Dando continuidade à série de reportagens sobre o transporte público de Marabá, o CORREIO traz na edição deste sábado (10) uma matéria completa sobre o funcionamento dos coletivos na cidade. Para que isso fosse possível, a equipe embarcou em dois ônibus que rodam pelo município para sentir “na pele” a situação das centenas de pessoas que dependem deste meio de transporte e também ouvir dos próprios funcionários da empresa as situações vivenciadas dentro dos carros.
Eram 8h40 da última quinta-feira quando a equipe do Jornal subiu em um dos coletivos, no ponto em frente ao Shopping Pátio Marabá, na rodovia 230. O carro, que tinha como destino final o Bairro São Félix Pioneiro, estava com poucos passageiros, porém, alguns deles concordaram em conversar com a reportagem.
A primeira entrevistada foi uma estudante da Unifesspa, que pediu reserva do nome. Moradora do Bairro Quilometro Sete, ele diz que o serviço de transporte público é precário e não supre toda a necessidade dos usuários.
Leia mais:Informou que costuma esperar até 40 minutos por um carro que passe no ponto próximo à unidade dois da universidade. Com a passagem a R$3,20, a estudante conta que tem que planejar os gastos com o transporte e, por isso, faz uso do VT Card.
“Eu acho mais fácil, porque tenho o cartão desde o Ensino Médio e pago meia. Então já deixo o dinheiro separado para o mês no VT Card, evitando gastar o dinheiro com outras coisas”, revela. Para ela, a empresa que atua no ramo não dá mais conta do serviço, sendo necessário abrir as portas para a concorrência. “Porque aí uma empresa ficaria responsável por uns bairros e a outra faria linhas diferentes, e teria mais ônibus rodando”, opinou.
RECLAMAÇÕES
Quem também tinha queixas para fazer sobre o transporte era Manoel Fausto da Silva. O aposentado reclamou da falta de carros, falta de planejamento de horários e da demora. Ele, inclusive, chegou a questionar um fiscal da Rede de Transporte Coletivo de Marabá (RTCM) que estava dentro do ônibus, sobre a má qualidade do serviço prestado.
“Queria saber por que demora tanto? Por que passa ônibus para o São Félix, Morada Nova, Liberdade, e não passa para o Novo Horizonte. Outro dia fiquei duas horas esperando no ponto”, declarou.
À reportagem, ele chegou a dizer que os ônibus não veem limpeza há tempos, já que sempre estão tomados por sujeira ou pior, “quando chove os bancos permanecem tomados por água durante todo o dia”. Para o usuário, não só a empresa responsável pelos coletivos tem culpa neste cenário, já que é dever da Prefeitura de Marabá fiscalizar o serviço, exigir melhorias. Para Bárbara Alves, moradora do Residencial Tocantins, a gestão municipal também deveria ficar mais “atenta”.
Segundo ela, os governantes não se preocupam com situação dos coletivos, pois têm veículos próprios e não dependem dos ônibus. Para a dona de casa é preciso resolver de vez o fato de ter “muita gente para pouco ônibus”. Além disso, ela também se queixou dos motoristas e trocadores, que nem sempre são simpáticos com os usuários.
“Às vezes, você dá bom dia e eles nem respondem. E também, o meu marido está com a perna quebrada e, como a gente não tem condução própria, temos que usar o coletivo. E muitos motoristas se recusam a ligar o elevador para ele subir, fazendo entrar pela porta da frente do ônibus e passar pela roleta, sendo que ele está com muleta”.
Ela, que geralmente usa o meio de transporte de duas a três vezes por semana, observa que a população também precisa se adequar ao ambiente dos coletivos. “A gente vê pessoas sentadas nas cadeiras preferências, que não dão lugar para os idosos, pessoas com deficiência e com crianças”.
O fiscal que acompanhava toda a viagem e foi abordado pelo seu Manoel, também conversou com a reportagem. Djafar Silva de Souza contou que tem acompanhado algumas rotas para entender as necessidades dos usuários e identificar o que precisa ser melhorado nos coletivos.
