📅 Publicado em 11/10/2025 16h00✏️ Atualizado em 11/10/2025 16h53
Quando o segundo domingo de outubro se aproxima, o coração de Rosa Lúcia Rocha Silva, de 55 anos, começa a bater mais forte. É como se um chamado ecoasse de longe, vindo das ruas cheias de promessas que conduzem inúmeros fiéis à Basílica de Nazaré, na capital. Para dona Rosa, o Círio de Belém é mais que uma celebração religiosa, é o cumprimento de uma promessa e o reencontro com a Mãe do Céu, que um dia lhe concedeu um milagre.
“Minha devoção por Nossa Senhora foi através de um milagre que eu pedi pela minha filha”, conta Rosa. Ao Correio, ela relembra que a filha estava doente e Nossa Senhora foi chamada para interceder junto a Jesus por sua cura.
Segundo a romeira, foi naquele momento que nasceu o voto que marcaria sua vida. “Eu prometi que, enquanto vida eu tivesse, eu faria essa caminhada a Belém”. E assim tem sido. Rosa conta que, há mais de dez anos, cumpre com devoção a promessa feita à Virgem de Nazaré.
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A cada mês de outubro, ela deixa sua casa em Marabá e segue rumo a Belém, movida pela fé e pela gratidão. Mesmo participando em Belém, dona Rosa compartilha que faz questão de viver o propósito também em Marabá.

UM CHAMADO QUE SE RENOVA
Para a professora aposentada, cada Círio é uma experiência única. “A cada ano que eu vou a Belém, é uma experiência diferente. Nossa Senhora não é só aquela imagem que passa na rua. Ela nos traz paz, alegria e firmeza. A gente caminha e não cansa: é devoção por devoção, milagre por milagre”, explica.
E mesmo diante de limitações físicas, ela não desiste. Este ano, vivenciar e pagar a promessa terá um peso ainda maior. “É um desafio chegar lá, porque estou com problema no joelho, mas é tudo com ela, tudo com Maria e nada sem Jesus”, diz, confiante.
Percorrendo pouco mais de 500 quilômetros, a jornada até Belém é longa e cansativa. Na viagem, Rosa leva apenas a vontade de pagar a promessa e o amor por ‘Nazinha’, que a protege com seu manto sagrado.
Rosa ainda revela algo que a faz sentir uma emoção ainda maior: ela é acolhida, há anos, por uma família que não é dela, mas que a escolheu como irmã em Cristo. “Eu não tenho família lá, mas já digo que tenho uma família de dez anos. Uma amiga abriu as portas da casa dela e agora faço parte do Círio dela também”, conta, emocionada.
A acolhida dos irmãos é, segundo ela, um dos milagres da tradição. “As pessoas são muito acolhedoras. Onde você anda, tem alguém oferecendo comida, um copo d’água, um sorriso”, compartilha.
“QUANDO ELA PASSA NA MINHA RUA, EU ME SINTO ABENÇOADA”
Questionada sobre existir uma diferença entre os dois Círios, Rosa prontamente tem a resposta. Em Marabá, sua devoção floresce nas ruas. “Em Belém, nós vamos atrás de ‘Nazinha’. Aqui, é ela que vem ao nosso encontro”, diz.
Para Rosa, quando a berlinda passa na sua rua, ela abençoa as casas e as famílias. “Recebo Nossa Senhora na minha porta, no meu bairro.” Anualmente, ela organiza altares, convida vizinhos e transforma sua casa em um pequeno santuário. “Eu recebo várias pessoas. Faço o altar, enfeito, preparo tudo”, revela.
Ela também compartilha que a imagem de Nossa Senhora tem um lugar especial em sua casa, e também no coração. “Ela está no meu cantinho, logo na entrada. Já tentei mudar de lugar, mas não dá certo, o espaço é dela”.
No canto da sala, de frente para uma janela, lá está ela. Ali, ‘Nazinha’ recebe as preces dos que passam pela rua. “A minha casa fica em frente a um posto de saúde, e as pessoas que passam ali já sabem que eu tenho a imagem. Vêm até a minha janela pedir ou agradecer milagres. Às vezes, eu chego e vejo alguém conversando com ela. Eu digo: pode continuar, eu sei que você está falando com Nossa Senhora”, conta.
“É MINHA MÃEZINHA”
Desde que perdeu a mãe, Rosa encontrou em Nossa Senhora o colo que nunca se fecha. “Nossa Senhora, para mim, é tudo. Hoje eu não tenho minha mãe presente, mas tenho a Mãe do Céu. Nos momentos difíceis, é a ela que recorro”.
Com o olhar sereno e as mãos abertas, Rosa fala da figura de Maria com a intimidade de quem conversa com uma amiga de longa data. A fé de Rosa Lúcia é feita de gestos simples, de promessa e oração. “Eu acredito que Nossa Senhora não recebe só as minhas angústias, mas também as das pessoas que passam na minha rua”.
Para ela, o Círio é mais do que uma procissão, é um abraço coletivo. Um tempo em que o amor e a fé se misturam, e em que cada lágrima derramada vira um novo pedido ou uma nova gratidão. “O Círio é um milagre que se renova. É a certeza de que Maria caminha conosco, em Belém, em Marabá, em qualquer lugar onde haja um coração disposto a crer”.
E assim, ano após ano, Rosa segue seu caminho. Com o terço nas mãos e firme na promessa, a cada ano reafirma o voto feito há mais de uma década: caminha rumo a Nossa Senhora. Porque, como ela mesma diz: “Tudo com Maria, nada sem Jesus”.