e vinte e um segundos de duração. E o trailer do filme “Pureza” consegue seu objetivo de criar expectativa para o lançamento do longa-metragem que foi filmado quase todo em Marabá no verão passado, tendo a atriz Dira Paes no papel principal.
Ao ser advertida que a busca por seu filho perdido em uma fazenda do sul do Pará é uma luta de Davi contra Golias, Pureza responde de pronto: “Pois eu desafio até o Diabo no inferno se for necessário. Me desculpe, mas meu filho não vai ser feito de escravo não”.
A trama é forte e reflete a realidade brasileira, mais especificamente da Amazônia, onde os contratos de trabalho em fazendas geralmente são benéficos para os patrões, mas que causam graves consequências para os trabalhadores, reduzidos à condição análoga à escravidão.
Leia mais:Ao perambular nas fazendas desta região, Pureza arruma um emprego em uma fazenda e acaba testemunhando o tratamento brutal de trabalhadores rurais escravizados. Agora, além de encontrar o filho, ela precisa escapar de lá e informar as autoridades sobre aquelas atrocidades.
“O tom do filme será de drama pessoal e social: a escravidão contemporânea aparece com todas as tintas. Temos cinco séculos de persistência dela. A escravidão por dívida, o cárcere privado, as condições degradantes e as jornadas exaustivas nunca acabaram”, comenta Renato Barbieri, diretor do filme.
Como figurantes, trabalhadores rurais reais, integrados à equipe de 80 profissionais da fita, reforçaram o que o diretor chama de “o lugar de fala do oprimido”. Uma cidade cenográfica, em Marabá, e bairros rurais serviram para locações de Pureza, que se completaram com cenas em Brasília, no Hospital das Forças Armadas, no Congresso Nacional e no Itamaraty.
Renato Barbieri, à frente de projeto de cinema, urdido por 11 anos, conta que Pureza foi essencial para a formação do grupo móvel, integrado a partir do Fórum Nacional de Combate à Violência no Campo, com intenso esforço da equipe da ex-secretária nacional de Fiscalização do Trabalho Ruth Vilela (papel de Walderez de Barros), há mais de 23 anos. “O grupo libertou mais de 52 mil pessoas, desde a criação”, comenta.
O filme ainda não tem data para lançamento, devendo primeiro ser apresentado em prêmios nacionais e internacionais. Há previsão, segundo os diretores, de ele ser apresentado primeiro em Marabá.
FONTE DE FINANCIAMENTO
Uma das principais fontes para financiamento do filme vieram de uma ação da Justiça Federal do Trabalho de Marabá, que multou a empresa Lima Araújo Agropecuária em R$ 6,6 milhões por prática de trabalho escravo. Ela foi aplicada pelo juiz Jonatas dos Santos Andrade.
A fiscalização nas fazendas Estrela de Alagoas e Estrela de Maceió, localizadas no município de Piçarra, nesta região, entre os anos de 1998 e 2002. Naquela época, 180 trabalhadores mantidos em condições precárias foram resgatados das fazendas e receberam indenizações. “Foi a maior condenação por trabalho escravo do Brasil naquela época, relembra o magistrado”.
Pureza recebe apoio de entidades voltadas para erradicação do trabalho escravo, entre elas a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) e a própria Justiça do Trabalho da 8ª Região, da qual o juiz Jonatas Andrade faz parte.