Segundo ele, o quadro de horários dos ônibus vem sendo reformulado para diminuir os atrasos e garantir mais comodidade a quem faz uso dos carros todos os dias. Acrescentou também que dos 20 veículos novos que chegaram ao município, 16 já estão rodando. “E em maio será colocado para funcionar o terminal de integração”, confirmou.
MAIS QUEIXAS
Na segunda viagem, a equipe do CORREIO embarcou em um ônibus da linha Morada Nova – Bela Vista, que às 9 horas da manhã já estava bem cheio. Sem assentos suficientes, o repórter fotográfico e a jornalista fizeram tiveram que fazer como muitos outros passageiros, seguir todo o trecho em pé, de maneira totalmente desconfortável, já que o clima quente não contribuiu. A ventilação dentro do veículo era muito precária e as janelas abertas pareciam não dar conta de refrescar os passageiros.
A reportagem do CORREIO desembarcou na Marabá Pioneira, por onde o ônibus passa antes de seguir rumo à Cidade Nova, após uma hora de viagem. Mas não antes de conversar com a trocadora Rocileide Ferreira, responsável por trabalhar naquela rota.
A equipe quis compreender, a partir da fala dela, a vivência de quem trabalha no serviço de transporte coletivo. “A gente está à mercê da violência de passageiro, de bandido. Esse motorista mesmo já apanhou de criminoso”, narrou. Ela que trabalha das 5h25 às 12 horas, conta que já encontrou com todo perfil de usuário, do mais educado ao arrogante. “Mas existe muita gente boa”.
Plano de Mobilidade trata do transporte coletivo, diz secretário
Questionado sobre os planos da Prefeitura de Marabá para melhorar o serviço de transporte público, o secretário de Planejamento do município, Karam El Hajjar, garantiu que o Plano Municipal de Mobilidade trata da questão. “Nós trabalhamos ele no ano passado, e durante mais de sete, oito meses, fazendo reuniões com todos os setores e encaminhamos para a Câmara no primeiro semestre [de 2018]”.
O Projeto de Lei que institui o plano já foi votado em primeiro turno e segue pendente para votação em segundo turno, depois será encaminhado ao executivo para Prefeito sancioná-lo. “A partir daí começa-se a pensar na implantação do que está lá no plano”.
O transporte coletivo urbano, segundo o secretário, é tratado nos artigos 25 e 28 do documento, que trata também da regulamentação do serviço de transporte particular, como Uber, por exemplo. Karam disse também que algumas propostas do Plano de Mobilidade já começaram a ser implantada no município, a exemplo das paradas de ônibus.
“Nós já reformamos 30 paradas, fizemos 15 de concreto e já estamos construindo mais quatro e fizemos 30 metálicas. Estão sendo licitadas, para iniciar ano que vem, mais oito de concreto e mais 35 metálicas. Todas essas paradas de ônibus que foram reformadas e construídas, estão sendo feitas até com acessibilidade, tudo o que a lei determina”.
Terminal de integração
Uma das discussões mais antigas relacionadas ao transporte público voltou à tona durante a entrevista. Segundo El Hajjar, o tão falado Terminal de Integração será implantado no próximo ano. “A empresa nos procurou, até porque está previsto na concessão o terminal de integração, e chegamos a um consenso da área. A empresa vai construir o terminal, até porque é negócio para ela, é viável, a operação dela se torna mais rentável, que hoje é deficitária aqui em Marabá. E nós já estamos para encaminhar para o legislativo a autorização de concessão da área”.
O local escolhido para a construção do terminal foi o canteiro localizado na Avenida Verdes Mares, entre as Folhas 22 e 23. “O terminal de integração, acho que vai ser um grande passo para o transporte coletivo, até porque nós vamos melhorar o fluxo de veículos. Todas as rotas vão ser redimensionadas, tudo iniciando e acabando no terminal por um pagamento único”. Depois da aprovação da concessão do terreno na Câmara, a empresa dará início à construção e, segundo Karam, a estimativa é que o espaço fique pronto entre cinco e seis meses. (Nathália Viegas com informações de Chagas Filho)