📅 Publicado em 20/11/2025 16h16
Em celebração ao Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, a Escola Estadual de Ensino Médio Integral “Dr. Gabriel Sales Pimenta”, localizada no Bairro de Morada Nova, em Marabá, sudeste do Pará, realizou nesta quinta-feira (20), o evento “Reexistência Negra: Africanidades, Memórias e Territórios” nas dependências da escola. A atividade mobilizou toda comunidade escolar, que reconheceu e valorizou os saberes ancestrais por meio de oficinas, arte, cultura, rituais e resistência. O corpo como território, a memória como herança e a educação como ferramenta de transformação marcaram esta jornada de pertencimento e empoderamento.

A programação começou no auditório da escola com o pedido de um minuto de silêncio pelo professor efetivo da rede pública estadual e coordenador do evento, Evandro Oliveira, em prol das vítimas negras mortas por questões raciais.
A vasta programação integrou conhecimentos tradicionais, arte, cultura e resistência, articulando oficinas internas desenvolvidas pelas turmas do Ensino Médio, abordando temas como: rituais de beleza e encantaria, plantas de cura, história oral do povo Gavião, contos dos orixás, hip-hop, produção de curta-metragem baseada no livro de Carolina Maria de Jesus (Quarto de Despejo), fotografia de terreiros, búzios, culinária quilombola, pintura corporal, teatro quilombado, entre outros saberes que reforçam o corpo como território de memória e pertencimento. Também aconteceram oficinas externas, com destaque para a Oficina de Turbante e Empoderamento da Mulher Negra (NEABI/UNIFESSPA). As paredes da escola ganharam outras cores e formas com pinturas afros e cheias de representatividades ancestrais.
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A festividade contou ainda com a presença especial da banda Baterazz – Marabá Jazz, que realizou sua apresentação como contrapartida social cultural, levando ao público a musicalidade afro-diaspórica do jazz. A atividade foi organizada pela equipe docente da Escola Dr. Gabriel Sales Pimenta, coordenado pelo professor Evandro Oliveira, onde os alunos foram os protagonistas de todas as oficinas e apresentações.
“O evento reafirma os princípios do respeito, da igualdade de oportunidades, da justiça racial e social e do antirracismo como caminho ético e pedagógico indispensável para a escola. Mais do que uma comemoração, este evento é um ato de resistência e valorização. Nossa proposta foi transformar a escola em um espaço de vivência, onde os saberes afro-indígenas fossem sentidos no corpo, na fala, na arte e na escuta. Acreditamos que educação antirracista se faz com presença, com escuta ativa e com o reconhecimento da potência ancestral que habita nossos territórios”, destacou o professor doutorando Evandro Oliveira, acrescentando que sua tese de doutorado, dialoga sobre o mesmo tema trabalhado no evento. Durante a programação do evento, alunos e professores declamaram poemas de autores locais e também consagrados, como Conceição Evaristo. Homenagens de reconhecimento pelo trabalho docente emocionaram o evento.

Protagonismo -A aluna do 2º ano do Ensino Médio, Beatriz Cardoso Coelho de 17 anos, realizou a apresentação da entidade Maria Mulambo, ligada às religiões de Umbanda e Quimbanda. A aluna cantou e contou a história da entidade, que é uma pomba-gira e trabalha em conjunto com os Exus.
“É uma história que nos toca, sobretudo porque temos uma sensibilidade, pois a história de Maria Mulambo representa a lida de quem passou muita dificuldade e que acredita na melhoria de vida. Durante minha apresentação, eu coloquei aqui o que já levo na minha vida, porque já frequento a religião. Foi importante para poder passar nossa cultura, religião e crença e abrir a mente de quem não tinha a visão correta, pois muitos pensam que Umbanda e terreiros se remetem ao demônio e a gente veio para provar o contrário”, conta ela.
Gestão- O diretor da escola, Fabrício Lima, considerou significativo o momento para instituição de ensino. “A programação da Consciência Negra foi construída com dedicação, sensibilidade e, principalmente, com o protagonismo dos nossos estudantes, que mostraram seu talento, suas vozes e o compromisso com a valorização da cultura afro-indígena. A escola se transforma quando o conhecimento é vivido, partilhado e respeitado em sua diversidade”, acrescenta o gestor.
Para o diretor da DRE (Diretoria Regional de Ensino), Magno Barros, celebrar a Consciência Negra dentro da escola é afirmar que educação é presença, memória e compromisso com a justiça. “Quando nossos estudantes ocupam esse espaço com arte, história, espiritualidade e verdade, eles não apenas aprendem: eles reexistem. E a escola cumpre sua missão mais nobre, formar sujeitos que reconhecem suas raízes, defendem a igualdade e entendem que a potência ancestral é parte viva do que somos e do que podemos nos tornar”, finaliza ele.

