Correio de Carajás

Robôs femininas sofrem com ofensas machistas, cantadas e até pedido de nude

O ano é 2020. Os seres humanos ainda não pilotam carros voadores, mas já temos um novo lançamento da sociedade patriarcal: o machismo contra robôs. É o chamado “assédio cibernético”. Sim, é verdade. O problema já é tão substancial que até a Organização das Nações Unidas entrou na luta para combatê-lo.

Se você ainda não notou, nós temos uma dezena de robôs à disposição.

No dia a dia, assistentes virtuais realizam tarefas domésticas e virtuais, como a Alexa, da Amazon, ou a Siri, criada pela Apple. Também existem bancos que usam inteligência artificial para agilizar o atendimento. Grandes empresas, como a Magazine Luiza e Natura, desenvolveram avatares virtuais para auxiliar nas compras e humanizar o atendimento.

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O que têm em comum? São robôs femininas. Por isso, são atacadas com comentários machistas, ordens misóginas e preconceito similar ao sofrido por mulheres de carne. Apesar disso, elas não são programadas para responder à altura.

Quando se ordena à Alexa para buscar uma cerveja, por exemplo, ela não manda o usuário levantar e pegar. Ao contrário, a voz lamenta. “Isso não é algo que eu possa fazer”, responde. Se fosse uma pessoa de carne e osso, provavelmente daria uma resposta menos educada.

Já a Lu, do Magazine Luiza, assistente digital criada para auxiliar em compras, gravou um vídeo para rebater às dezenas de pedidos de namoro. Não é incomum que ela receba comentários ainda menos lisonjeiros no Twitter e Facebook. Muitos deles desejam vê-la nua. Na rede, usuários compartilham dezenas de vídeos com insultos contra as inteligências artificiais.

Por que elas não dão respostas mais duras?

Segundo a Unesco, as respostas a essas provocações são tolerantes, subservientes e passivas. Para revertê-las, a instituição criou um banco de dados onde mulheres de verdade podem gravar e sugerir respostas mais adequadas às demandas. As sugestões da campanha “Hey, Update My Voice” (ou “Ei, Atualize Minha Voz”) serão encaminhadas às fabricantes.

“Se alguém falar ‘Quero fazer sexo com você’, a Alexa ou outra inteligência artificial poderia responder: ‘Não fale desse jeito! Eu sou virtual, mas assédio é um crime real. Você sabia que 73% das mulheres do todo mundo já sofreram algum assédio online?'”, sugere Inaiara Florência, diretora da agência criadora da campanha.

A escolha por vozes femininas se baseia em pesquisas internas das companhias, na qual voz feminina é eleita por usuários como mais amigável e confiável.

“Um questionamento é: por que para resolver tarefas domésticas, elas têm nome e voz de mulheres, e para assuntos de tecnologia tem nome e voz de homem, como o Watson, da IBM?”, diz Florência.

Ausência de homens

A desenvolvedora Thaís Lisboa é uma das criadoras da Isa.bot, robô que auxilia mulheres que foram vítimas de violência. A Cosmobots, empresa em que trabalha, já desenvolveu robôs que recebem de nudes a mensagens ofensivas.

Para buscar melhorar o cenário, Thais programou um emoji com olhinhos virados, em sinal de desaprovação. Para ela, a condescendência de outros robôs tem motivo: a ausência de mulheres no bastidor.

Múltiplos estudos apontam a ausência feminina no campo da programação, do desenvolvimento de produtos e da liderança de empresas de tecnologia. O Fórum Econômico Mundial estima que apenas 20% dos cargos do setor são ocupados por mulheres.

“Se tivessem mulheres liderando as grandes companhias de comunicação, pode ter certeza que não responderiam com uma brincadeirinha. Infelizmente, o comando é dos homens”, diz. (Fonte: Universa)